A lei das probabilidades

    Dizem que um raio nuca cai no mesmo lugar. Não estarei lá para comprovar. O fato é que a casualidade existe e muitos fatos aí estão, ora premiando, ora punindo este ou aquele. O que se diria daquele cidadão que, caminhando à margem de uma rodovia, é atingido por um pneu saltitante, que se desprendeu de um veículo? Ou daquele pobre bovino pastando tranquilamente, que morre atropelado por um avião? Ou do cidadão que entra distraidamente em uma loja e é premiado por ser o milionésimo freguês, o feliz ganhador de uma promoção eventual?
    A lei das probabilidades faz parte dos acasos da vida. Você, por exemplo, é alguém nesta história, porque um espermatozóide, entre milhões, conseguiu vencer e ganhar a existência. Sua luta pela sobrevivência, no entanto, no entanto, tem a participação de mais indivíduos, pois ninguém vence sozinho. Há uma corrente geradora de vida, um círculo de forças positivas que torceram e torcem por você, seus pais. Em especial, sua mãe. Não fosse a aceitação materna, o acolhimento intra-uterino que um dia ela lhe fez, você nada seria. Mesmo com as remotas probabilidades de ser você o vencedor, você veio ao mundo por graça e consentimento daquela que o gerou.
    Tal foco da maternidade humana é o mais primário dos tributos que qualquer filho ou filha, obrigatoriamente e até inconscientemente, devem ao milagre da maternidade. Filhos que rejeitem ou ignorem essa dádiva de gratidão às suas mães, infelizes! – jogam com uma probabilidade certeira de desgraças na vida, pois que a estes é fechada a porta da piedade divina. Talvez uma imagem seja mais ilustrativa. Você conhece ou já ouviu falar de Pietá, uma obra prima de Michelangelo?
    A imagem da Mãe, com seu filho morto nos braços, olhar terno e condoído, porém sereno e piedoso como na entrega de um sacrifício além de suas forças e sonhos, é a reprodução mais que perfeita de muitas mães dos dias atuais. Apesar de morto, o filho ainda merece seu colo. Apesar de vencido pelas maldições humanas, o filho inerte e derrotado ainda encontra um colo que o ampare. Ali estava o Cristo morto, entregue àquela que lhe dera a vida! Logo mais iria ressurgir, na vitória definitiva de sua aventura terrena. Quantos filhos hoje jazem em colos maternos, mesmo que figuradamente, sem perceberem que poderão vencer uma aparente derrota… Quantas mães, como Maria, olham entristecidas para a derrota de seus filhos!
    Também há aqueles órfãos na vida, alguns até órfãos de mães vivas. Triste realidade. A esses recomendo o colo da Mãe Pietá, porém não vencidos ou derrotados pela dor da orfandade, mas bem vivos, para perceberem o quão aconchegante é seu peito e quão fortes são seus braços, capazes de superar a abissal angústia de qualquer filho e filha amados por ela.
    Já você que ainda possui o privilégio da convivência materna é hora de reavaliar esse tesouro em sua vida. Dizem que quem tem não dá valor. Seria seu caso? Pois a mesma sabedoria do povo ainda nos diz: Amor, só de mãe! Por mais intrigante que seja esse sentimento humano, cujos vínculos constroem a afetividade, o respeito, a comunhão, o amor materno está acima de qualquer probabilidade de avaliação, e imensurável. Em coração de mãe cabem todos. Mesmo que o mundo desabe sobre sua cabeça, que a estrada da vida lhe surpreenda acidentalmente, que sua existência cômoda e vegetativa seja atropelada por uma fatalidade qualquer, lembre-se: a casa materna é capaz de acolhê-lo sempre e promover sua vida sem cobrança alguma.