Ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai em paz e não peques mais (Jo 8-11).
Os Evangelhos não são, meras crônicas históricas. São evangelização e catequese. No relato Jesus voltava de sua oração, no monte das oliveiras. Ele sabia que sua hora estava se aproximando, por isso, se preparou. Vai ouvir o Pai e retorna ao templo para evangelizar e ensinar, muitos querem ouvi-lo. Outros, porém, pretendem provoca-lo, com o intuito de acusa-lo, pois conheciam bem a lei. (Lv 20-10).
É uma cilada, a lei condenava tais mulheres e a sociedade de então também. Por isso interrogaram Jesus: O que dizes tu? Ele estava diante de uma opção, pois se tratava de uma cilada. Dissesse “eu também a condeno, como podia a lei ele perderia muito a fama de misericordioso. Se a perdoasse, iria contra a lei. Afirma o texto que Jesus se inclinou e escreveu no chão. O que? Não sabemos. Poderia ter escrito os pecados dos acusadores. De fato, porque saíram, tão ligeiro, começando pelos mais velhos, as raposas mais astutas. NB nos primeiros tempos da igreja esse capitulo oitavo tinha sido arrancado do evangelho. Parecia ser escandaloso Jesus acolher uma prostituta. Era diametralmente contra a lei. Contudo, Jesus o verdadeiro interprete da mesma não foi contra a lei, levando-a a perfeição. Aplicou o espirito da lei.
Muitos, também hoje, não interpretam bem a igreja. Verbi Gratia: se defende os pobres é comunista. Se os condena seria moralista, legalista ou então capitalista. Jesus, no entanto, não perguntou: Quem cometeu essa imoralidade (safadeza)? Eles ou tu. Não deu de dedo na mulher. Transformou-a, dizendo-lhe vai em paz e não peques mais. Não afirmou, eu te perdoo hoje, mas na próxima te mando para o inferno. Ninguém abona mais o pecado do que Jesus, pois veio salvar o que estava perdida. Como Messias veio ao encontro dos pecadores e não para julgá-los ou condená-los.
Não estamos nós continuamente a atirar pedras, como os doutores da lei, contra os infelizes? Não usamos nossa língua contra os fracos? E humildes? Porque os acusadores que apareceram nesse evangelho saíram imediatamente: Tinham culpa no cartório? Sim. Tinham-na. Hoje tais hipócritas podemos ser nós: eu, tu, etc. Então Jesus nos dirá: misericórdia, eu quero e não sacrifício, salvação e não condenação. Jesus não é contra a Justiça? Seguramente, não. Está acima, pois é amor (1Jo 4, 8-16).
Jesus ficou sozinho com a mulher. Como assim? Os puritanos moralistas se haviam retirado. Ainda bem. Mas onde ficou o povo? E os discípulos evaporaram? Não. Para realizar o bem, em situações difíceis podemos ficar sozinhos. Não precisamos chamar, contudo a televisão. Jesus ficou sozinho com a mulher. Assim mesmo ela se sentiu muito segura. Também nós hoje devemos ser mais amor do que da justiça, do perdão do que da incriminação. Os discípulos devem ser semelhantes ao mestre. Por isso mesmo a igreja presa tanto o sacramento do perdão. Onde se encontram juntos, somente dois: O confessor e o penitente: ambos pecadores.
+ Dom Carmo João Rhoden
Bispo Emérito de Taubaté
Presidente da Pró Saúde