Homilia – 23º Domingo do Tempo Comum – Ano C Coerência do coração, a misericórdia e a vida comunitária em Cristo!

    Amados irmãos e irmãs,

    A liturgia deste domingo nos desafia a refletir sobre a coerência do coração, a misericórdia e a vida comunitária em Cristo. As leituras deste 23º Domingo do Tempo Comum nos lembram que a fé cristã não é apenas uma experiência interior ou um conjunto de rituais, mas se manifesta concretamente em nossas atitudes, palavras e gestos diários.

    Na primeira leitura, tirada do livro do Eclesiástico (Eclo 27,30–28,7), lemos: “Não guardes ódio contra o teu próximo, e não retenhas rancor contra alguém; perdoa ao teu próximo o mal que te fez, e então também teus pecados serão perdoados”. Este texto nos ensina que a misericórdia é a chave da convivência fraterna. Guardar rancor, ressentimentos e ódios cria barreiras que nos afastam de Deus e do próximo. Por outro lado, o perdão é sinal de abertura ao amor divino e fonte de paz interior.

    O Salmo responsorial (Sl 102(103),1-4.9-12) ecoa esta mesma verdade: “O Senhor é misericordioso e compassivo, lento para a ira e rico em amor. Como o céu se eleva acima da terra, assim é grande a sua misericórdia sobre os que o temem”. Deus, rico em bondade, nos convida a imitá-Lo. A misericórdia não é apenas um ato de indulgência, mas o reflexo de um coração transformado pela graça.

    Na segunda leitura, São Paulo, em sua carta aos Romanos (Rm 14,7-9), lembra: “Nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si mesmo. Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Pois Cristo morreu e ressuscitou para que Ele seja Senhor de vivos e mortos”. Cada ação nossa, cada palavra e escolha, deve ter consciência de que estamos inseridos na vida de Cristo e na comunidade. A fé não é individualista; ela nos une e nos faz corresponsáveis uns pelos outros.

    O Evangelho segundo Lucas (Lc 6,39-45) nos apresenta imagens fortes sobre coerência e autenticidade: Jesus fala do cego que guia outro cego e ensina que “o homem bom tira do bom tesouro do coração o bem; o homem mau tira do mau tesouro o mal” (Lc 6,45). Aqui, Cristo nos lembra que a transformação começa no interior. Não podemos querer corrigir o outro se nosso coração não foi iluminado pela Palavra de Deus. A fé deve produzir frutos: palavras de bondade, gestos de justiça, atitudes de perdão e serviço.

    Santa Teresa de Calcutá, sobre a misericórdia, dizia que “não é suficiente amar os nossos amigos; devemos amar até os inimigos”. Essa exortação ressoa com o que lemos em Eclo e no Evangelho: ser discípulo significa viver o amor como Cristo viveu, sem medida e sem buscar reconhecimento.

    Na prática pastoral, essas leituras nos chamam a:

    1. Exercitar o perdão nas famílias, reconciliando relações e promovendo diálogo sincero.
    2. Construir a paz nas comunidades, evitando fofocas, julgamentos e rivalidades.
    3. Examinar nosso próprio coração antes de corrigir o outro, reconhecendo nossas limitações e pecados.
    4. Praticar a coerência cristã, cultivando um coração bom, capaz de gerar frutos de vida, esperança e alegria.

    O Papa Francisco, na Carta Encíclica Fratelli tutti, recorda que “o amor verdadeiro se constrói na proximidade, na misericórdia, no perdão e no serviço ao próximo”. Seguir Jesus não é questão de títulos ou aparências, mas de construir o Reino com gestos concretos de amor e justiça.

    Este Evangelho nos desafia também a olhar para os últimos: os esquecidos, os marginalizados, aqueles que ninguém percebe. Um coração transformado pelo Evangelho não exclui ninguém, mas acolhe todos. É uma fé ativa, generosa e misericordiosa, que não se limita ao interior, mas se manifesta em atitudes concretas.

    Irmãos e irmãs, a vida cristã é, portanto, um chamado diário à conversão interior e ao serviço gratuito. Devemos perdoar, acolher, agir com justiça e coerência. O perdão, a humildade e a misericórdia são os frutos que tornam nossa fé visível e fecunda na comunidade e na sociedade.

    Que este 23º Domingo do Tempo Comum nos ajude a examinar nossos corações, retirar os “cegos” e obstáculos que nos impedem de ver e guiar com clareza. Que possamos viver plenamente para o Senhor, confiando que Ele nos capacita a produzir frutos bons e a conduzir os irmãos com amor e sabedoria.

    Amém.

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