Um padre é obrigado a alguma forma de obediência? Se sim, a quem ele deveria obedecer?
Antes de chegar a algumas especificidades sobre a obediência do sacerdote, vamos situá-la no quadro geral da vida cristã. Hoje em dia, certas palavras ou conceitos despertam desconfiança e até repulsa. É, sem dúvida, o caso da obediência, que se supõe ser um obstáculo à plena liberdade. Até porque obediência está necessariamente associada a outra palavra perturbadora: autoridade.
Se nos referirmos, em primeiro lugar, à etimologia, essas palavras não evocam, porém, nenhum servilismo. Pelo contrário, quem obedece (ob-audire = ouvir) presta ouvidos atentos a quem tem autoridade sobre ele (auctoritas = crescer, aumentar), isto é, a quem é responsável por fazê-lo crescer. É como um contrato de confiança, um compromisso recíproco e, portanto, um ato eminentemente livre!
Obediência, um conselho evangélico
Para o cristão, a questão da obediência assume um caráter particularmente importante, a ponto de fazer dela um dos três famosos conselhos evangélicos: pobreza, castidade e obediência. Esses três conselhos evangélicos são formalizados pelos três votos pronunciados pelos religiosos, mas não são reservados a eles (os votos sim, os conselhos não).
Todo cristão se esforça para seguir o Cristo pobre, puro e obediente. Pois é, de fato, a obediência a Cristo que ordena a obediência do cristão. Devemos considerar a desobediência – e não a obediência – como a causa e a origem de todos os nossos males. Com efeito, “pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores” (Rm 5,19). A culpa original de Adão, qualificada como desobediência, levou toda a humanidade à revolta contra Deus, eles se fecharam em sua desobediência, feitos escravos do pecado.
Por outro lado, é pela obediência de seu Filho que Deus deseja mostrar misericórdia a todos: “assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos” (Rm 5,19). Com efeito, o Filho de Deus “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens” (Fl 2, 7-8). Essa aniquilação procede de um ato perfeitamente livre e até amoroso: “Eis que eu venho. No rolo do livro está escrito de mim: fazer vossa vontade, meu Deus, é o que me agrada, porque vossa Lei está no íntimo de meu coração” (Sl 39-40).
Essa obediência do Filho culmina na sua Paixão: “Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua” (Lc 22, 42).
A promessa de viver em comunhão com seu bispo
Se a obediência de Jesus é tão central para a nossa salvação, é claro que um filho de Deus deve torná-la sua e tornar-se obediente à imagem do Filho. Porque se “até o vento e o mar lhe obedecem” (Mc 4, 41), e nós?
Como todos os batizados, o sacerdote é obrigado a observar esta obediência evangélica. Além disso, através da ordenação sacerdotal, o sacerdote configura-se de modo muito particular a Cristo e oferece-se, assim, numa obediência mais específica.
O sacerdote reconhece antes de tudo que a obediência de Cristo é uma obediência de tipo sacerdotal.
A obediência, portanto, está no centro da vida do sacerdote, e também no centro dos ritos da ordenação sacerdotal. Expressa-se em particular pela promessa de viver em comunhão com o seu bispo, no respeito e na obediência. Tal promessa é acompanhada por um gesto particularmente eloquente, pois o ordinando a faz de joelhos, com as mãos unidas às mãos do bispo.
Uma obediência particular
A partir de então, a obediência do sacerdote apresenta algumas características particulares. Na exortação apostólica Pastores dabo vobis (n. 28), o Papa São João Paulo II especifica que essa é, antes de tudo, uma obediência “apostólica”. Ou seja, o sacerdote reconhece, ama e serve a Igreja na sua estrutura hierárquica.
Um padre sempre recebe sua missão de um bispo e é obrigado a prestar contas a ele. É essa obediência primordial que permite ao próprio sacerdote exercer a autoridade na Igreja. Essa obediência está, portanto, ao serviço da unidade do povo de Deus que tem um só Pastor, Cristo.
Assim, a obediência do sacerdote apresenta uma exigência de “comunidade e solidariedade”. Neste sentido, tem como perspectiva não só a comunhão individual com o bispo, mas também a unidade de toda a comunidade chamada a viver em cordial colaboração com o bispo e, por meio dele, com o Papa.
Finalmente, São João Paulo II qualifica a obediência sacerdotal como “pastoral”. Ou seja: o sacerdote escuta docilmente as necessidades do rebanho a ele confiado, para fazê-lo crescer em Cristo, alimentando-o com o Evangelho. Nesta obediência, o sacerdote, seguindo Cristo, torna-se também alimento para o povo de Deus.