O encontro cultural entre um sacerdote e professor francês e seus alunos chineses
“Moisés ou a China?”, pergunta Blaise Pascal. “Quem é mais credível?”.
Não é questão de indagar quem está certo, entre Moisés e os chineses, sobre os primeiros eventos da história do mundo; trata-se de um dos mais profundos diálogos de todos os tempos entre o cristianismo e uma cultura não bíblica.
Proponho mudar uma palavra da questão para entendermos hoje toda a sua força: “Moisés e a China?”. Afinal, não se trata de uma disjuntiva, mas de um encontro.
Eu não sou sinólogo e a minha recente estada de três meses em Xangai como professor de filosofia não me confere qualquer título para falar com autoridade sobre a China. Eu sou um sacerdote católico, professor de filosofia e teologia, que aprendeu a transmitir a fé aos jovens de hoje ouvindo a voz do Espírito Santo na experiência e no conhecimento dos profissionais de todas as procedências.
A minha experiência de vida e de ensino entre jovens estudantes e professores chineses me abriu os olhos para algumas realidades bastante negligenciadas nos países ocidentais – quando não ignoradas, inclusive pelo público mais culto.
A China geriu de formas diferentes, no passado, as suas relações com o Ocidente, às vezes fechando-se, às vezes submetendo-se ao seu domínio industrial e militar. Hoje, o que precisa ser vivido é um encontro verdadeiro. O mundo foi moldado, nos âmbitos cultural, político e econômico, por quem viveu antes de nós, e a história recente nos mostra que precisamos nos abrir ao mundo para dar a nossa contribuição.
Os estudantes da elite de Xangai já pertencem a muitos mundos diferentes simultaneamente: eles passam um ou dois anos no exterior para fazer algum mestrado ou doutorado e trilham com antecedência o caminho que as universidades das outras megalópoles chinesas vão trilhar mais cedo ou mais tarde.
Como foi que eu pude dar aulas a alunos de quem tudo parece me separar – o passado, o presente e o futuro? Os nossos países parecem tão cansados de se esforçar, tão temerosos de enfrentar o desconhecido e de viver o futuro…
No entanto, ao pensar sobre as fronteiras da Igreja e da sociedade contemporânea, podemos descobrir problemas e caminhos de reflexão que não são específicos de uma cultura, mas de todas as culturas quando postas à prova pelas mudanças tecnológicas e pela globalização.
Mais do que uma cultura internacionalizada, o que vem crescendo é uma internacionalização das questões: das questões cuja profundidade humana é quase transcultural, por causa da importância das mudanças já em andamento.
A globalização é, antes de tudo, uma globalização das questões antropológicas. De nada adianta lamentar as dificuldades presentes: temos de encarar o seu caráter global e criar redes úteis de encontro e de conhecimento.
Parece-me vital que a Igreja seja consciente disto, assim como é vital a consciência dos líderes do mundo laico.
Fonte: Aleteia