Os três cardeais membros do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que participaram do último Conclave, em maio, falaram sobre sua experiência na despedida do Papa Francisco e na eleição do Papa Leão XIV. Dom Odilo Scherer, dom Leonardo Steiner e dom Jaime Spengler compartilharam alguns aspectos que chamaram sua atenção naquele momento eclesial. De forma especial, eles destacaram a condução do Espírito Santo em todo o processo e a força do início do conclave, com a Ladainha de Todos os Santos e o Veni Creator.
Cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo (SP) e que participou dos dois últimos conclaves, recordou que nem tudo é segredo como algumas narrativas divulgadas, uma vez que a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis explica, em pormenores, o que acontece nos dias de velório e no novenário do Papa falecido, nas congregações gerais e no conclave para eleição do novo pontífice.
Sobre as Congregações gerais, momentos em que os cardeais partilhavam suas inspirações e preocupações sobre a vida da Igreja, dom Odilo afirmou que as muitas vozes dos cardeais davam “um panorama geral da Igreja em todo o mundo”. Com a orientação de que os cardeais não concedessem entrevistas, a Santa Sé divulgava diariamente boletins de imprensa com o resumo dos assuntos tratados nas congregações. Dom Odilo disse ter observado um grande apreço pelo Papa Francisco.

O arcebispo de Manaus (AM), cardeal Leonardo Steiner, partilhou da apreensão que havia quanto à continuidade do caminho que a Igreja tem trilhado desde o Concílio Vaticano II e do próprio pontificado de Francisco e seus antecessores, os quais foram “grandes Papas”, segundo dom Leonardo. Ele disse ter sido significativa a preocupação dos cardeais com o bem da Igreja durante as conversas no cafezinho.
Para ele, foram “profundamente tocantes” alguns momentos: o primeiro, na capela Paulina, o silêncio e a oração dos cardeais antes do conclave, com a consciência de que estavam ali “não em nome próprio, mas a serviço da Igreja”. Já a Ladainha de Todos os Santos, na entrada da Capela Sistina, foi ocasião que uniu a Igreja Peregrina com a Igreja Triunfante. E outro momento foi após o cardeal Prevost alcançar o número necessário de votos para a eleição.
“Rompeu uma salva de palmas sem fim. Todos se levantaram e aplaudiram num gesto de profunda comunhão eclesial”, partilhou dom Leonardo.

Dom Jaime Spengler também citou aquilo que lhe chamou atenção. Primeiro, a disposição de muitas pessoas de estarem por mais de seis horas nas filas para contemplar o corpo do Papa Francisco por alguns segundos. Depois, ele ouviu pessoas simples dizerem agradecidas que conseguiam entender as palavras do Papa Francisco. Já nas congregações gerais, “ouvimos e pudemos compartilhar como é bonita a Igreja, quanta riqueza em todo o mundo”.
Já no conclave, dom Jaime percebeu um senso de esperança, oração e silêncio, de fraternidade e respeito. Para ele, a Ladainha de Todos os Santos e o cântico do Veni Creator foram de “arrepiar os pelos”. “Dentro da ambiência, você se dá conta do que está acontecendo”, contou.
Ele revelou que, ao cumprimentar o Papa Leão após a eleição, disse a ele: “Perdemos o pregador [do retiro da 62ª Assembleia Geral], mas ganhamos o Papa”. O retorno foi um bonito sorriso.

Esta que é a segunda reunião do Conselho Permanente de 2025, em sua última sessão, seguiu com os informes econômico e dos organismos da Igreja no Brasil. Ao final do encontro, os bispos acompanharam a assinatura de um novo acordo de cooperação técnica da CNBB com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Essa é uma renovação de um acordo já firmado entre as duas entidades em junho de 2021, com o objetivo de realizar ações conjuntas para preservação e valorização do Patrimônio Cultural Material da Igreja Católica.
Luiz Lopes Jr