A Igreja celebra, no dia 24 de junho, a Natividade de São João Batista com a solenidade própria de um nascimento singular. Junto com o Natal de Jesus e a Natividade de Maria, é uma das únicas comemorações litúrgicas que recordam o nascimento de uma pessoa — e não seu martírio ou outra passagem da vida. Isso já nos diz muito sobre quem é João Batista no mistério da salvação: ele foi escolhido desde o ventre para ser o Precursor, o que prepara os caminhos do Senhor (cf. Lc 1,17).
O nascimento de João é cercado de sinais. Isabel, sua mãe, era estéril e de idade avançada. O pai, Zacarias, duvidou do anúncio do anjo e ficou mudo até o nascimento da criança (cf. Lc 1,5-25). Tudo isso aponta para a origem divina daquela vida. João não é fruto apenas de um projeto humano, mas expressão de um plano de Deus para a humanidade.
Ao nascer, o menino é nomeado “João” — nome que ninguém na família tinha, mas que foi revelado pelo anjo: “o Senhor fez graça” (esse é o significado de Yohanan em hebraico). O nome já anuncia sua missão: ele é sinal da graça gratuita e radical de Deus, que visita o seu povo para conduzi-lo à conversão.
João Batista aparece nos evangelhos como a ponte entre o Antigo e o Novo Testamento. Ele é o último dos profetas e o primeiro dos testemunhos diretos da chegada do Messias. Jesus mesmo dirá: “Entre os nascidos de mulher, não surgiu ninguém maior que João Batista” (Mt 11,11). E João, por sua vez, afirma: “É necessário que ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30).
Ele vive no deserto, veste-se com pele de camelo, alimenta-se de gafanhotos e mel silvestre (cf. Mc 1,6). Sua vida é um apelo radical à conversão, à retidão, ao abandono da hipocrisia religiosa. Ele denuncia os abusos dos poderosos, critica a falsa segurança dos que confiam na religião mas não se abrem ao Reino.
Batizando no Jordão, ele inaugura um novo tempo. Mas sua grandeza está também em saber que ele não é o centro da história. João é a voz que clama no deserto, mas a Palavra é Jesus. João é a lâmpada, mas a luz verdadeira é o Cristo. João aponta, anuncia e sai de cena. Ele não retém discípulos para si; ensina-os a seguir o Cordeiro de Deus.
João termina a vida como começou: fiel à verdade. Ao denunciar publicamente o pecado de Herodes, que tomara por mulher a esposa de seu irmão, João é preso e, posteriormente, degolado a pedido de Herodíades, instigada pela filha (cf. Mc 6,17-29). Sua morte é mais um testemunho: o Reino de Deus exige coragem para denunciar o pecado mesmo diante do poder.
Celebrar São João Batista é um convite à vigilância. Ele nos ensina a sermos humildes diante da verdade de Deus, ousados para denunciar a mentira e firmes para anunciar o Reino. Seu nascimento é luz em tempos de escuridão, sinal de que Deus visita seu povo mesmo quando tudo parece estéril.
É também um convite à missão: quem prepara o caminho do Senhor hoje? Quem se dispõe, como João, a apontar o Cordeiro mesmo que isso custe a popularidade, a posição ou a própria vida?
Na liturgia, celebramos sua natividade com alegria, mas também com responsabilidade. Pois ele nos ensina que a verdadeira grandeza está em servir ao Reino e desaparecer para que Cristo cresça.