A ESTRELA DE DAVI

             Símbolos e números cabalísticos foram sempre associados a crenças e superstições místicas. A própria cabala, conjunto de ensinamentos exotéricos de origem judaica, constitui ainda hoje uma das mais conhecidas doutrinas contrárias aos ensinamentos e pensamentos cristãos ou, no mínimo, à coerência com sua fé. Dentro desse simbolismo se insere a estrela de Davi, pentagrama de seis pontas a formar uma bela e harmoniosa estrela. Curiosamente, é um dos primeiros símbolos bíblicos a se referir ao Messias, o Filho de Deus.

              Para melhor entender o que está por traz dessa estrela misteriosa, vamos por parte. Ainda no livro de Números, um dos primeiros livros sagrados, encontramos uma profecia a anunciar essa estrela. “Um astro sai de Jacó, um cetro levanta-se de Israel” (24,17). Muitos exegetas veem aqui o anuncio do reinado de Davi, que tomou sobre si o simbolismo da estrela de seis pontas. A razão não se sabe, mas a especulação diz que, estando em guerra, Davi se protegeu com restos de couro ressequido de animais, em forma de triângulos, fazendo com eles um escudo improvisado, sobrepostos descuidadamente, mas que bem lembrou o desenho de uma estrela. Seu povo reconheceu nesse escudo um símbolo providencial. Assim venceu muitos dos inimigos. O escudo de Davi tornou-se símbolo de um reinado vitorioso.

              Mas a mesma citação bíblica atribui essa profecia ao Cristo Jesus, “o astro que sai de Jacó” e vem libertar seu povo dos grilhões do pecado e das maldições. Não só Davi seria o protegido de Deus, mas “sua descendência para sempre” (2 Sam 22,51), até que se cumprissem as promessas. “Sim, minha dinastia é estável diante de Deus; Ele fez comigo aliança eterna, a ser observada com absoluta fidelidade”, foram as últimas palavras do grande rei de Israel. (2 Sam 23,5). A estrela de Davi só cumpriria seu destino naquela noite de Belém. Onde se encontrava o grande rei dos judeus? “Vimos  a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2). Essa foi a mais estupenda das descobertas daqueles que representavam o poder humano em todos os seus quadrantes. Uma estrela lhes apontou o milagre, “um cetro que se levantou de Israel”.

              Então, é sagrado ou profano o simbolismo da estrela de Israel? Um cristão poderá usá-la sem cair em contradição de fé? O povo judeu não se apropriou indevidamente desse símbolo? O nazismo, o ocultismo, as crenças exotéricas? Como vemos, um símbolo tem sua história, beleza ou significações das mais diversas, ao qual se dá a importância ou reverência que melhor aprouver aos que o usam. A própria estrela de Davi aponta para o gênero humano em sua dualidade masculina e feminina, para lhe exaltar a fertilidade como bênção dos céus. Também aponta para o norte e para o sul, lembrando-nos a mística humana e sua crença no céu e no inferno. Não só guerra, não só poder, não só matéria… (ou espírito), mas toda realidade da vida está centrada nas palavras daquele que um dia ensinou: a verdadeira fé não está nas coisas, mas na pessoa de Jesus. “E as coisas que ajuntastes, de quem serão?” (Lc 12.20).

              Noutras palavras: Porque nos apegamos tanto aos nossos simbolismos, ritos e crenças quando o que nos salvará está oculto em nosso coração, embrulhado em nossos mais nobres sentimentos de solidariedade, fraternidade, amor sem medo, sem preconceitos, sem limites? Uma estrela brilha nas nossas noites. De insônia ou de paixão. Há sempre uma estrela. Seja mística ou simples guia. Ela brilha. Anuncia. Mas a fé, esta incendeia um coração predisposto a ela. Pois “a fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. Foi ela que fez a glória dos nossos antepassados” (Heb 11,1-2). De Davi também.

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