As leituras deste domingo nos convidam a refletir sobre o chamado de Deus em nossas vidas e sobre a resposta que damos a esse chamado.
A primeira leitura, retirada do livro do profeta Isaías (6,1-2a.3-8), nos apresenta a visão grandiosa que o profeta teve no templo. Ele vê o Senhor sentado em um trono elevado, enquanto os serafins proclamam: “Santo, santo, santo é o Senhor do Universo! A terra inteira está cheia da sua glória” (Is 6,3).
Diante dessa manifestação da santidade divina, Isaías se sente pequeno e indigno, reconhecendo seus pecados e os de seu povo. No entanto, um dos serafins toca seus lábios com uma brasa viva retirada do altar e diz: “Agora que isto tocou os teus lábios, desapareceu a tua culpa e o teu pecado está perdoado” (Is 6,7). Depois dessa purificação, Isaías ouve a voz do Senhor perguntando: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” (Is 6,8), ao que ele responde com generosidade e prontidão: “Eis-me aqui, podeis enviar-me” (Is 6,8).
Este chamado de Isaías ecoa na experiência de São Paulo, relatada na segunda leitura, retirada da Primeira Carta aos Coríntios (1Cor 15,1-11). Paulo recorda aos fiéis o Evangelho que lhes foi anunciado, a morte e ressurreição de Cristo segundo as Escrituras, e as aparições do Ressuscitado a Pedro, aos Doze e a muitos outros discípulos. Ele próprio se reconhece como um apóstolo fora do tempo, afirmando: “Eu sou o menor dos Apóstolos, nem sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus” (1Cor 15,9). No entanto, Paulo reconhece que foi a graça de Deus que transformou sua vida: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que ele me deu não tem sido inútil” (1Cor 15,10). Assim como Isaías, Paulo percebe sua indignidade, mas não recusa a missão que Deus lhe confia.
No Evangelho de hoje, retirado de Lucas (5,1-11), encontramos outra vocação marcante, a de Simão Pedro. Jesus está às margens do lago de Genesaré, onde uma multidão se reúne para ouvir a Palavra. Ele entra no barco de Pedro e pede que se afaste um pouco da terra, ensinando a partir dali. Depois da pregação, ordena a Pedro que lance as redes para pescar. Pedro responde: “Mestre, trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes” (Lc 5,5). O resultado é surpreendente: uma pesca tão abundante que as redes quase se rompem. Diante desse sinal, Pedro sente-se indigno, prostrando-se aos pés de Jesus e dizendo: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!” (Lc 5,8). Mas Jesus o tranquiliza: “Não tenhas medo; de agora em diante serás pescador de homens” (Lc 5,10). Então, Pedro, Tiago e João deixam tudo e seguem Jesus.
As três leituras deste domingo trazem um fio condutor muito claro: Deus chama pessoas comuns, que se reconhecem pecadoras e indignas, para participar de Sua obra. Isaías se considera impuro, Paulo se vê como um perseguidor convertido, Pedro se reconhece pecador. No entanto, em todos esses casos, a iniciativa parte de Deus, que não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos.
Este Evangelho nos convida a refletir sobre o nosso próprio chamado. Muitas vezes, como Pedro, podemos sentir que não somos dignos ou preparados para a missão que Deus nos confia. No entanto, Ele nos pede apenas que confiemos em Sua palavra. Pedro não questiona, não duvida; ele apenas lança as redes, e o milagre acontece. Da mesma forma, quando confiamos em Deus e nos dispomos a segui-Lo, Ele age em nós e por meio de nós.
Que este domingo nos inspire a dizer como Isaías: “Eis-me aqui, Senhor, podeis enviar-me” (Is 6,8). Que possamos reconhecer que a graça de Deus transforma nossas fraquezas em força, como ocorreu com São Paulo. E que, como Pedro, sejamos capazes de deixar tudo para seguir a Cristo, confiando plenamente em Sua palavra. Amém.