A cruz é sinal de nossa redenção!

    Celebramos, precisamente no dia 14 de setembro, a Festa da Exaltação da Santa Cruz. No séc. II o imperador Adriano (117-138), para dissuadir o culto cristão em Jerusalém, soterrou o local onde Jesus tinha sido crucificado e sepultado. No local do Santo Sepulcro, colocou a estátua de Júpiter; no local da crucifixão de Jesus, erigiu uma estátua em honra de Vénus. Os cristãos, contudo, continuaram a frequentar esses lugares, aí evocando a morte e a ressurreição de Jesus. Mais tarde, em 13 de setembro de 326, Santa Helena, mãe do imperador Constantino, por indicação de um habitante de Jerusalém, descobriu no local do Calvário o madeiro da cruz onde Jesus tinha sido crucificado. Demolidas as construções pagãs erigidas por Adriano, foi construída uma basílica cristã, cuja dedicação aconteceu em 13 de setembro de 335. No dia a seguir, 14 de setembro, a cruz lá encontrada foi exposta à adoração dos fiéis. É este fato que está na origem da chamada Festa da Exaltação da Santa Cruz. A cruz de Jesus – que a liturgia deste dia nos convida a contemplar – é a expressão suprema do amor de um Deus que veio ao nosso encontro, aceitou partilhar a nossa humanidade, quis fazer-se servo dos homens, deixou-se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. Ao entregar a sua vida na cruz, em dom de amor, Jesus indicou-nos o caminho para chegar à vida plena.

    A primeira leitura – Nm 21,4-9 – traz-nos uma história do tempo em que os israelitas vagueavam pelo deserto.  A busca por melhores condições de vida não é fácil. O povo israelita reclama contra Moisés por causa das dificuldades que enfrenta na caminhada para a Terra Prometida. A serpente, que era símbolo de morte, tornou-se símbolo de vida. Deus propõe-se corrigir a tendência de Israel para a murmuração e a ingratidão; mas, constatando que o “remédio” podia “matar o doente”, Deus engendra uma estratégia de salvação. A serpente de bronze levantada sobre um poste, através da qual Deus cura o seu Povo, sinaliza o amor e a bondade de Deus; e é, por outro lado, um símbolo dessa força salvífica que alguns séculos mais tarde brotará da cruz de Cristo, o homem levantado ao alto para dar vida a todo o mundo. Por isso, a cruz tornou-se símbolo de salvação.

    No Evangelho – Jo 3,13-17 – Jesus, em conversa com um fariseu chamado Nicodemos, desvela-lhe o sentido e o significado da Sua presença no meio dos homens: Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna”. Cristo elevado na cruz é o maior gesto de amor de Deus pela humanidade e causa de salvação para todos os que acreditam em Jesus. Ele é o Filho enviado por Deus para que todas as pessoas tenham vida, O amor de Deus tornar-se-á particularmente evidente quando, na cruz, Jesus entregar a sua vida por todos. Os que olharem para o Crucificado e acolherem a lição de amor que Ele oferece, encontrarão vida em abundância.

    É necessário que o Filho do Homem seja levantado, entronizado, exaltado na cruz para a salvação do mundo e a concessão da vida aos fiéis em Jesus. Do fruto da “árvore da Cruz”, que é Jesus, “fruto maduro de humanidade”, todos podem se alimentar, recebendo novamente a condição de Filhos de Deus, recuperando a graça e a comunhão com o Pai.

    Nós sabemos que “mundo” – Kosmós – no Evangelho de João, possui basicamente três significados: primeiro, no ambiente terreno natural, a Criação, onde a humanidade habita; segundo, os adversários – inimigos, resistentes à luz, à verdade e à vida, que são o próprio Jesus: e terceiro, aqueles que receberam na e pela fé a Pessoa de Jesus como a Vida Eterna, e como a Palavra portadora de salvação e vida. Assim, “Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele”.

    Na segunda leitura – Fl 2,6-11 –, Paulo apresenta aos batizados de Filipos a sua leitura da encarnação de Cristo. Jesus, o Filho de Deus, despojou-se da sua dignidade divina e veio ao encontro dos homens, revestido da nossa frágil natureza. Este hino litúrgico nos mostra o rebaixamento de Cristo à condição humana, morrendo na cruz, sinal de nossa salvação, e sendo exaltado pelo Pai. Ele escolheu o caminho da obediência ao Pai e do serviço aos homens, até ao dom da vida. A cruz é a expressão máxima desse caminho e dessa opção. Paulo pede aos filipenses – e aos “discípulos” de todas as épocas e lugares – que aceitem percorrer o mesmo caminho que Jesus percorreu. Reconhecer em Jesus o Salvador-Redentor é alcançar a vida.

    Meus irmãos, a cruz, sinal do mais terrível entre os suplícios, é para o cristão a árvore da vida, o tálamo, o trono, o altar da nova aliança. De Cristo, novo Adão adormecido na cruz, jorrou o admirável sacramento de toda a Igreja. A cruz é o sinal do senhorio de Cristo sobre os que no Batismo são configurados a ele na morte e na glória (cf. Rm 6,5). Na tradição dos Padres da Igreja, a cruz é o sinal do Filho do Homem que comparecerá no fim dos tempos (cf. Mt 24,30).

    Jesus, pela sua morte de cruz, foi solidário “com os pequenos e os pobres, os doentes e os pecadores, e se fez próximo dos aflitos e oprimidos” (Oração Eucarística para Diversas Circunstâncias IV); em consequência, houve prepotentes que se sentiram atingidos e arquitetaram a trama da cruz.

    Num mundo marcado por tantas cruzes, somos chamados a descobrir na cruz de Jesus a denúncia das atitudes de falta de solidariedade e de indiferença, para retirar a cruz os crucificados. Na festa litúrgica de hoje, fazemos memória da cruz e dos sofrimentos provocados pelas cruzes do mundo, mas também entrevemos a força que brota da ressurreição. É dessa força que nos vem a luz e a inspiração para prosseguir a experimentar no cotidiano a vitória do amor do Crucificado-Ressuscitado. Afinal, só o amor faz agir assim!

    Olhemos agradecidos para a cruz, sinal da nossa libertação, e renovemos em nós a certeza do amor de Deus pela humanidade!

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