Coube ao Papa São João Paulo II fazer deste segundo domingo da Páscoa o domingo da Misericórdia divina (Jo 20,19- 31). Se é verdade que esta misericórdia sempre esteve no centro do mistério cristão, a canonização no ano de 2000 da Irmã Faustina Kowalska trouxe a lume a urgência de se implorar o dom desta comiseração em nosso mundo marcado por tantas tragédias. Asseverou a citada santa “que a humanidade não encontrará a paz enquanto ela não se dirigir com confiança à misericórdia divina”. O Papa sublinhou que a clemência divina nos ajuda a enfrentar três grandes dificuldade que deparamos na nossa vida cristã. A primeira dificuldade é compreender plenamente o mistério pascal sobretudo o da ressurreição, Com efeito, muitos cristãos são tentados a seguir o apóstolo Tomé dizendo: “Se eu não vir, eu não acreditarei”! Cada um de nós recorda esta experiência a partir do Evangelho de hoje. Nossa incredulidade, contudo, surge por causa de uma postura errônea, pois queremos abordar a verdade revelada antes de fazer nela um ato de fé, Devemos pedir como os Apóstolos “Senhor, aumenta a nossa fé” (Lc 17,5). O encontro entre Jesus e Tomé narrado no Evangelho de hoje manifesta o dom da misericórdia divina que permitiu ao Apóstolo uma atitude correta. Depois de ser convidado por Cristo a colocar seu dedo nas suas chagas e sua mão no seu lado transpassado, Tomé entrou na plenitude da confissão de uma fé sincera dizendo: “Meu Senhor e meu Deus”. Confessando a humanidade e a divindade de Jesus, Tomé não admitiu somente o que viu, mas também o que ele acreditou. “Bem-aventurados, porém, os que não viram e creram. ”Santo Agostinho deixou então esta reflexão: “É preciso crer para compreender, mas a partir daí é necessário compreender para crer”. A segunda dificuldade apontada pelo Papa é descobrir que não é fácil viver como cristão. Muitos têm o desejo de poder chegar à ressurreição gloriosa, mas se esquecem que cumpre passar pela cruz, como ocorreu com Jesus. Ele foi claro:” Se alguém quer vir após mim, tome a sua cruz e siga-me”. São Pedro evoca esta dimensão falando do dom da fé que abre a uma bela esperança, mas também aos desgostos. Diz ele: “Por isto exultais, embora sofrendo um pouco por hora, se necessário, diversas provações, para que a genuinidade de vossa fé, muito mais estimável do que o ouro que, apesar de efêmero, acrisola-se pelo fogo, resulta digna de louvor, de glória e de honra, quando aparecer Jesus Cristo (1Pd 1, 6-8). Trata-se, realmente, de uma absoluta fidúcia no Senhor Onipotente. Vemos no Evangelho de hoje que Jesus é sumamente paciente com seus discípulos tão lentos em crer, uma vez que os escolhe de novo e os envia em missão: “Assim como o Pai me enviou eu vos envio”. Soprou sobre eles o Espírito Santo e fez deles os fundamentos da Igreja e da presença da clemência divina. Ser fiel a esta vocação leva a descobrir o mistério do sofrimento. Uma mensagem universal, pois a vereda do padecimento e do silêncio é importante para o seguidor do Ressuscitado. Entretanto, a terceira dificuldade encontrada na vida do cristão não é menos importante. Esta dificuldade surge na nossa maneira de responder a essa questão: “Tudo isto, no fundo, não é muito belo para ser verdadeiro?” Responder a isto corretamente é entrar maravilhosamente no dom da indulgência divina. Jesus, convidando Tomé a tocar suas chagas e seu lado aberto pela lança, não se contentou em lhe mostrar a realidade de sua ressurreição, mas o levou a entrar numa contemplação mais profunda. O Sagrado Coração de Jesus é verdadeiramente uma fonte inesgotável de luz e de verdade, de amor e de perdão, conduzindo à verdadeira vida, a vida eterna. Eis aí a sublime verdade, ou seja, Jesus não cessa de querer que partilhemos sua imensa dileção. Deus quer que imensamente O amemos, lembra São João Paulo II, a fim de nos fazer entrar na vida verdadeira, Ele faz de nós pobres pecadores os convidados ao festim das bodas do Cordeiro. Cumpre então procurar, acima de tudo e sobretudo, conhecer Jesus Cristo presente em nós e no meio de nós que devemos acolher maravilhosamente suas superabundantes graças, fontes da verdadeira luz, e levar a muitos à participar destes eflúvios da misericórdia divina. A divina misericórdia favorece, deste modo, maravilhosamente, a abertura à alegria e à esperança desse tempo pascal. Isto porque a divina misericórdia não é somente uma lembrança, mas deve ser uma norma de vida Deve guiar nossa existência de cristãos que confiamos estar em harmonia com o Coração de Cristo “rico em misericórdia.