“Mihi vivere Christus est” – Para mim, o viver é Cristo (Fl 1, 21).
No dia 12 de dezembro, a liturgia da Igreja nos convida a voltar o olhar para a América Latina, celebrando a Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira de nosso continente. Para a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, esta data reveste-se de uma alegria duplicada. Enquanto celebramos a Mãe que acolheu o índio Juan Diego, celebramos também o Jubileu de Ouro Episcopal de um pastor que, vindo de terras distantes, acolheu o povo carioca em seu coração: nosso querido Bispo Auxiliar Emérito, Dom Karl Josef Romer.
São 50 anos exatos desde aquele abençoado dia de 1975, quando, pela imposição das mãos do saudoso predecessor, o Eminentíssimo Senhor Cardeal Dom Eugenio de Araújo Sales, Dom Karl Josef foi agregado ao colégio dos sucessores dos apóstolos. Meio século de uma vida doada sem reservas, onde seu lema episcopal — “Para mim, o viver é Cristo” — deixou de ser apenas uma frase bíblica para se tornar a narrativa de sua existência.
Das Montanhas Suíças ao Coração do Brasil
Nascido em 1932 na pequena Benken, na Suíça, Dom Karl Josef traz em sua história a marca da universalidade da Igreja. Com uma formação intelectual robusta, tendo estudado Filosofia e Teologia nas prestigiadas faculdades de Innsbruck e Munique, e obtido seu doutorado na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, ele poderia ter optado pelo conforto da academia europeia.
Entretanto, o sopro do Espírito Santo o fez um sacerdote Fidei Donum (Dom da Fé). Ordenado presbítero em 1957, sentiu o chamado missionário arder no peito. O Brasil foi o solo escolhido para sua semeadura. Primeiro na Bahia, onde colaborou na fundação do Instituto de Teologia da Universidade Católica do Salvador, e depois, definitivamente, no Rio de Janeiro. Aquele jovem teólogo suíço não veio para impor saberes, mas para servir, tornando-se, com o passar das décadas, um dos rostos mais queridos e respeitados de nosso clero.
Grande colaborador de Dom Eugenio e a Formação do Clero
Ao celebrar este jubileu, é impossível não recordar a profunda comunhão e amizade entre Dom Romer e o Cardeal Eugenio Sales. Durante décadas, Dom Karl Josef Romer foi um colaborador incansável no governo da Arquidiocese, servindo como Vigário Geral e assumindo a árdua tarefa de formar as novas gerações de sacerdotes.
Sua erudição nunca o afastou da simplicidade. Mestre e doutor em Teologia Dogmática, ele ensinou a centenas de seminaristas e leigos que a verdadeira teologia se faz de joelhos e que o estudo deve levar ao amor. Sua dedicação à revista internacional Communio e seus escritos sobre a oração e a Palavra de Deus continuam sendo faróis seguros em tempos de confusão, lembrando-nos que a fidelidade ao Magistério é o caminho para a verdadeira liberdade cristã.
Todos os anos, na última semana de janeiro, desde 1990 a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro realiza o Curso Anual dos Bispos, uma feliz iniciativa do inesquecível Cardeal Eugênio Araujo Sales e de Dom Karl Josef Romer. A tradição do curso começou em julho de 1990, por iniciativa do então Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Araujo Sales, com a presença do Cardeal Joseph Ratzinger (que mais tarde se tornaria o Papa Bento XVI). A primeira edição não foi seguida por uma em 1991, mas o curso se consolidou como um evento anual a partir de 1992. Durante todos os anos do governo do Cardeal Sales coube a Dom Romer coordenar o Curso que reúne bispos de todo o Brasil para estudos, orações, descanso, convivência, partilha de experiências e fraternidade episcopal.
Um Pastor a Serviço da Igreja Universal: A Defesa da Família
A competência e o ardor missionário de Dom Karl Josef transbordaram as fronteiras de nossa Arquidiocese. A Igreja, em sua sabedoria, o chamou para servir junto à Sé de Pedro. Entre 2002 e 2007, Dom Romer atuou como Secretário do Pontifício Conselho para a Família, no Vaticano.
Trabalhando em estreita união com São João Paulo II e, posteriormente, com Bento XVI, ele foi uma voz profética na defesa da vida humana desde a concepção até o declínio natural, e na promoção dos valores inegociáveis do matrimônio cristão. Ele viajou o mundo organizando os Encontros Mundiais das Famílias, mas seu coração, curiosamente, permanecia no Rio de Janeiro.
O “Carioca” por Excelência
É comovente notar que, ao encerrar sua missão na Cúria Romana e tornar-se emérito, Dom Karl Josef escolheu retornar para nós. Poderia ter voltado para sua Suíça natal, mas preferiu passar seus anos de maturidade e sabedoria aqui, servindo na medida de suas forças, atendendo confissões, celebrando a Eucaristia e nos presenteando com sua presença serena. Ele é a prova viva de que o missionário cria raízes profundas onde planta o amor.
Aos 93 anos de idade, sua lucidez e sua memória histórica são um patrimônio vivo para nossa Igreja Metropolitana. Ver Dom Romer é contemplar a história do Concílio Ecumênico Vaticano II aplicada com fidelidade; é ver um homem que atravessou o século XX e entrou no terceiro milênio sem jamais negociar a Verdade do Evangelho.
Gratidão e Prece
Neste dia jubilar, convido todo o povo de Deus a elevar uma prece de ação de graças. Agradecemos a Deus pelo “sim” de Dom Karl, que há 50 anos aceitou o episcopado não como honra, mas como cruz e serviço.
Que a Virgem de Guadalupe, que celebramos, continue a cobrir Dom Karl Josef Romer com seu manto estrelado. Que São Sebastião o fortaleça e que ele possa sentir, no carinho de cada carioca, o reconhecimento por tudo o que fez e continua a fazer por nós.
A presença de Dom Karl Josef Romer nos santifica pela sua fidelidade ao Evangelho e ao Magistério da Igreja, particularmente, pelo seu amor ao Sucessor de Pedro. O seu episcopado é uma graça de muitos frutos em favor da Arquidiocese e da Igreja no Brasil e no mundo. Sua lucidez e sua fidelidade são admiráveis! Parabéns, Dom Romer. A Igreja do Rio de Janeiro o abraça, o admira e reza pelo senhor.

