Seremos odiados por anunciarmos ao Cristo!

    Queridos irmãos e irmãs, chegamos ao penúltimo domingo do ano litúrgico. A Igreja, de modo sábio, nos conduz a meditar sobre as últimas realidades, aquilo que é definitivo, aquilo que permanece quando tudo passa. Não se trata de cultivar medo ou ansiedade diante do fim, mas de reacender a esperança que nasce da fé e de colocar nossa vida na perspectiva da eternidade. É isso que a Liturgia nos oferece hoje: uma palavra que desperta, que sacode, que purifica nossas falsas seguranças para que possamos viver com o coração voltado para Deus.

    A primeira leitura, retirada do profeta Malaquias, apresenta uma linguagem forte: “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha” (Ml 3,19). Não é uma ameaça apocalíptica; é uma afirmação de fé. Quando o profeta fala do “dia do Senhor”, ele se dirige a um povo cansado, desanimado, que experimentava injustiças e perguntava onde estava Deus. E Malaquias responde: Deus virá. Deus fará justiça. Deus não é indiferente à maldade, nem surdo ao clamor dos pobres. Para aqueles que praticam o mal, o dia do Senhor será como fogo purificador; mas para os que temem o nome do Senhor, para aqueles que procuram viver com retidão, “nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas” (Ml 3,20a). Em outras palavras: não tenhamos medo; Deus é fiel, e a última palavra sempre será d’Ele.

    Na segunda leitura, São Paulo escreve à comunidade de Tessalônica, que vivia inquieta por causa de pessoas que anunciavam que o fim do mundo estava muito próximo. Alguns começaram a abandonar seus afazeres, a viver na ociosidade, esperando acontecimentos extraordinários. Paulo, com firmeza, recorda uma verdade fundamental: a fé cristã não nos aliena do mundo; ao contrário, nos compromete ainda mais. “Quem não quer trabalhar, também não deve comer” (2Ts 3,10). O trabalho, para o cristão, é colaboração com a obra de Deus; é participação na criação; é forma concreta de amar a Deus e aos irmãos. Fugir do trabalho, fugir das responsabilidades, viver dispersos ou à toa, é renunciar ao próprio chamado de Deus. Esperar o Senhor requer perseverança, fidelidade e compromisso. Nada de acomodação, nada de preguiça espiritual; quem vive na presença de Deus transforma o mundo com suas mãos, seu suor, sua dedicação.

    No Evangelho, Jesus contempla o Templo de Jerusalém e diz algo que deve ter causado espanto: “Não ficará pedra sobre pedra” (Lc 21,6). O Templo era o orgulho do povo, símbolo de fé, força e identidade. Jesus, no entanto, recorda que até as estruturas mais sólidas se tornam poeira com o tempo. Nada neste mundo é definitivo: não são definitivos os nossos bens, nossa saúde, nossa aparência, nossos projetos, nem mesmo as instituições humanas. Só Deus permanece. Só Ele é rocha firme. Por isso, Jesus nos exorta: “Cuidado para não serdes enganados” (Lc 21,8). No meio de crises, rumores, medos coletivos, guerras e catástrofes, muitos se aproveitam da fragilidade das pessoas e anunciam soluções fáceis, caminhos rápidos, interpretações sensacionalistas da fé. Jesus nos chama ao discernimento, à lucidez espiritual, à firmeza interior.

    Ele também nos alerta que a fé verdadeira não nos isenta do sofrimento. Pelo contrário, ela nos coloca muitas vezes na contramão deste mundo, e isso pode trazer rejeição, incompreensões e até perseguições. O próprio Senhor diz: “Sereis odiados por causa do meu nome” (Lc 21,17). No entanto, Ele imediatamente acrescenta: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19). Perseverar é a grande palavra deste domingo. Não basta começar; é preciso permanecer. Não basta entusiasmo momentâneo; é necessário constância. A fé cristã é caminhada diária, é luta constante para permanecer na verdade quando tudo ao redor insiste em nos seduzir com ilusões passageiras.

    As leituras de hoje nos colocam diante de uma pergunta essencial: Em que tenho colocado minha segurança? Em bens materiais? Nas pessoas? Nas estruturas humanas? Em minha própria força? Jesus nos ensina que tudo isso passa. O mundo passa. As certezas humanas passam. Mas a Palavra de Deus não passa. O amor de Deus não passa. Aquilo que fizermos por Cristo, aquilo que vivermos com sinceridade diante d’Ele, isso sim permanece para a vida eterna.

    Estamos quase iniciando um novo Advento. A Liturgia nos pede que olhemos para o fim para aprendermos a viver melhor o presente. Quando o cristão sabe para onde está indo, ele vive de modo mais livre, mais sereno e mais responsável. Ele sabe que sua vida é breve, mas preciosa; sabe que será chamado a prestar contas diante do Senhor; sabe que cada gesto de amor, cada palavra de perdão, cada trabalho honesto, cada renúncia ao pecado, cada ato de justiça tem valor eterno.

    Peçamos ao Senhor, neste penúltimo domingo do ano litúrgico, a graça da perseverança. Que o Espírito Santo nos fortaleça para permanecermos firmes na fé, firmes na caridade, firmes na esperança. Que Ele nos livre das ilusões deste mundo e nos dê um coração vigilante e sábio. Que possamos viver cada dia como quem caminha ao encontro do Senhor, com responsabilidade, com amor e com confiança plena em Sua misericórdia.

    E que, permanecendo fiéis até o fim, possamos um dia ouvir de Cristo a palavra mais desejada por todo cristão: “Servos bons e fiéis, entrai na alegria do vosso Senhor.” Amém.

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