Homilia – Solenidade de Todos os Santos – Ano C
“Alegremo-nos e exultemos, porque grande é a nossa recompensa nos céus.” (Mt 5,12)
Irmãos e irmãs em Cristo, celebramos hoje uma das mais belas e esperadas festas do calendário litúrgico: a Solenidade de Todos os Santos. É o dia em que a Igreja nos convida a levantar os olhos para o céu e a contemplar a multidão imensa de homens e mulheres que já alcançaram a meta da vida cristã, a santidade. Não recordamos apenas os santos canonizados, conhecidos e venerados oficialmente, mas também os anônimos: aqueles que viveram o Evangelho com fidelidade no silêncio de suas casas, em suas famílias, nos trabalhos humildes, nas dores suportadas com fé, nas orações escondidas e nas obras de misericórdia que só Deus viu.
Na primeira leitura, o livro do Apocalipse (Ap 7,2-4.9-14) apresenta a visão grandiosa da multidão vestida de branco, de todas as nações, tribos, povos e línguas, diante do trono do Cordeiro. São os que “lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro”. Esses são os redimidos pelo amor de Cristo, que venceram o mal não pela força, mas pela fé e pela perseverança. Essa multidão mostra que o céu não é vazio: está repleto de rostos humanos, de pessoas concretas, que viveram neste mundo as mesmas lutas que nós. O Apocalipse nos recorda que a santidade não é privilégio de poucos, mas vocação de todos os batizados.
Na segunda leitura (1Jo 3,1-3), o apóstolo João nos recorda uma verdade essencial: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus, e nós o somos!” A santidade começa exatamente aqui — no reconhecimento de que somos filhos amados de Deus. A filiação divina é o alicerce de toda vida cristã. Somos chamados à santidade não por nossos méritos, mas por graça, porque participamos da vida do próprio Deus. Contudo, São João acrescenta: “O que seremos ainda não se manifestou”. Isso significa que estamos a caminho, e a meta é sermos semelhantes a Cristo. A santidade não é algo pronto; é um processo, uma caminhada de conversão, de transformação interior, de abertura contínua ao amor divino.
No Evangelho (Mt 5,1-12a), Jesus sobe à montanha e proclama as Bem-aventuranças. Ali está o coração da santidade cristã. Os santos são, por excelência, os bem-aventurados:
- Os pobres em espírito, que confiam mais em Deus do que em si mesmos;
- Os que choram, mas que não perdem a esperança;
- Os mansos, que não recorrem à violência;
- Os que têm fome e sede de justiça, que lutam pelo bem e pela verdade;
- Os misericordiosos, que sabem perdoar;
- Os puros de coração, que buscam a Deus com sinceridade;
- Os pacíficos, que constroem pontes e não muros;
- Os perseguidos por causa da justiça, que permanecem firmes na fé.
Essas palavras de Jesus são o manual do santo. A santidade não é feita de gestos extraordinários, mas de fidelidade cotidiana ao Evangelho. O santo é aquele que faz o bem com alegria, mesmo quando ninguém vê, e que deixa o amor de Cristo moldar suas atitudes.
Celebrar Todos os Santos é também lembrar que a santidade é possível no mundo de hoje. Em tempos de indiferença, violência e superficialidade, Deus continua chamando cada um de nós a ser testemunha da esperança. A santidade não é uma fuga do mundo, mas uma presença transformadora nele. Os santos não foram pessoas perfeitas; foram pessoas apaixonadas por Deus, que caíram, mas se levantaram, que sofreram, mas confiaram, que amaram até o fim.
E o bonito é que essa vocação é para todos: para o pai e a mãe de família, o jovem, o trabalhador, o idoso, o enfermo, o consagrado. Em cada estado de vida é possível ser santo, porque a santidade é o reflexo de um coração unido a Cristo.
Por fim, esta festa nos recorda que a morte não tem a última palavra. Os santos estão vivos em Deus e intercedem por nós. Eles são nossos irmãos mais velhos na fé, que já chegaram à plenitude da comunhão com o Senhor. Eles nos dizem, com a própria vida: vale a pena amar, vale a pena perdoar, vale a pena seguir Jesus. Hoje, a Igreja militante — nós, peregrinos na terra — se une à Igreja triunfante — os santos no céu — e, juntos, proclamamos: “A salvação pertence ao nosso Deus e ao Cordeiro!”
Irmãos e irmãs, nesta Solenidade de Todos os Santos, peçamos a Deus que reacenda em nós o desejo da santidade. Que cada um de nós descubra que ser santo é viver o amor de Cristo no cotidiano, nas pequenas coisas, com alegria e generosidade. E que um dia, unidos àquela multidão vestida de branco, possamos também cantar eternamente: “Alegremo-nos e exultemos, porque grande é a nossa recompensa nos céus!”



