A semente boa e o joio

    Com sua sabedoria insuperável Jesus vendo como o joio pode ser semeado no meio do mais belo trigal narrou uma parábola surpreendente (Mt 13,24-43).  O homem trabalhador semeou a boa semente, mas o inimigo na calada da noite lançou o joio. Jesus deixa uma mensagem de paciência, ou seja, deixar para extirpar o joio num momento oportuno a fim de não danificar o trigo a ser ceifado com prudência. Deixa então o Mestre divino uma lição de tolerância. Cumpre dar tempo ao tempo para que se evitem ações precipitadas que só poderiam gerar situações agravando os problemas diante dos erros alheios. Não se trata de admitir ações condenáveis, mas de uma conduta sábia para contornar faltas cometidas pelo próximo ou por si mesmo. Cortar o errado no momento certo, endireitando caminhos sem provocar transtornos prejudiciais. Nem sempre se vai ao cerne das questões e das ocorrências mais adversas. Há sempre uma atitude correta para se atingir um resultado plausível. O joio é bem o símbolo do mistério do mal diante do qual é preciso a compreensão de tudo, como falou São Paulo a Timóteo (2 Tm 2,7). Jesus explica donde vem o joio e mostra que o inimigo é quem o semeia, aproveitando-se das trevas noturnas, ou seja, dissimuladamente, porque o espírito mau é o pai da mentira. Dele provém todo tipo de tentação que leva para o caminho trevoso do pecado. O joio resulta da atuação do diabo, especialista em enganar os incautos. Jesus fala claramente a seus ouvintes e mostra que o mundo é desnorteado pelo Adversário, atravessado por influências nefastas. Aos Romanos são Paulo dizia: “Porque segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus, mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros (Rm 7, 22-23). É uma rude experiência que experimentaram também os santos. O bem, porém, é anterior ao mal. Eis porque São Pedro deixou esta advertência: “Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor de vós como um leão a rugir buscando a quem devorar”. Dá, porém, a solução: “Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos Irmãos no mundo (1 Pd 5,8-9). O fiel está deste modo advertido e fazendo de sua parte , orando, fugindo das ocasiões de pecado, confiando na graça divina, será sempre um triunfador. Os bons discípulos de Cristo representam a boa semente. Jesus se fez o Redentor e fortifica os que nele confiam e buscam as energias espirituais para vencer sempre os embustes de satanás. Quando, porém Cristo diz para não arrancar o joio, extirpando ao mesmo tempo o trigo Ele legou outro precioso ensinamento espiritual. Com efeito, a melhor maneira de evitar o mal ou fazer com que ele não prospere é praticar o bem. É o que São Paulo decodificou muito bem ao afirmar: “Não te deixes vencer pelo mal, sede vencedor do mal pelo bem” (Rm 12,23). Muitos com todas as suas forças cominam os erros, as imperfeições, os defeitos dos outros e até clamam contra os seus próprios desvios, mas se esquecem de Fazer amadurecer o bom grão em suas vidas. Cumpre, isto sim, vencer o mal com o bem, crescendo nas virtudes, perseverando nas veredas da Luz. A santidade consiste menos na eliminação das ações diabólicas do que no acolhimento sincero do amor de Deus. É preciso dar tempo para a conversão dos outros e para a própria conversão, tendo que conviver com tantas imperfeições, pois só Deus é perfeito. O processo de crescimento espiritual dura a vida toda de cada um nesta trajetória terrena. De tudo isto se deduz como é importante a paciência com as falhas próprias e alheias, não desanimando nunca perante as aliciações do mal com as quais o cristão tem que conviver, enquanto estiver nesta terra. Portanto não arrancar o joio não significa pactuar com o mal, ou deixar o campo livre ao demônio. Trata-se, isto sim, de se converter incessantemente para Deus e cultivar o bem na vida familiar, comunitária, profissional, fazendo florir a justiça, a retidão, a paz.

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