O verdadeiro cristão é aquele que tende para a integralidade e integridade através da pratica das virtudes numa contínua conversão do coração para Deus. Está na terra, mas não se prende a este mundo terreno, pois cultiva uma virtuosa sujeição a seu Senhor. A fé não nega a vida terrestre, mas a transforma, orientando-a para o céu. Quem cré na vida eterna não se escraviza às paixões deletérias e não se submete à ambição do poder. Procura consagrar a Cristo tudo que tem, tudo que é, sempre maleável à graça divina, sabedor que em Jesus está sua vida. Vive na alegria de pertencer a seu Redentor, carregando atrás dele a cruz de cada dia, ciente que deve ser um cruciferário. Isto porque sabe ouvir a Palavra revelada e, persistentemente, a praticar não à maneira humana, mas sob a luz da Verdade eterna. Seu lema é crer, esperar e amar a Deus e ao próximo. A fé submete a inteligência a tudo que Deus transmitiu através da revelação, a esperança repele toda inquietação o amor o faz entrar em comunhão com Deus e com próximo, derrubando toda barreira divisória. Para o justo Deus é o Deus de toda santidade e também o Deus misericordioso, mas que exige o cumprimento integral do dever cotidiano, agindo cada um sempre com retidão e responsabilidade. É preciso no mais fugitivo instante da vida, no mínimo de seus objetos contemplar o Infinito e o Eterno. A cada passo é necessária uma resposta ao Criador de tudo. Ele nos fala por meio da natureza, dos homens, de nós mesmos, de tudo quanto existe. É ter olhos para ver e ouvidos para escutar. Lá onde Deus colocou cada um cumpre a adaptação ao plano de vida tal como Ele determinou, correspondendo às graças que Ele não nega nunca a quem procura executar do melhor modo possível os compromissos inerentes a seu estado de vida. Aí se encontra o conjunto das ocasiões para bem viver, desenvolver e enriquecer a própria existência. É essencial estar no lugar que se deve ocupar neste mundo e desempenhar com todo empenho as tarefas diárias. Como mostrou o douto Pe. Sertillanges, essas ações que, muitas vezes, só são conhecidas por Deus rescendem diante dele como diante do caminhante o prado fresco de relvas sem perfume. Perante Deus o que vale não o quanto cada um faz, mas como o faz. O que valoriza o trabalho de cada hora é o testemunho da consciência, que é um tribunal supremo, que aplaude o dever bem realizado. As obrigações sérias realizam-se no silêncio sem o anseio de aclamações humanas. Quando, porém, alguém faz o que deve, é preciso dizer como ensinou Jesus: “Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer” (Lc 17,10). Planos ambiciosos são quase sempre nefastos. O essencial em tudo é o abandono filial à vontade divina, adaptando-se aos desígnios de sua Providência. Então o dever se torna uma árvore frutífera que beneficia a quem o pratica e a toda a sociedade. Todas as boas ações maravilhosamente amplificam-se e engrandecem o mundo inteiro. São admiravelmente fecundas. Eis o segredo dos autênticos cristãos que tudo convertem em atos espirituais, levando uma vida livre e profícua. Infeliz daquele que é escravo da inércia e vive adiando suas obrigações, enfraquecendo sua vitalidade interior, fazendo crescer uma puerilidade lamentável. Não é fácil, porém, vencer as tentações da indolência e do desleixo. Dizer um não a qualquer tentação é pronunciar um sim valiosíssimo para si mesmo e perante Deus e isto é fonte de novos progressos, evitando a depressão e a desesperança. Nunca se deve esquecer que em Deus o bem é todo poderoso e o esforço se torna vitorioso. Quando alguém não sabe o que deve fazer aqui e agora, tem um recurso admirável que é se perguntar “Que faria Jesus em meu lugar neste instante?”. Consultando então o Espírito Santo se pode saber com certeza o que se deve fazer. Resulta desta forma uma resolução decisiva, uma conversão do coração, um dom de si irrevogável. A existência ganha dimensões incalculáveis, porque se adapta inteiramente aos intuitos divinos. É esta relação entre Deus e nós e nós em Deus que vivifica o ser humano e daí a prece do salmista: “Unifica Senhor, meu coração para que ele tema o teu nome”! (Sl 85,11). Como escreveu o citado Pe. Sertillanges, “a todo instante está sobre nós o seu olhar e a sua interrogação muda à qual nossa vida deve responder”. Nunca se reflete demais nestas verdades.