Defensores do meio ambiente e dos direitos humanos são perseguidos e assassinados num padrão sistemático da América Latina e do Caribe, uma das regiões mais letais para esses agentes. Essa realidade foi destaque na fala do arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino Americano e Caribenho (Celam) no painel dedicado ao tema “A vida está por um fio”, no pavilhão OEI – Ibero América Viva, durante a COP30.
Estiveram junto com dom Jaime o cardeal Felipe Neri Ferrão, presidente da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas (FABC); o cardeal Pedro Barreto, presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama) e Valquíria Lima, Cáritas Latina-América.

Em seu discurso, dom Jaime Spengler recordou que, em 10 de dezembro de 2024, há quase um ano, coincidindo com o Dia Internacional dos Direitos Humanos, foi lançada a campanha “A vida está por um fio”, cujo lema é: “Tecendo futuros, protegendo vidas”. A campanha é liderada pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), juntamente com a Plataforma Paz, Democracia e Direitos Humanos, da qual participam várias organizações eclesiais da América Latina e da Comunidade de Proteção Latino-Americana.
Esta campanha também conta com o apoio de dois organismos da Santa Sé: o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e a Pontifícia Comissão para a América Latina (PCAL).
O principal objetivo da campanha – destacou dom Jaime – é desenvolver diversas ações solidárias com os líderes que estão sendo ameaçados por seu trabalho em defesa dos direitos humanos e da “casa comum”.
“É uma questão de grande urgência, considerando, além disso, que muitas de suas vozes estão sendo silenciadas”.
Dom Jaime então citou o padre Marcelo Pérez Pérez, padre indígena do grupo étnico Tsotsil e da diocese de San Cristóbal de las Casas (México), assassinado em 20 de outubro de 2024 após celebrar a Eucaristia; e o caso do líder eclesial e ambiental Juan Antonio López, membro da Rede Eclesial Mesoamericana (Remam) da diocese de Trujillo (Honduras), assassinado em 14 de setembro de 2024 ao sair de uma igreja católica onde presidiu a celebração da Palavra.
A vida desses ministros e de tantos outros líderes “nos interpelam e nos mobilizam a levantar nossas vozes para que eles e tantas outras comunidades que zelam pela defesa dos direitos socioambientais e dos direitos humanos não continuem sendo vítimas da violência e de uma economia que mata, como costuma dizer o Papa Francisco”, afirmou dom Jaime.
Esses assassinatos, sublinhou o cardeal, “não são casos isolados, mas fazem parte de um padrão sistemático na América Latina e no Caribe, uma das regiões mais letais para os defensores do meio ambiente e dos direitos humanos”.

Defensores do meio ambiente em risco
De acordo com a Global Witness, entre 2012 e 2024, foram registrados 2.253 assassinatos e desaparecimentos de defensores do meio ambiente e do território em todo o mundo.
Concretamente, em 2024, pelo menos 146 pessoas tiveram esse destino, e 82% dos assassinatos de defensores ambientais ocorreram na América Latina e no Caribe, com um total de 117 pessoas, das quais 48 na Colômbia, o país com o maior número de homicídios do mundo pelo terceiro ano consecutivo.
Em segundo lugar, está a Guatemala, onde 20 defensores foram assassinados em 2024. Além disso, pelo menos mais 18 morreram no México e, no mínimo, 12 no Brasil. Nas Filipinas, foram registrados sete homicídios e, em Honduras e na Indonésia, cinco em cada um.
O presidente do CELAM e da CNBB evidenciou que não são números, são pessoas e comunidades em perigo, “vidas que estão por um fio”.
“É por isso que estamos aqui, para exortar que, juntos, como sociedade, tomemos as decisões necessárias para que seja possível a adaptação, mitigação e transição energética justas, bem como a transparência e a responsabilidade que nos cabem, tal como expusemos no documento “Um apelo pela Justiça Climática e pela Casa Comum” da Igreja Católica no Sul Global (América Latina, Ásia e África) que entregamos aos representantes das Nações Unidas, onde encorajamos a conversão ecológica, a transformação real e a resistência diante das falsas soluções”.
O cardeal Spengler concluiu dizendo que a vida do planeta está por um fio, assim como a dessas pessoas, verdadeiros mártires da nossa Casa Comum, que derramaram seu sangue pela defesa de seus territórios e pelo cuidado do planeta.
Com Silvonei José - Vatican News e fotos da Articulação da Igreja Católica na COP30




