Uma das expectativas que põem em xeque a fé cristã e deixa inseguros muitos dos seus seguidores é a chamada fé escatológica, ou seja, a segunda vinda de Cristo. Para o mundo agnóstico, trata-se de mais uma das muitas esperanças vazias de conteúdo, diante da realidade de uma natureza atrelada ao ciclo mais lógico da vida: nascer, crescer e morrer. Já ao crente, aquele que vê a vida com maiores significações e visões além da realidade biológica, algo mais os aguarda. Dentre estas, a segunda vinda de Cristo. Diz o Creio, a profissão da fé cristã, quase um juramento que se faz publicamente, diante de um altar: “E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e seu reino não terá fim” (versão niceno-constantinopolitano).
A significação dessa esperança volta à tona periodicamente, em especial no período do Advento, quando as comunidades retomam o episódio do nascimento miraculoso de Belém. Um menino nasceu, a promessa se cumpre e Deus se humaniza, se faz um… O Messias chegou! Talvez seja exatamente pela grandiosidade desse mistério que a fé cristã oscile entre o desafio da aceitação pura e simples e a limitação da lógica que move o espírito e a realidade humana. Aqui reside mais que um mistério. Como entender e aceitar tão grande submissão divina à sua obra maior, sua imagem feita de carne e osso, sua semelhança de plenitude espiritual, que a Encarnação do Verbo nos trouxe? Se já aconteceu uma vez, por que não uma segunda, selando sua Promessa de Glória a Deus e Paz na Terra àqueles que acreditaram? Seria este seu reino definitivo.
Vivemos ainda o período desse aprendizado. A escola de Cristo continua seu discipulado, buscando seguidores e atraindo operários que estendam seu desafio “até os confins da terra”, antes que a prova final separe o bom pescado, purifique o trigo em ponto de vindima, estabeleça enfim uma nova etapa na obra criadora, aquela para a qual ainda nos preparamos e sequer imaginamos sua plenitude. “Portanto, ficai atentos”, alerta o próprio Jesus. Aqui está a motivação maior do ministério cristão no mundo, sua razão de ser, de atuar, de perseverar mesmo em confronto com todas as ciências e lógicas, todas as adversidades e teorias, todo o pragmatismo e materialismo que dominam a realidade humana. Tudo isso terá fim. À lógica e à prepotência que cerceiam a racionalidade se contrapõe a fé e a esperança. E esta não se verga quando atenta à realidade espiritual e aos mistérios que tentamos desvendar com nossa inteligência, mas cuja inviolabilidade só aumenta a consciência da insignificância humana diante de seu próprio mundo. Isso tanto biológica, como espiritualmente falando. Ou seja: donde viemos, para onde vamos?
Se nossa sabedoria não nos apresenta respostas claras para tais questões, quem somos nós para duvidarmos das promessas divinas? A encarnação, por si, já é um mistério. Um Deus feito homem não cabe na lógica materialista e casuística de tudo que nos cerca, mas na lógica da fé torna-se o mais natural dos eventos que só um Amor sem limites, – aquele que emana do coração de um Pai misericordioso – pode realizar. Se Deus já nos deu essa prova, porque não acreditar na prova definitiva? “Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do homem virá” (Mt 24,44). A segunda vinda de Cristo não é apenas e tão somente uma questão de fé, mas uma lógica que justifica essa fé. Talvez até uma teoria evolucionista, criacionista, mas que a própria ciência considera plausível diante da inevitável e inquestionável evolução que nos trouxe até aqui. Por que não avançarmos um pouquinho mais, agora no campo espiritual? Então, vinde Senhor Jesus!