Amados irmãos e irmãs em Cristo,
Hoje, celebramos o 21º Domingo do Tempo Comum, Ano C, e a liturgia da Palavra nos convida a refletir sobre a universalidade da salvação, o caminho da conversão e a exigência do seguimento fiel a Cristo.
Na primeira leitura – Is 66,18-21 –, o profeta Isaías nos transmite uma promessa divina extraordinária: “Eu virei para reunir todas as nações e línguas; elas virão e verão a minha glória” (Is 66,18). A salvação de Deus não é restrita a um povo ou a um território, mas aberta a todos. O Senhor envia mensageiros “até os confins mais distantes do mar” (Is 66,19) para proclamar sua glória. Aqui, já vislumbramos o horizonte missionário da Igreja: ser testemunha viva da misericórdia de Deus para todos os povos, sem fronteiras, sem exclusões.
O Salmo 116(117) é a mais breve das orações da Escritura, mas de uma força universal: “Nações todas, glorificai ao Senhor, povos todos, aclamai-o!” (Sl 116,1). A liturgia une-se ao cântico do salmista para reafirmar que Deus é Senhor de todos e sua fidelidade dura para sempre. Esse canto nos recorda que a vida cristã é sempre missionária: não podemos guardar para nós o dom da fé, mas somos chamados a anunciá-la para que todos reconheçam o Senhor.
Na segunda leitura – Hb 12,5-7.11-13 –, a Carta aos Hebreus nos adverte com palavras fortes: “Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, nem desanimes quando ele te repreende” (Hb 12,5). A vida cristã não é um caminho cômodo, mas uma estrada que exige esforço, disciplina e fidelidade. O autor nos recorda que o sofrimento não é sinal de rejeição, mas de amor: “O Senhor corrige a quem ama e castiga a quem reconhece como filho” (Hb 12,6). Assim, a provação purifica a fé, fortalece a esperança e nos educa para a santidade.
O Evangelho de hoje – Lc 13,22-30 – é um convite profundo à conversão. Enquanto Jesus caminha para Jerusalém, alguém lhe pergunta: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23). A resposta de Cristo é surpreendente e incisiva: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13,24).
Aqui está o coração do Evangelho deste domingo: não basta ser próximo de Jesus de forma superficial, nem apenas “comer e beber com Ele” (cf. Lc 13,26). É preciso viver de verdade a sua Palavra, praticar a justiça, buscar a santidade. O Reino de Deus não é privilégio de poucos, mas também não é garantido a quem se acomoda. O próprio Cristo adverte: “Muitos virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e se sentarão à mesa no Reino de Deus” (Lc 13,29). É um chamado a romper com a lógica da exclusão e abrir o coração à misericórdia e à fidelidade.
O contraste final do Evangelho é duro e, ao mesmo tempo, cheio de esperança: “E assim, há últimos que serão primeiros, e há primeiros que serão últimos” (Lc 13,30). Deus não olha apenas para as aparências, mas para a sinceridade do coração. Quem vive de forma humilde, perseverante e fiel encontrará o caminho da vida.
Queridos irmãos e irmãs, a liturgia deste domingo nos faz refletir sobre três pontos essenciais para nossa vida de fé:
- A salvação é universal, mas exige decisão pessoal. Todos são chamados, mas cada um precisa dizer “sim” a Deus, não com palavras apenas, mas com uma vida coerente com o Evangelho.
- O seguimento de Cristo pede esforço e perseverança. A porta é estreita porque exige renúncia, disciplina e conversão diária. Não há caminho fácil para o Reino.
- Deus inverte as lógicas humanas. O último pode ser o primeiro, e o primeiro pode ser o último. Essa inversão nos recorda que o Reino de Deus não se constrói com títulos ou privilégios, mas com amor, fidelidade e humildade.
Diante disso, somos convidados a examinar nossa vida: temos vivido a fé como discípulos autênticos, ou como meros simpatizantes de Jesus? Temos buscado a porta estreita com esforço e perseverança, ou preferimos os caminhos largos do comodismo?
Que a Palavra de Deus deste domingo desperte em nós a coragem de viver a fé com autenticidade, a confiança de que o Senhor caminha conosco e a certeza de que sua misericórdia nos sustenta.
Que a Eucaristia, alimento dos que caminham, nos fortaleça para viver na disciplina do Senhor, na alegria da missão e na esperança do Reino. Como rezamos no salmo de hoje: “Nações todas, glorificai ao Senhor!” (Sl 116,1). E que, ao final de nossa vida, possamos ouvir de Cristo a voz que acolhe: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o Reino” (cf. Mt 25,34). Amém.