Nós cremos na vida eterna!

    Para onde caminhamos? Onde estão as pessoas que nos são queridas e que já terminaram o seu caminho aqui na terra? A liturgia da Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos convida-nos a ver em Deus a nossa meta, o nosso horizonte final. Não, não estamos condenados a dissolver-nos no nada, a terminar a nossa vida numa escuridão sem esperança nem sentido; estamos destinados a encontrar-nos com Deus, a viver em comunhão plena com Ele, a disfrutar de uma vida nova e eterna nos braços de um Pai que nos ama infinitamente, a experimentar uma felicidade que as nossas pobres palavras humanas nunca conseguirão descrever.

    A Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos nos ensina a proclamar com firmeza a nossa fé no Mistério Pascal. Rezamos a esperança da passagem da morte à vida daqueles que já faleceram e foram marcados, no Batismo, com o sinal do Crucificado-Ressuscitado.

    A primeira leitura – Jó 19,1.23-27a – traz-nos o caso de Jó, o protótipo do justo que sofre sem motivo nem explicação. Ele e perseguido pelos seus “amigos”. Mesmo marcado profundamente pela dor, Jó proclama a sua inabalável esperança em Deus. O lamento de Jó é, na verdade, a demonstração da firmeza da fé, que alimenta a esperança – depois de todas as dificuldades e dores cessarem, ele tem a certeza de que verá a Deus. Atingido por desgraças e tribulações sem fim, Jó garante que nada fez para merecer tal sorte. Pede a Deus que seja o seu “Redentor” e que lhe faça justiça. A leitura cristã das palavras de Jó sugere que Deus lhe dará razão: depois de ele terminar o seu caminho na terra, Deus há de reabilitá-lo e abrir-lhe as portas da vida eterna.

    No Evangelho – Lc 12,35-40 – São Lucas ensina que: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater” (Lucas 12,35). Que o nosso coração esteja cheio de Deus. Que esteja cheio da graça, do Espírito e do óleo de Deus. O óleo que acende a lâmpada do nosso coração, porque, onde estiver o nosso tesouro, ali estará o nosso coração. Podemos até estar na casa do Senhor, mas o nosso coração pode não estar com o Senhor. Até podemos estar orando com a Bíblia na mão, mas o coração está longe de Deus. A vigilância na vida consiste em saber se colocar na presença de Deus em tudo aquilo que nós fazemos. E não é somente quando estamos na Igreja ou na presença de Deus. Se estou dirigindo o meu carro, coloco-me na presença do Senhor; se estou fazendo outra atividade, estou na presença do Senhor. Não podemos ser aquele operário: “Senhor, desculpa, agora quero ficar só comigo. Eu quero ser um homem mundano”. O operário do Senhor é aquele que, em tudo que faz, está na presença d’Ele, com seus rins cingidos e suas lâmpadas acesas.

    Não podemos deixar que a lâmpada da fé se apague, não podemos deixar que a nossa vigilância se apague. Não é viver preocupados e tensos, e sim andar com Deus, viver com Ele e fazer tudo aquilo que fazemos na presença do Senhor. Ser um homem vigilante é ser um homem que está sempre na presença de Deus, aguardando que Ele venha ficar conosco, morar conosco, estar conosco. A presença de Deus, a vinda de Deus ao nosso encontro não pode nunca nos causar medo ou espanto.

    Quem está com o Senhor, na presença d’Ele, está presente diante do Senhor em tudo aquilo que Ele faz. Por isso, não queremos o Senhor conosco apenas em alguns momentos. Queremos em tudo aquilo que realizarmos, estar na presença do Senhor. Que o Senhor possa cingir os nossos rins, nos dando aquela atitude de atenção e cuidado. Que o Senhor possa acender nossas lâmpadas; as lâmpadas dos olhos, do coração, da atenção, para estarmos sempre atentos, porque o Senhor está no meio de nós.

             Sejamos vigilantes e prontos para a volta de Jesus para estarmos preparados para sermos salvos em seu amor e em seu perdão.

    Na segunda leitura – 1Cor 15,20-24a.25-28 – o apóstolo Paulo expõe aos cristãos da cidade grega de Corinto a convicção fundamental que anima a sua entrega e o seu compromisso apostólico: “Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d’Ele”. Sendo assim, Paulo declara-se pronto a enfrentar todas as crises e dificuldades que a vida lhe trouxer, pois “a ligeira aflição” do momento presente “prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória”. A visão da eternidade dá-nos a força para vencer todas as exigências que a vida presente comporta.

    Neste dia santo, na esperança da ressurreição, celebramos a Páscoa de todos aqueles que partiram para a casa do Pai. Os que perseverarem no amor receberão o prêmio dos justos; e a visita que Deus continuamente faz a seu povo torna-se visível na compaixão de Jesus diante da dor dos pobres e excluídos. Rezemos por todos os fiéis defuntos, particularmente pelas almas dos fiéis que estão no purgatório. Que as almas dos fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz! Amém!

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