Afinal, “os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir”
Um dos maiores clássicos da espiritualidade católica de todos os tempos é o livro “A Imitação de Cristo”, escrito no século XV e atribuído ao padre alemão Thomas Hemerken, mais conhecido como Thomas de Kempis – Kempis é a forma latina do nome da sua cidade natal, Kempen.
Originalmente voltado aos clérigos de vida reclusa, o texto é um tesouro para todo e qualquer católico, tanto que chegou a ser um dos livros mais traduzidos no mundo, com milhares de cópias distribuídas pelas bibliotecas europeias mesmo antes da invenção da imprensa. Para exemplificar a sua capacidade de impacto na alma de uma pessoa, basta recordar que Santo Inácio de Loyola leu a obra durante o tempo de retiro espiritual que passou em uma gruta de Manresa, na Espanha, e foi esse texto que o inspirou a conceber os Exercícios Espirituais.
“A Imitação de Cristo” tem 4 partes, sendo as duas primeiras uma introdução à vida espiritual, a terceira um diálogo entre Cristo e a alma e a quarta é toda focada na Eucaristia.
Destacamos a seguir os 5 conselhos cruciais que encontramos em “A Imitação de Cristo”, Livro 1, Capítulo 1:
1 | Devemos dedicar o máximo esforço a imitar a vida e os costumes de Jesus
“Quem me segue não anda nas trevas, diz o Senhor (Jo 8,12). São estas as palavras de Cristo, pelas quais somos advertidos que imitemos sua vida e seus costumes, se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda cegueira de coração. Seja, pois, o nosso principal empenho meditar sobre a vida de Jesus Cristo”.
2 | Podemos venerar qualquer santo, mas devemos sempre priorizar Jesus
“A doutrina de Cristo é mais excelente que a de todos os santos, e quem tiver seu espírito encontrará nela um maná escondido. Sucede, porém, que muitos, embora ouçam frequentemente o Evangelho, sentem nele pouco enlevo: é que não possuem o Espírito de Cristo. Quem quiser compreender e saborear plenamente as palavras de Cristo, é-lhe preciso que procure conformar à dele toda a sua vida”.
3 | Podemos cultivar conhecimento e sabedoria, mas devemos priorizar a vida virtuosa
“Que te aproveita discutires sabiamente sobre a Santíssima Trindade, se não és humilde, desagradando, assim, a essa mesma Trindade? Na verdade, não são palavras elevadas que fazem o homem justo; mas é a vida virtuosa que o torna agradável a Deus. Prefiro sentir a contrição dentro de minha alma, a saber defini-la. Se soubesses de cor toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem a caridade e a graça de Deus? Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade (Ecl 1,2), senão amar a Deus e só a ele servir. A suprema sabedoria é esta: pelo desprezo do mundo tender ao reino dos céus”.
4 | Devemos reconhecer o que é mera vaidade para não nos perdermos nela
“Vaidade é, pois, buscar riquezas perecedoras e confiar nelas. Vaidade é também ambicionar honras e desejar posição elevada. Vaidade, seguir os apetites da carne e desejar aquilo pelo que, depois, serás gravemente castigado. Vaidade, desejar longa vida e, entretanto, descuidar-se de que seja boa. Vaidade, só atender à vida presente sem providenciar para a futura. Vaidade, amar o que passa tão rapidamente, e não buscar, pressuroso, a felicidade que sempre dura”.
5 | Podemos desfrutar dos prazeres sadios, mas nunca sacrificar a vida da graça
“Lembra-te a miúdo do provérbio: Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir (Ecl 1,8). Portanto, procura desapegar teu coração do amor às coisas visíveis e afeiçoá-lo às invisíveis: pois aqueles que satisfazem seus apetites sensuais mancham a consciência e perdem a graça de Deus”.