Quem nunca viu partir um parente, um amigo, um irmão de fé, camarada? Até Cristo chorou pela morte de um amigo. A dor da morte é um sentimento inexplicável, que todos um dia experimentamos, que rejeitamos sempre pois nunca estamos devidamente preparados para perdas em nossas vidas. Então é isso: rejeitamos a morte e ponto.
Mas como lidar com essa realidade, quando bem o sabemos ser inevitável esse momento? Se Cristo chorou diante da morte, o que se dirá de nós, simples mortais. A diferença está na perspectiva da nossa visão limitada, quando o mestre dos mistérios celestes falava de ressurreição; mais ainda, se dizia Ele próprio ser “a ressurreição e a vida”. Assim, só é possível compreender e justificar o choro de Cristo como uma atitude de piedade, quase frustração diante da limitada visão humana sobre a única certeza que aqui temos: dessa ninguém escapa!
Quem se acerca de Cristo e de suas Palavras, busca respostas que não existem na lógica terrena. É Ele o único mediador entre os mistérios celestes e a realidade terrena, fontes de nossa esperança e causa de nossas aflições, nosso demasiado apego ao que sentimos, vemos, tocamos… A certeza de ser ouvido é tudo em Cristo: “Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas (Jo 27, 41-42)”. A dúvida não está em Jesus, mas no povo que o rodeia, que necessita de milagres, de sinais fora da lógica e da realidade “que cheira mal”, que aterroriza e dilacera nossos corações. Quem assim não procede diante da morte? Mas, na perspectiva de Jesus, ela é apenas circunstancial, tão passageira quanto a vida que tanto prezamos. “Então Jesus lhes disse: ‘Desatai-o e deixai-o caminhar’. Talvez seja esta a afirmativa mais reveladora da morte de Lázaro, o amigo “que Jesus amava”… É preciso que desatemos os nós que nos impedem de uma caminhada maior, uma visão mais ampla da realidade que aqui ocupamos. A vida não pode ser um quadrante limitado por alguns anos, rápidos e fugazes, que nos permitem pensar, sonhar e morrer na praia. Não dá para entender a vida como tão simples e passageira. Isso é muito pouco.
Para se alcançar uma segunda chance de vida, mesmo diante da realidade que nos cerca, é preciso solidificar nossos laços de amor fraternal, familiar, social, ou seja, construir a sonhada fraternidade, o sentimento de solidariedade que nos identifica como raça única nesse Universo de mistérios. A vida é passageira? É, não podemos negar. Mas a morte ainda é uma ilustre desconhecida, da qual não podemos fugir. O fato é que na casa de Betânia a amizade com Cristo fez a diferença. Mesmo que o cenário de desolação, a dor da perda e a putrefação da esperança dominassem a realidade, a presença de Jesus recobraria os sinais de uma vida nova, os laços de amor e amizade que os uniam. Essa presença justifica nossa esperança.
Diante da realidade da morte e da promessa de vida nova que a fé em Cristo nos oferece, fico com a segunda possibilidade. Afinal, sua vida e extremado amor por aqueles que dele se acercaram foi prova de uma amizade sem limites. Uma amizade capaz de dar a vida, de sofrer pela perspectiva da morte, mas tudo superar na glória da ressurreição. “Coragem, eu venci o mundo”! diria Jesus.
- Esse artigo dedico ao sobrinho Carlos Negrão Bizzoto, que faleceu nesta semana, vencido por um câncer, mas vitorioso pela perspectiva de vida nova em Cristo.