A Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, celebrada no último domingo do Tempo Comum, marca o final do calendário litúrgico da Igreja Católica. É o 34º domingo do tempo comum, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. O Diretório Litúrgico recomenda que nesse dia se faça o Ato de consagração do gênero humano a Jesus Cristo Rei. Nesse domingo inicia no Brasil a Campanha para a Evangelização e é celebrado o Dia dos leigos e leigas.
Esta solenidade instituída em 1925 pelo Papa Pio XI, essa festa solene destaca o reinado de Cristo sobre toda a criação, reafirmando sua soberania sobre o mundo e a vida dos cristãos. Ela é uma proclamação da realeza de Cristo, um rei que não governa por meio da força, mas com amor, justiça e verdade.
A Solenidade de Cristo Rei foi instituída pelo Papa Pio XI em 11 de dezembro de 1925, através da Encíclica Quas Primas. A criação dessa festa ocorreu em um contexto histórico particular: o mundo estava se recuperando da Primeira Guerra Mundial e enfrentando grandes mudanças políticas e sociais. O Papa percebeu que a secularização crescente e os regimes totalitários que surgiam ameaçavam a centralidade de Cristo na vida dos fiéis. Ao instituir a festa de Cristo Rei, Pio XI pretendia reafirmar que, apesar dos desafios do mundo moderno, Cristo permanece soberano, e todos os reinos e poderes terrenos estão sob seu domínio.
Na Encíclica, o Papa escreveu sobre a importância de reconhecer o reinado universal de Cristo, não apenas no âmbito espiritual, mas também em todas as esferas da vida. Ele enfatizou que a paz verdadeira só pode ser alcançada quando os indivíduos e as nações reconhecerem Cristo como Rei e Senhor de tudo.
Inicialmente, a festa de Cristo Rei era celebrada no último domingo de outubro, mas com a reforma do calendário litúrgico após o Concílio Ecumênico Vaticano II, ela foi transferida para o último domingo do Tempo Comum, antes do Advento. Essa mudança reflete a intenção de associar a realeza de Cristo como meta final do ano litúrgico e ao fim dos tempos, quando Ele voltará em glória para julgar o mundo e estabelecer definitivamente seu reino de paz e justiça.
A Solenidade de Cristo Rei tem um profundo significado teológico que ressalta alguns aspectos importantes, entre os quais: a soberania de Cristo, a natureza do seu reino e o chamado dos cristãos a viverem sob sua realeza.
A realeza de Cristo é um tema central nas Escrituras. Desde o Antigo Testamento, há várias referências à vinda de um rei messiânico que governaria com justiça e paz. Essas profecias se cumprem em Jesus Cristo, que, no Novo Testamento, é revelado como o Rei dos reis e Senhor dos senhores. A solenidade, portanto, celebra a soberania universal de Cristo sobre toda a criação, tanto no céu quanto na terra.
Na visão cristã, Jesus é um rei diferente dos reis terrenos. Seu poder não é baseado na força militar ou na opressão, mas no amor, no serviço e no sacrifício. No Evangelho, Jesus mesmo afirma: “Meu reino não é deste mundo” (João 18, 36). Ele veio para testemunhar a verdade e salvar o mundo através de sua paixão, morte e ressurreição. Ao coroar o ano litúrgico com a solenidade de Cristo Rei, a Igreja proclama que Cristo reina não só no presente, mas também por toda a eternidade.
O reino de Cristo é, antes de tudo, um reino espiritual. Ele não está limitado por fronteiras geográficas ou políticas, mas se estende a todas as pessoas que aceitam sua autoridade e vivem de acordo com seus mandamentos. No entanto, esse reino também possui implicações sociais e políticas, já que os valores do Evangelho – amor, justiça, paz, verdade e solidariedade – são fundamentais para a transformação da sociedade.
Jesus, como Rei, exerce sua autoridade através do amor e do serviço, e Ele convida todos os cristãos a participarem de seu reino, vivendo de acordo com esses mesmos princípios. O Reino de Cristo começa nos corações daqueles que o seguem e se manifesta em suas ações no mundo. Ao longo dos séculos, os cristãos são chamados a colaborar com a construção deste reino, trabalhando por um mundo mais justo, pacífico e solidário.
