Aconteceu, na última quinta-feira, dia 26 de junho, em Roma, a peregrinação jubilar dos sacerdotes e o encontro deles com o Santo Padre, o Papa Leão XIV. Entre as várias atividades, uma chamou a atenção, quando milhares de sacerdotes se reuniram no Auditório Conciliação, que dá acesso à Praça São Pedro. Esse evento internacional foi promovido pelo Dicastério para o Clero. Creio ser importante ponderar algumas considerações do Papa para esse grupo ali reunido.
O título do encontro foi: “Sacerdotes felizes”. A partir desse tema, o Santo Padre fez sua reflexão, inspirando-se ainda no capítulo 15 do Evangelho segundo São João: “Eu vos chamo amigos”. O Sumo Pontífice afirmou que é possível ser feliz sendo sacerdote, pois foi Cristo quem nos chamou e nos fez seus amigos. A forma de agradecer a Deus pelo chamado recebido é viver com responsabilidade e alegria o ministério confiado.
“O sacerdote, com efeito, é um amigo do Senhor, chamado a viver com Ele uma relação pessoal e de confiança, nutrida pela Palavra, pela celebração dos Sacramentos e pela oração cotidiana. Esta amizade com Cristo é o fundamento espiritual do ministério ordenado, o sentido do nosso celibato e a energia do serviço eclesial ao qual dedicamos a vida. Ela nos ampara nos momentos de provação e nos permite renovar todos os dias o ‘sim’ pronunciado no início da vocação.” (Papa Leão XIV)
O Papa Leão XIV indicou aos presbíteros o caminho para se tornarem amigos de Cristo. Essa amizade deve ser cultivada ao longo de todo o processo formativo, desde a entrada no seminário. O passo fundamental para isso exige uma escuta profunda, meditação constante e uma vida interior rica e ordenada. O ministério sacerdotal só pode ser sustentado por meio de uma vida reta, alimentada pela oração.
Outro ponto que o Papa destacou como fundamental na vida sacerdotal é a fraternidade. O presbítero deve criar laços de amizade com os irmãos do presbitério e com os bispos. O sacerdote não deve temer ou ver o bispo como concorrente, nem viver o ministério de forma individualista. Os vínculos formados devem expressar uma Igreja sinodal, ou seja, todos caminhando juntos rumo ao mesmo objetivo.
O Sumo Pontífice destacou ainda outra dimensão essencial da vida do presbítero: ser capaz de amar, escutar, rezar e servir. Daí a necessidade de formadores que sejam verdadeiros exemplos de vida e vocação.
O Papa também exortou que os padres sejam promotores vocacionais, pois muitos jovens se inspiram nos sacerdotes para abraçar a vocação. Por isso, o sacerdote precisa ser uma pessoa feliz e realizada em seu ministério, a fim de inspirar novas vocações. O Sumo Pontífice lembrou que Deus continua a chamar e permanece fiel às suas promessas. É necessário, portanto, que as paróquias tenham uma pastoral vocacional ou juvenil, espaços de acolhida para os jovens que desejam discernir o chamado ao ministério.
O Pontífice exortou, ainda, que os presbíteros sejam missionários com coragem e amor. Ele nos chama a sermos uma Igreja em saída, como afirmava o Papa Francisco: padres que vão ao encontro das pessoas, anunciam o Evangelho e, sobretudo, ganham almas para Deus. O sacerdote é aquele que visita seus paroquianos, os encoraja na fé e não permite que desistam. Vivemos um tempo em que muitos se afastam da fé, mas o presbítero é chamado a ir em busca da ovelha perdida.
O Santo Padre agradeceu aos sacerdotes pelo esforço cotidiano, especialmente nos locais de formação, nas periferias existenciais e em ambientes difíceis — por vezes perigosos. Destacou, sobretudo, aqueles que chegaram ao ponto de doar a própria vida, derramando o próprio sangue. Agradeceu também por aquilo que os sacerdotes são, pois, segundo ele, “lembram a todos como é belo ser sacerdote e que o chamado do Senhor é para a alegria e felicidade, e não para a tristeza”. O sacerdote não é perfeito, mas é amigo de Cristo, irmão entre irmãos e filho da sua terna Mãe Maria. E isso é o suficiente.
Ao final do encontro, o Santo Padre interagiu com os presentes, perguntando a sua origem por continente e abraçando um deles em nome de todos. Acrescentou, ainda, a importância da vida espiritual na vida do presbítero.
O Papa exortou que, quando o padre sentir que precisa de ajuda, não hesite em procurar um diretor espiritual ou um bom confessor. Ninguém está só, mesmo em missões distantes. Reiterou, com palavras do Papa Francisco, o apelo para que os presbíteros vivam em proximidade com o Senhor, com o bispo ou superior, e entre si: “Temos uma grande missão e, juntos, podemos realizá-la.”
De minha parte, dirigindo-me ao amado clero da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, e fazendo minhas as palavras do Santo Padre, exorto a todos que, individualmente e como presbitério, sejamos pastores que buscam as ovelhas e, caminhando com o povo santo de Deus, o santifiquemos com nossa ação pastoral cotidiana. Tivemos a oportunidade de, neste mesmo dia, fazermos a nossa peregrinação jubilar dos padres da arquidiocese no Santuário Arquidiocesano Mariano de N. Sra. da Penha. Foi uma manhã abençoada. Agradeço pela participação e pelos belos momentos que vivemos juntos nesse dia.
Obrigado pelo testemunho dos nossos padres e pelo seu sim generoso em favor do anúncio e do testemunho do Evangelho — não sem muitos sacrifícios e inumeráveis incompreensões. Deus abençoe todos os nossos sacerdotes, e a Virgem Santíssima os sustente em seu labor pastoral!