O Papa Francisco, na oração precedida do Angelus, na Praça de São Pedro (25/10/2015), referiu-se à XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (de 4 a 25 de outubro de 2015), com o tema da Família, considerando ter sido um “trabalho intenso, animado pela oração e por um espírito de verdadeira comunhão”, asseverando que a palavra “Sínodo” significa “caminhar juntos”, que o sonho de Deus é o de formar um povo onde cabem todas as famílias, povo santo de Deus disperso por todo o mundo. Indicou o caminho de discernimento, diante dos valores do matrimônio e da família, como resposta ao individualismo, no desejo de estender a comunhão a todos e que esta seja mais bem compreendida e vivida a partir da fé em Jesus de Nazaré, numa proximidade sempre maior do exercício da misericórdia, afastando-se do rigorismo moral e condenatória.
Aprendamos, pois, com as palavras encantadoras do Sucessor de Pedro a sermos cada vez mais humildes, colocando-nos no lugar de criaturas e de filhos de Deus, na certeza de que a luta e o sonho de uma Igreja, família humana, misericordiosa e inclusiva, que transcende qualquer arquétipo ou medida, nas palavras de Santo Agostinho, que aqui nos valemos: “A medida do amor é amar sem medida”. Ao falar da família como um todo, o Bispo de Roma não se esqueceu das “famílias mais sofredoras, desenraizadas das suas terras, que estiveram presentes conosco no Sínodo, na nossa oração e nos nossos trabalhos, através da voz de alguns dos seus Pastores presentes na Assembleia. Essas pessoas à procura da dignidade, essas famílias à procura de paz ficam ainda conosco, a Igreja não as abandona, porque fazem parte do povo que Deus quer libertar da escravidão e guiar para a liberdade”, declarando solidariedade à realidade dolorosa dos refugiados na Europa, antes da oração mariana.
A mensagem corajosa e profética do Santo Padre, o Papa Francisco, no final da Assembleia (Sínodo), que durou três semanas, pela qual o mundo dos cristãos católicos elevou fervorosas preces, nos agradecimentos e alguns tópicos, faz-nos pensar: “Agradeço a todos vós, amados padres sinodais, delegados fraternos, auditores, auditoras e conselheiros, párocos e famílias pela vossa ativa e frutuosa participação. Agradeço ainda a todas as pessoas que se empenharam, de forma anônima e em silêncio, prestando a sua generosa contribuição para os trabalhos deste Sínodo”. O Augusto Pontífice disse mais: “Seguramente não significa que encontramos soluções exaustivas para todas as dificuldades e dúvidas que desafiam e ameaçam a família, mas que colocamos tais dificuldades e dúvidas sob a luz da Fé, examinamo-las cuidadosamente, abordamo-las sem medo e sem esconder a cabeça na areia”.
Entre os itens da sua referida mensagem, na conclusão da Assembleia Sinodal, disse: “Significa que escutamos e fizemos escutar as vozes das famílias e dos pastores da Igreja que vieram a Roma carregando sobre os ombros os fardos e as esperanças, as riquezas e os desafios das famílias do mundo inteiro. Significa que demos provas da vitalidade da Igreja Católica, que não tem medo de abalar as consciências anestesiadas ou de sujar as mãos discutindo, animada e francamente, sobre a família”. O Sumo Pontífice alhures falou: “Sem perdão a família adoece. O perdão é a assepsia da alma, a faxina da mente e a alforria do coração. Quem não perdoa não tem paz na alma nem comunhão com Deus. A mágoa é um veneno que intoxica e mata. Guardar mágoa no coração é um gesto autodestrutivo. É autofagia. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente”.
Sinais de esperança para a plena reintegração à Igreja de alguns católicos que se divorciaram e se casaram novamente em cerimônias civis; única maneira para que esses católicos possam se casar novamente é pela declaração de nulidade. Temos, evidentemente, o chamado “foro íntimo”, em que cabem aqueles estão à frente do povo, os sacerdotes em geral, ou os bispos, acompanhar com misericórdia os católicos que se divorciaram e casaram-se novamente, vendo caso a caso, se ele ou ela pode ser totalmente reintegrado, tudo a partir do comprovado amor aos ensinamentos da Igreja, como garantia de uma busca sincera da vontade de Deus, sem se afastar do ensinamento da Igreja. É claro que se os ministros da Igreja estiverem imbuídos da mais profunda caridade cristã, pelo exercício do perdão, sempre terão algo a oferecer-lhes, de um modo indizível, em nome da mãe Igreja.
Esse espírito ele desejou ardentemente para todo o resultado exaustivo do Sínodo sobre a família, revelando que a Assembleia decidiu evitar uma linguagem abertamente marcada pela controvérsia e procurou buscar o consenso, a fim de evitar impasse sobre os temas mais sensíveis, deixando para o Papa lidar com os detalhes. Já que a medida do amor é amar sem medida, Francisco foi contundente nas seguintes expressões: “sem medo, sem enterrar nossas cabeças na areia”; “às vezes incrustadas em uma linguagem que é arcaica ou simplesmente incompreensível”; “Uma reflexão sincera pode reforçar a misericórdia de Deus, que não é negada a ninguém”. E no final da mensagem: “Na verdade, para a Igreja encerrar o Sínodo, significa voltar realmente a ‘caminhar juntos’ para levar a toda a parte do mundo, a cada diocese, a cada comunidade e a cada situação, a luz do Evangelho, o abraço da Igreja e o apoio da misericórdia de Deus!”. Assim seja!