O reinado de Cristo também tem uma dimensão escatológica, ou seja, aponta para o fim dos tempos, quando Cristo retornará em glória para julgar vivos e mortos. Naquele momento, seu reino será plenamente estabelecido, e Ele entregará todas as coisas a Deus Pai, como descrito em 1 Coríntios 15, 24-28. Assim, a solenidade de Cristo Rei é um lembrete de que a história está caminhando em direção ao cumprimento definitivo do plano de Deus.
A Solenidade de Cristo Rei é também um convite para que os fiéis reconheçam a autoridade de Cristo em suas próprias vidas. Os cristãos são chamados a submeter todas as áreas de suas vidas ao reinado de Jesus: suas famílias, seus trabalhos, suas decisões e suas aspirações. Cristo deve ser o centro de todas as ações e pensamentos, e seu exemplo de amor, serviço e humildade deve guiar o comportamento de cada seguidor.
A submissão ao reinado de Cristo implica viver segundo os valores do Evangelho, o que muitas vezes pode entrar em conflito com os valores do mundo. No entanto, é justamente esse testemunho fiel que contribui para a construção do reino de Deus na terra. Ser súdito de Cristo significa abraçar a cruz, amar os inimigos, perdoar as ofensas e lutar pela justiça e pela paz.
As leituras escolhidas para a Solenidade de Cristo Rei refletem profundamente os temas de soberania e juízo, e como Cristo exerce seu reinado. Cada ciclo litúrgico apresenta uma seleção de passagens que reforçam essas ideias.
A primeira leitura costuma ser retirada de um dos textos proféticos do Antigo Testamento, como Ezequiel 34, 11-12.15-17. Nessa passagem, Deus se apresenta como o Bom Pastor que cuida de seu rebanho, buscando as ovelhas perdidas e curando as feridas. Este é um retrato messiânico de Cristo, que veio para governar seu povo com compaixão e justiça.
Na segunda leitura, uma das cartas de São Paulo frequentemente é usada para expressar o domínio de Cristo sobre toda a criação e seu papel como aquele que, no final dos tempos, derrotará todos os inimigos, inclusive a morte. Um exemplo disso está em 1 Coríntios 15, 20-26.28, onde Paulo fala sobre a ressurreição de Cristo e seu reinado final.
O Evangelho para a Solenidade de Cristo Rei geralmente se concentra na figura de Cristo como juiz, com a famosa passagem do “Juízo Final” em Mateus 25, 31-46. Aqui, Jesus descreve a separação entre os justos e os injustos, baseada no amor e na compaixão demonstrados pelos outros. Esta leitura enfatiza que o reino de Cristo é construído sobre a caridade, e que os fiéis serão julgados por suas obras de misericórdia.
A Solenidade de Cristo Rei tem implicações profundas para a vida cristã. Primeiramente, ela nos desafia a reconhecer que Jesus é o verdadeiro soberano de nossas vidas e que devemos submeter nossos desejos, decisões e ações à sua autoridade. Isso significa viver de acordo com os valores do Evangelho e promover a justiça, o amor e a paz em nossas comunidades.
Em segundo lugar, a solenidade nos lembra que, como membros do Corpo de Cristo, somos chamados a trabalhar pela construção do reino de Deus aqui na Terra. Isso envolve um compromisso com os marginalizados, os pobres e os oprimidos, seguindo o exemplo de Cristo, que se doou completamente em serviço ao próximo.
Essa festa nos aponta para o futuro, quando Cristo retornará em glória para estabelecer definitivamente seu reino. A Solenidade de Cristo Rei nos convida a viver com essa esperança, sabendo que o reinado de Cristo, embora já presente, será plenamente realizado no final dos tempos.
A Solenidade de Cristo Rei é uma celebração profunda da soberania de Cristo sobre o universo e um convite para que todos os cristãos reconheçam sua realeza em suas vidas diárias. Instituída para reafirmar a centralidade de Cristo em um mundo cada vez mais secularizado, essa festa continua a nos lembrar que Cristo é o verdadeiro Senhor da história e que, como seus seguidores, somos chamados a viver em conformidade com seu reino de amor, justiça e paz. Ao coroar o ano litúrgico, a festa de Cristo Rei nos convida a renovar nossa fé e nosso compromisso com o Evangelho, confiantes de que, no final, Cristo triunfará sobre todas as coisas.