A liturgia do 32.º Domingo do Tempo Comum fala-nos do verdadeiro culto, do culto que agrada a Deus. Mais do que rituais litúrgicos solenes e majestosos, Deus espera de nós uma atitude permanente de entrega nas suas mãos, de disponibilidade para os seus projetos, de escuta atenta das suas indicações, de generosidade, de partilha, de solidariedade para com os nossos irmãos. Neste domingo a figura da viúva é enfatizada duas vezes na Liturgia: a viúva de Sarepta – pela sua hospitalidade – e a viúva do Templo – pela sua humildade e generosidade.
A primeira leitura – 1Rs 17,10-16 – apresenta-nos o exemplo de uma viúva pobre de Sarepta que, apesar da sua pobreza e necessidade, ouviu o apelo de Deus e repartiu os poucos alimentos que lhe restavam com o profeta Elias. A história dessa mulher garante-nos que a generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas são geradoras de vida abundante. A viúva de Sarepta, do Primeiro Livro dos Reis, destaca-se por sua hospitalidade e é agraciada com o milagre que o profeta Elias concedeu por meio de sua bênção: a abundância.
O Evangelho – Mc 12,38-44 – convida-nos a ver, pelos olhos de Jesus, duas formas diferentes de “dar culto” a Deus. De um lado estão os “escribas”, homens-modelo de uma religião solene e formal, mas também vazia, hipócrita, teatral, fomentadora da exploração dos mais pobres, usada para fins egoístas de promoção pessoal; do outro lado está uma viúva pobre e humilde, mas que tem um coração generoso, que confia plenamente em Deus, que aceita viver num despojamento total de si própria para “dar tudo” a Deus. Jesus propõe-na aos discípulos que estão com Ele no átrio do templo como modelo do culto que devem prestar a Deus. A viúva que estava no Templo, com sua atitude de humildade e generosidade, chamou a atenção de Jesus, que lhe fez um grande elogio. Na primeira parte do texto evangélico, Jesus critica os escribas, dizendo que “eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações” (Mc 12,40), deixando claro que eles não são um exemplo a imitar. Na segunda parte, Jesus observa as ofertas do povo no Templo, inclusive as grandes quantias dos ricos. Mas chama-lhe a atenção a oferta de uma viúva pobre, que entrega duas moedas que não valiam quase nada. Na fala de Jesus a seus Discípulos (Mc 12,43-44), essa pobre viúva desponta como exemplo a ser seguido, pois ela “ofereceu aquilo que possuía para viver” (Mc 12,44). Ela se torna modelo para os seguidores de Jesus: de generosidade e de desapego.
A segunda leitura – Hb 9,24-28 – oferece-nos o exemplo de Cristo, o sumo-sacerdote perfeito. Na Antiga Aliança, o sumo sacerdote entrava uma vez por ano no santuário para oferecer o sacrifício em expiação pelos pecados do povo. Na Nova Aliança, Jesus entrou no santuário celeste, eliminando o pecado e dispensando os sacrifícios de purificação. Cumprindo o projeto do Pai, Ele deu aquilo que tinha de mais precioso: a sua própria vida. Mostrou-nos, com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e espera de cada um dos seus filhos: a entrega de nós próprios para que o seu projeto para o mundo e para o homem se concretize.
Neste domingo somos chamados a fazer pequenos gestos que constroem. Os gestos “insignificantes” das pessoas humildes e escondidas são os que constroem a comunidade. Elas nem sempre são reconhecidas e valorizadas, mas suas atitudes e gestos silenciosos fazem a diferença. Trata-se de pessoas despojadas que não vivem de aparência nem buscam visibilidade, status ou poder. Que ao contemplar o gesto das duas pobres viúvas, possamos ir ao encontro dos últimos da sociedade. Lembremos que a hospitalidade da primeira viúva de Sarepta é recompensada por Deus e a generosidade da segunda viúva do Templo é elogiada por Jesus. Na sua pobreza elas ofereceram tudo aquilo que possuíam para viver. Façamos justiça aos oprimidos e alimentemos quem mais precisa e passa fome como as duas viúvas de hoje!
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá, PR