Estamos em agosto, mês que a Igreja no Brasil dedica à oração, à reflexão e à promoção das vocações. Em cada domingo, contemplamos um rosto do chamado de Deus: o ministério ordenado, a vida consagrada, a família e, de modo muito especial, o laicato. A tradição pastoral reserva o quarto domingo de agosto para celebrar o dia dos ministério dos leigos e leigas, reconhecendo neles a presença ativa do Evangelho no coração do mundo. Não se trata de um detalhe do calendário, mas de um kairós de graça: a oportunidade de redescobrir que a Igreja floresce quando cada batizado assume, a missão que recebeu no dia do Batismo.
Vivemos também um tempo de esperança. Despedimo-nos com gratidão do testemunho luminoso do Papa Francisco, cujo falecimento nos feriu e, ao mesmo tempo, nos convocou à oração. Sob a guia do sucessor de Pedro, o Papa Leão XIV, seguimos a mesma estrada de santidade. Em continuidade, ele nos recorda que a Igreja pertence a Cristo; por isso, a obra não é nossa, mas do Senhor. Cabe-nos cooperar com a graça e manter aceso o fogo do Evangelho. É nesse horizonte que contemplamos o protagonismo dos leigos, cuja presença fiel torna o anúncio de Cristo visível nas realidades temporais.
Quem é o leigo? É discípulo-missionário, sujeito eclesial, membro do Corpo de Cristo, chamado a participar do tríplice múnus de Jesus — sacerdote, profeta e rei — no tecido concreto da vida. Sua “índole secular” não é demérito, mas vocação: santificar o mundo a partir de dentro, ordenar as realidades temporais segundo Deus, fazer com que a luz do Evangelho penetre na cultura, na política, na economia, na educação, na comunicação, na ciência, na arte e nas relações humanas. Onde um padre ou um bispo não alcançam diariamente, o leigo já está: na fábrica e no hospital, na universidade e no parlamento, no transporte público e nas periferias, nos meios digitais e nos espaços de decisão. Ali, com fé, ele é sal da terra e luz do mundo.
A missão dos leigos dá forma à caridade da Igreja. Quando uma catequista persevera no anúncio, quando um ministro da Palavra prepara a liturgia com esmero, quando uma liderança comunitária organiza a caridade para socorrer os pobres, quando um jovem anima a pastoral juvenil, quando um profissional recusa a corrupção e promove o bem comum, o Evangelho ganha carne. Assim, a Igreja adquire uma força mansa e transformadora: pela ação silenciosa dos seus filhos e filhas, vidas são tocadas, consciências se iluminam, ambientes são purificados, estruturas começam a mudar. A conversão pessoal gera frutos sociais; a santidade cotidiana fecunda a cidade.
Entretanto, não ignoramos os desafios. O secularismo tenta confinar a fé ao privado; a polarização corrói laços; a cultura do descarte desumaniza; o cansaço pastoral por vezes desmotiva. Entre nós, o clericalismo pode sufocar a corresponsabilidade e reduzir o laicato a tarefas instrumentais. Por isso, o Mês Vocacional é também apelo à conversão pastoral. Precisamos de processos formativos sólidos — bíblicos, doutrinais, espirituais e sociais — que habilitem os leigos para o discernimento e a missão; de conselhos paroquiais atuantes; de ministérios confiados com clareza; de itinerários de oração que sustentem a caridade; de espaços de escuta e participação que previnam divisões. Igreja sinodal não é slogan: é método evangélico de caminhar juntos.
Celebrar o domingo dos leigos pede escolhas concretas. Nas paróquias, valorizemos a diversidade de carismas; apoiemos ministerialidades segundo as necessidades pastorais; organizemos momentos de ação de graças e de envio missionário; fortaleçamos a catequese e a iniciação à vida cristã; ofereçamos formação continuada; incentivemos a presença cristã no ambiente digital com responsabilidade. Nas famílias, reavivemos a oração doméstica, a leitura orante da Palavra e gestos de reconciliação. Na cidade, promovamos alianças pelo bem comum, defesa da vida e cuidado com os pobres. A fé, quando se torna serviço, muda realidades.
É importante lembrar: a melhor apologética é a caridade. O mundo não precisa de cristãos agressivos, mas de cristãos confiáveis. Leigos que escutam quando todos gritam, que dialogam quando muitos cancelam, que servem quando tantos disputam. Quando uma comunidade leiga vive a bem-aventurança dos pacificadores, a Igreja ganha credibilidade e a sociedade encontra caminhos de reconciliação. É assim que o Evangelho reconstrói pontes, cicatriza memórias e inaugura futuros.
Quero agradecer, com alegria, a tantos leigos e leigas de nossa Arquidiocese que, com fidelidade criativa, sustentam a vida pastoral: catequistas, ministros extraordinários da Sagrada Comunhão, leitores, salmistas, agentes da acolhida e da caridade, pastorais sociais e da saúde, juventudes, casais, comunicadores, profissionais que testemunham a fé no trabalho, lideranças de bairro e servidores públicos que buscam o bem comum. Vocês são um dom para a Igreja e para a cidade. Pela vossa dedicação, o Evangelho chega aonde, muitas vezes, a estrutura não alcança. Obrigado!
Unidos ao Papa Leão XIV, que insiste na oração perseverante pela paz e na conversão dos corações, peço que façamos do domingo dos leigos um marco de recomeço: deixemos o desânimo e a tibieza; retomemos a vida sacramental com alegria; abracemos a missão com criatividade; cuidemos uns dos outros com ternura. A santidade possível e necessária no cotidiano é a grande revolução evangélica do nosso tempo. Não esperemos condições ideais para amar: amemos agora, como estamos, com o que temos, onde o Senhor nos plantou.
Confio este caminho à intercessão de Nossa Senhora. Que ela nos ensine a escutar, a discernir e a servir. Que São José inspire nossos leigos a unir competência e fé. Que o Espírito Santo acenda em nós a coragem de testemunhar Jesus com mansidão e firmeza. E que, pela força silenciosa e perseverante dos leigos, a Igreja continue a transformar vidas e realidades em nossa cidade e no Brasil. Neste Mês Vocacional, ao celebrarmos o quarto domingo dedicado aos leigos, convido nossas comunidades a agradecer com gestos concretos: uma oração pelos agentes de pastoral, um telefonema de reconciliação, e um pequeno serviço silencioso ao próximo.