A cidade e a Arquidiocese de São Sebastião do Rio Janeiro já tem uma “Venerável”, a menina Odette Vidal Cardoso, tão pequena, um lírio de pureza, mas tão grande na fé, e um sinal que a santidade é para todos, independente da idade e do lugar onde o Senhor plantou para dar frutos de vida eterna.
O anúncio que o Papa Francisco tinha assinado o decreto de reconhecimento de suas virtudes heroicas, a venerabilidade, foi publicada no dia 25 de novembro, exatamente no mesmo dia de sua morte há 82 anos e data que se comemorou no Brasil, neste ano, o Dia Mundial de Ação de Graças. Na verdade, foi um dia de graça para a Igreja no Rio de Janeiro. Apenas um passo de seu processo, mas um dia, se for da vontade de Deus, com a beatificação e a canonização, ela será conhecida e venerada por toda a Igreja, no mundo inteiro.
Nossa ação de graças por este acontecimento aconteceu no dia 27 de novembro, durante a Festa da Unidade, realizada na Catedral de São Sebastião, e também no dia seguinte, 28 de novembro, na Basílica da Imaculada Conceição, em Botafogo, local onde ela participava da catequese e onde se encontram seus restos mortais, desde o dia 20 de janeiro de 2013, no dia da festa do padroeiro São Sebastião, ano em que a Arquidiocese do Rio recebeu a visita apostólica do Papa Francisco, primeira do seu pontificado, por ocasião da Jornada mundial da Juventude. O processo de investigação arquidiocesana foi aberto dois dias antes, em 18 de janeiro de 2013, na Paróquia Nossa Senhora da Glória, em Laranjeiras.
Depois de mais de quatro séculos da presença da Igreja no Rio de Janeiro, é a primeira Venerável. Uma carioca de fato, da gema, como costumamos dizer. Odetinha, carinhosamente conhecida e chamada por todos nós, nasceu No Rio de Janeiro, em Madureira, no dia 18 de fevereiro de 1931, há 90 anos, filha de pais de origem portuguesa, Augusto Ferreira Cardoso e Thereza de Jesus Vidal, conhecida por Alice. Viveu sua vida entre os bairros de Laranjeiras e Botafogo (estudos, residência, participação na Igreja).
A fama de santidade de Odetinha nos foi apresentada pelo então bispo auxiliar Dom Nelson Francelino Ferreira, hoje bispo de Valença (RJ), durante uma reunião do Governo Arquidiocesano. Foi quando criamos um escritório (departamento) para a Causa dos Santos, em âmbito arquidiocesano, nomeando como delegado o abade beneditino Dom Roberto Lopes. Tempos depois, mais dois outros processos foram abertos: do jovem médico, surfista e seminarista Guido Vidal França Schäffer, e do Casal Zélia e Jerônimo de Castro Abreu Magalhães. Nosso departamento acompanha também um processo antigo de uma carmelita que há tempos está parado em Roma e que depende do postulador da ordem.
As pesquisas para a elaboração do processo de Odetinha, a fase arquidiocesana, revelou que ela partiu para a vida eterna com fama de santidade. O primeiro biógrafo padre Afonso Germe, religioso dos Padres da Missão de São Vicente de Paulo, que também era seu diretor espiritual e confessor, deixou a obra “Um lírio”, na qual registrou, apesar de sua vida tão curta, a intensidade de como viveu as virtudes da fé.
O sepultamento, conforme o testemunho de pessoas que conheceram Odetinha e seus familiares, dizem que foi uma verdadeira manifestação de fé, inclusive com a presença de pessoas pobres que eram, por seu intermédio, socorridos pela sua mãe. O túmulo, no Cemitério de Botafogo, até a data exumação de seus restos mortais, era local de peregrinação, com muitas placas de “graça alcançada” por sua intercessão.
Odetinha morreu há 82 anos, vítima do Tifo, no dia 25 de novembro de 1939, aos nove anos, depois de enfrentar a doença por 49 dias com muita resignação, fortaleza e confiança em Deus. O que ela pedia apenas, nesse período, era receber a Sagrada Comunhão. Nos últimos dias, ela recebeu também os sacramentos do Crisma e da Unção dos Enfermos.
Após o exame do processo arquidiocesano, as virtudes heroicas de Odetinha foram confirmadas pelos oficiais do Congresso de Teólogos, no Vaticano, no dia 8 de fevereiro deste ano, e pelo colegiado da Pontifícia Congregação para a Causa dos Santos, no último dia 9 de novembro. O consultor histórico da Congregação para a Causa dos Santos, professor Gaetano Passarelli, ao organizar a biografia oficial de Odetinha, a chamou de “pequena mística”.
Entre suas virtudes heroicas, Odetinha destaca-se por seu amor a Jesus Cristo presente no Santíssimo Sacramento, a ponto de ser chamada de “Mística da Eucaristia”. Ela tinha convicção de quem era Deus e o valor do sacramento e, por isso, recebeu a Primeira Comunhão aos seis anos, no dia 15 de agosto de 1937. Na companhia de sua mãe, a quem aprendeu a conhecer os mistérios da misericórdia de Deus, participava todos os dias da missa. No “Terço do Amor”, que até hoje se reza nas missas da Basílica de Botafogo, no dia 25 de cada mês, Odetinha repetia a jaculatória “Meu Jesus, eu vos amo”. No último momento de sua vida, ela também implorou pelo seu doce Jesus: “me leve para o céu”.
Somos privilegiados por ter Odetinha como Venerável, um exemplo de santidade, e por ser testemunhas da bondade de Deus que deseja que nossa fé, atitudes e o modo de ser seja vivenciado com o olhar e coração de uma criança. Nesta cidade de tantos homens e mulheres que viveram uma vida de santidade, temos agora uma carioca que a igreja reconhece oficialmente que é um exemplo de vida cristã e que a viveu em grau heroico e que está a caminho da beatificação e canonização. Ela é um exemplo para as crianças, os jovens, para um de nós somos convidados a uma vida de conversão, da busca de Deus, de dar testemunho em quem nós cremos.