Neste vigésimo quinto domingo do Tempo Comum, somos convidados a meditar sobre a nossa vida como um dom recebido de Deus. Nada do que temos é apenas fruto do nosso esforço ou da nossa inteligência: tudo nos é dado por Aquele que é a fonte da vida. A saúde, as oportunidades, a fé, a família, o trabalho, até mesmo o tempo que temos a cada dia, tudo é presente do Senhor. E porque tudo é dom, tudo é também responsabilidade. O Evangelho nos apresenta a parábola do administrador, a quem o Senhor pede: “Presta contas da tua administração” (Lc 16,2). Essa palavra nos recorda que nada é absolutamente nosso, mas tudo é dom de Deus a ser cuidado com amor e partilhado com justiça.
Na primeira leitura (Am 8,4-7), o profeta Amós levanta a voz contra uma realidade dura e concreta: a exploração dos pobres pelos poderosos. Ele denuncia a fraude nos negócios, a manipulação das medidas, a ganância que transforma pessoas em mercadorias. É impressionante como palavras escritas há tantos séculos são sempre atuais. Em uma sociedade marcada pelo consumismo, pela sede insaciável de lucro e pelo descarte dos mais frágeis, a voz de Amós ressoa como um alerta de Deus. E o Senhor não é indiferente: “Nunca mais esquecerei o que eles fizeram!” (Am 8,7). Isso significa que Deus não esquece as lágrimas do pobre, não ignora a dor do trabalhador injustiçado, não fecha os olhos para a corrupção que sufoca os indefesos. Essa leitura nos ensina que não há verdadeira prosperidade quando ela se constrói sobre a injustiça. A riqueza que oprime não é bênção, mas maldição.
Na segunda leitura (1Tm 2,1-8), São Paulo alarga o nosso horizonte. Ele nos pede que façamos orações e súplicas por todos, especialmente pelos que governam, porque Deus “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Essa afirmação é de uma beleza extraordinária: a salvação não é privilégio de alguns, mas é oferecida a todos. Cristo é o único mediador, o único Senhor, e se entregou em resgate não apenas por um grupo, mas por toda a humanidade. Por isso, a oração da Igreja deve ser universal, sem excluir ninguém. A fé autêntica nos impede de fechar o coração em preconceitos ou interesses restritos: ela nos abre ao bem comum, ao cuidado com a vida social, à busca da paz. Rezar pelos governantes não é bajulação, mas consciência de que também eles precisam de luz e sabedoria para governar com justiça. O cristão é chamado a ser ponte, intercessor, alguém que traz o mundo inteiro para dentro do coração de Deus.
No Evangelho (Lc 16,1-13), encontramos a parábola do administrador infiel. À primeira vista, o texto pode causar estranhamento, porque o administrador foi desonesto. Mas Jesus não exalta a fraude; Ele ressalta a esperteza de alguém que, diante de uma crise, soube agir rapidamente para garantir o futuro. O que o Senhor deseja nos ensinar é que também nós precisamos de decisão e prontidão quando se trata do Reino de Deus. Se os filhos deste mundo sabem ser criativos em seus interesses passageiros, quanto mais nós deveríamos ser criativos, ousados e perseverantes nas coisas eternas!
Essa parábola nos lembra que tudo o que temos é provisório e relativo. Somos administradores, não donos. O dinheiro, as posses, o prestígio, a saúde, até mesmo a vida, tudo nos é confiado por um tempo, e o Senhor espera que usemos esses dons com sabedoria. É por isso que Jesus chama o dinheiro de “injusto”: não porque seja mau em si mesmo, mas porque é sempre traiçoeiro, sempre limitado, sempre sujeito a corromper. Se não somos fiéis no pouco, como poderemos receber o muito? Se não administramos com retidão aquilo que passa, como Deus nos confiará o que não passa?
A mensagem central do Evangelho é clara: tudo o que temos deve ser usado para o bem, para ajudar o próximo, para semear justiça e solidariedade. Quando Jesus afirma que não podemos servir a Deus e ao dinheiro, não se trata apenas de escolher entre dois caminhos opostos, mas de discernir o que realmente ocupa o nosso coração. O dinheiro pode ser um bom servo, mas é sempre um péssimo senhor. Se nossas conquistas forem instrumentos de serviço, serão bênção; mas, se se tornarem ídolos, escravizarão a alma.
O Senhor nos chama, portanto, a viver os mandamentos não como regras frias, mas como um caminho de vida que nos educa para o amor. “Não roubarás”, “não cobiçarás”, “não levantarás falso testemunho”: cada um desses mandamentos nos recorda que a fidelidade nas pequenas coisas revela a verdade do nosso coração. É na retidão de intenções, no respeito pelo outro, na honestidade do trabalho, na palavra fiel que se constrói a santidade. A parábola do administrador nos desafia a ser fiéis no pouco, para que possamos receber o muito: a vida eterna, o bem verdadeiro que não se perde.
Onde está o nosso tesouro, aí está também o nosso coração. Se colocamos nossa confiança apenas nos bens que passam, corremos o risco de perder o Bem que não passa. Mas, se aprendemos a colocar nossa vida em Deus, usando o que temos como instrumentos de amor, de partilha e de justiça, então caminhamos com segurança rumo às moradas eternas.
Que este domingo seja para nós um momento de exame de consciência: como administramos o nosso tempo, os dons que recebemos, o trabalho, os bens materiais? Temos usado tudo isso como sinais do Reino ou como instrumentos de egoísmo? Que possamos pedir ao Senhor a graça de sermos administradores fiéis, para que, no dia em que Ele nos chamar, possamos ouvir de seus lábios: “Foste fiel no pouco, vem participar da alegria do teu Senhor” (cf. Mt 25,21).