Celebração e reflexão sobre o mandato evangelizador a partir da realidade do povo negro do Brasil. A Pastoral Afro-Brasileira celebrou no início deste mês a 25ª Romaria das Comunidades Negras Católicas ao Santuário Nacional de Aparecida. Junto com a missa inculturada na casa da Mãe Aparecida, a Negra Mariama, há a proposta apoiada pelos bispos do Brasil de se aprofundar a reflexão sobre o trabalho evangelizador a partir da realidade concreta das comunidades afro-brasileiras.
Aparecida
A celebração da 25ª Romaria das Comunidades Negras Católicas foi no último 6 de novembro, em Aparecida. Bispos, padres, comunidades quilombolas, irmandades negras católicas estiveram no Santuário de Aparecida representando mais de 54% da população brasileira, que tem consciência da sua afro-descendência, de acordo com a Pastoral Afro-Brasileira.
O arcebispo de Feira de Santana (BA) e referencial da Pastoral, dom Zanoni Demettino Castro, avaliou a celebração da romaria como “um momento bonito, uma festa significativa para nosso povo” sob o manto de Nossa Senhora Aparecida, aclamada como a soberana quilombola.
Dom Zanoni agradeceu a oportunidade de “colocar a nossa vida, vida do nosso povo, as dores, as tristezas, as esperanças, as alegrias da nossa gente” aos pés da padroeira do Brasil. “E nesse dia fizemos memoria dos 40 anos da missa dos quilombos, que lembrou que aos 20 de novembro de 1695 tombava Zumbi dos Palmares, grande ícone da resistência do povo negro, um grande ícone da luta contra toda a escravidão”, destacou.
“Essa celebração para nós, esse momento de Deus, esse grande kairós, é oportunidade de ter esse mistério de Deus em nossa vida. Compreender que esse Deus não nos abandona e que a vida concreta, a realidade segura dos nossos povos, sobretudo do povo negro, faz parte da caminhada e do projeto evangelizador da Igreja no Brasil. Essa missa foi um momento bastante bonito, celebrando de maneira católica, seguindo as tradições, as normas, as orientações da liturgia, vendo a beleza, a riqueza, o modo tão bonito e expressivo de manifestar a nossa fé. Não de qualquer jeito, não de qualquer maneira, mas na alegria e na beleza de ser negro”, partilhou o arcebispo.
Refletir sobre o mandato evangelizador
Outra iniciativa da Pastoral neste mês de novembro foi a apresentação de dom Zanoni ao Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da CNBB da proposta de revisar e reeditar o texto de Estudos 85 da Conferência, sobre a Pastoral Afro-Brasileira. Os bispos deram apoio para que dom Zanoni inicie a mobilização de modo a construir o novo texto para ser apreciado pelo conjunto do episcopado.
“Nós nos perguntamos como ser fiel ao mandato evangelizador do Mestre Jesus, tendo em vista que a missão nossa é evangelizar, como ser fiel a esse mandato tendo em vista a realidade concreta da nossa gente, a maioria absoluta de afrodescendentes, sem nos esquecer da sua história, da sua origem, dessa realidade traçada pela escravidão, pelo sofrimento, pela dor?”
A partir dessa reflexão, a Pastoral Afro-Brasileira pretende ajudar na compreensão de sua missão evangelizadora, tendo o povo negro “como protagonista na construção de um mundo de paz”. O momento da Igreja, com a vivência de um caminho sinodal convocado pelo Papa Francisco, e as celebrações da Consciência Negra revelam como é considerado oportuno para “compreender a nossa missão e ter presente o nosso protagonismo”, segundo dom Zanoni.
Foto de capa: Janice Santos de Carvalho/reprodução Facebook