“Que Nossa Senhora nos ajude a compreender quais são os verdadeiros bens da vida, aqueles que permanecem para sempre”: foi o pedido do Papa à Virgem Maria no Angelus ao meio-dia deste XVIII Domingo do Tempo Comum.
Refletindo sobre a página do Evangelho do dia, Francisco destacou a passagem em Lc 12,13 em que um homem dirige um pedido a Jesus: “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança”. É uma situação muito comum, problemas semelhantes ainda são atuais: quantos irmãos e irmãs, quantos membros da mesma família infelizmente brigam, e talvez não falem mais um com o outro, por causa da herança! – frisou o Papa.
A ganância, uma doença que destrói as pessoas
O Pontífice observou que Jesus, respondendo a este homem, não entra em detalhes, mas vai à raiz das divisões causadas pela posse das coisas, e diz: “Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez”.
O que é a cobiça? É a ganância desenfreada pelos bens, o querer sempre enriquecer-se. É uma doença que destrói as pessoas, porque a fome de posses gera dependência. Sobretudo aquele que tem tanto nunca se dá por satisfeito: sempre quer mais, e somente para si mesmo. Mas desta forma não é mais livre: é apegado, escravo daquilo que paradoxalmente deveria servir-lhe para viver livre e sereno. Em vez de servir-se do dinheiro, se torna servo do dinheiro. Mas a ganância é uma doença perigosa também para a sociedade: por causa dela chegamos hoje a outros paradoxos, a uma injustiça como nunca antes na história, onde poucos têm muito e muitos têm pouco ou nada. Pensemos também nas guerras e conflitos: o anseio por recursos e riqueza está quase sempre envolvido. Quantos interesses estão por trás de uma guerra! Certamente, um deles é o comércio de armas. Este comércio é um escândalo ao qual não devemos e não podemos nos resignar.
“Parar e negociar”: novo apelo do Papa em favor da Ucrânia
Francisco acrescentou que Jesus nos ensina hoje que, no cerne de tudo isso, não há apenas alguns poderosos ou certos sistemas econômicos: há a ganância que está no coração de cada um.
Dito isso, o Santo Padre convidou-nos a refletir sobre algumas perguntas:
Como está meu desapego dos bens, das riquezas? Eu me queixo do que me falta ou sei dar-me por satisfeito com o que tenho? Sou tentado, em nome do dinheiro e das oportunidades, a sacrificar as relações e o tempo para os outros? E mais ainda, me ocorre sacrificar a legalidade e a honestidade no altar da ganância? Eu digo “altar” porque bens materiais, dinheiro, riquezas podem se tornar um culto, uma verdadeira idolatria. Portanto, Jesus nos adverte com palavras fortes. Ele diz que não se pode servir a dois senhores, e – tenhamos cuidado – não diz Deus e o diabo, ou o bem e o mal, mas Deus e as riquezas. Servir-se da riqueza sim; servir a riqueza não: é idolatria, é ofender a Deus.
A vida não depende do que se possui
Então – podemos pensar – não se pode desejar ser rico? O Pontífice respondeu: é claro que se pode, de fato, é justo desejá-lo, é bom se tornar rico, mas rico segundo Deus! Deus é o mais rico de todos: é rico em compaixão, em misericórdia. Sua riqueza não empobrece ninguém, não cria brigas e divisões. É uma riqueza que ama dar, distribuir, compartilhar.
Antes de concluir, o Papa lembrou, por fim, o que realmente conta na vida:
Irmãos, irmãs, acumular bens materiais não é suficiente para viver bem, porque – diz Jesus novamente – a vida não depende do que se possui (cf. Lc 12,15). Em vez disso, depende de bons relacionamentos: com Deus, com os outros, e também com aqueles que têm menos. Então, nós nos perguntemos: como eu quero me enriquecer? De acordo com Deus ou de acordo com a minha ganância? E voltando ao tema da herança, que herança eu quero deixar? Dinheiro no banco, coisas materiais, ou pessoas contentes ao meu redor, boas obras que não são esquecidas, pessoas que eu ajudei a crescer e amadurecer?
Raimundo de Lima – Vatican News