Thulio Fonseca – Vatican News
A Terra Santa, assolada pelo ódio e pelo som das armas, mas também a preocupação com os atos antissemitas, a importância do diálogo e a relação judaico-cristã, estiveram no centro do discurso que o Papa entregou à Conferência dos Rabinos Europeus.
Ao receber a delegação, Francisco deu-lhes as boas-vindas e, afirmou: “acontece que não estou bem de saúde, e por isso prefiro não ler o discurso, mas entregá-lo a vocês e que vocês o façam”.
Não à violência e à guerra
No discurso preparado para a ocasião, o Papa afirma que o seu primeiro pensamento e sua primeira oração “são, acima de tudo, sobre o que aconteceu nas últimas semanas”. Novamente, recorda o Pontífice, “a violência e a guerra explodiram na Terra que, abençoada pelo Altíssimo, parece estar sendo continuamente contrariada pela baixeza do ódio e pelo barulho mortal das armas”, e ressaltou: “é preocupante a disseminação de manifestações antissemitas, que eu condeno firmemente”.
Francisco sublinha aos Rabinos que neste tempo de destruição, somos chamados, por todos e antes de todos, a construir a fraternidade e a abrir caminhos de reconciliação, em nome do Todo-Poderoso que, como diz outro profeta, tem “planos de paz e não de desgraça” (Jr 29:11). Não as armas, nem o terrorismo, nem a guerra, mas a compaixão, a justiça e o diálogo são os meios adequados para construir a paz.
A arte de dialogar
O ponto principal do texto de Francisco, entregue aos Rabinos Europeus, é sobre a importância do diálogo: “O ser humano, que tem uma natureza social e se encontra em contato com os outros, é realizado na rede de relações sociais. Nesse sentido, ele não só é capaz de dialogar, como também é o próprio diálogo. Suspenso entre o céu e a terra, somente em diálogo com o Além que o transcende e com o Outro que acompanha seus passos, ele pode compreender a si mesmo e amadurecer”, destaca o Santo Padre.
Francisco então explica que a palavra “diálogo” etimologicamente significa “por meio da palavra”. A Palavra do Altíssimo é a lâmpada que ilumina os caminhos da vida (cf. Sl 119,105): ela orienta nossos passos precisamente para a busca do próximo, para a acolhida, para a paciência; certamente não para a súbita corrida da vingança e a loucura do ódio bélico.
“Para nos tornarmos construtores da paz, somos chamados a ser construtores do diálogo. Não apenas com nossas próprias forças e habilidades, mas com a ajuda do Todo-Poderoso. Pois, “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores” (Sl 127, 1).”
Proximidade entre judeus e cristãos
Segundo o Papa, o diálogo com o judaísmo é de particular importância para os cristãos, “porque temos raízes judaicas. Jesus nasceu e viveu como judeu; Ele mesmo é o primeiro garantidor da herança judaica dentro do cristianismo e nós, que somos de Cristo, precisamos de vocês, queridos irmãos, precisamos do judaísmo para nos entendermos melhor”.
“Nossas tradições religiosas estão intimamente conectadas: elas não são dois credos não relacionados que se desenvolveram independentemente em espaços separados e sem influenciar um ao outro. O Papa João Paulo II, durante sua visita à Sinagoga de Roma, observou que a religião judaica não é extrínseca, ‘mas, de certa forma, é ‘intrínseca’ à nossa religião’. Ele os chamou de ‘nossos amados irmãos’, ‘nossos irmãos mais velhos’, recordou o Pontífice.
“Portanto, pode-se dizer que o nosso diálogo, mais do que um diálogo inter-religioso, é um diálogo familiar. De fato, quando fui à Sinagoga de Roma, disse que ‘pertencemos a uma só família, a família de Deus, que nos acompanha e nos protege como seu povo’.”
O discurso de Francisco conclui com a afirmação de que judeus e cristãos estão ligados uns aos outros diante do único Deus: “juntos, somos chamados a dar testemunho, com nosso diálogo, de sua palavra e, com nossa conduta, de sua paz”.