Tipos de sementes

    Celebramos neste final de semana o XVI domingo do tempo comum. O Evangelho (cf. Mt 13,24-43), continua o discurso de Jesus em parábolas, agora sobre a semente, de modo especial, a realidade da semente de mostarda.

             Para ilustrar o Evangelho do XVI domingo do tempo comum (Mt 13, 24-43, parábola do joio que cresce com o trigo), a liturgia apresenta como primeira leitura um trecho do livro da Sabedoria, explicando a paciência de Deus: Deus é tão grande que não lhe custa ter paciência e perdoar (Sb 12, 13.16-19).

             Este livro chama-se “sabedoria de Salomão”, porque os capítulos 7 a 9 são postos na boca desse rei que era considerado pelos antigos judeus como o rei sábio por excelência (cf. 1 Reis 3,9-12; Sb 8). O livro tem importância especial para nós, cristãos, porque é dos mais recentes do Antigo Testamento e por isso se aproxima, no tempo, dos escritos no Novo Testamento.

             O livro pode ser dividido em três grandes seções. A primeira seção (caps.1-5) comenta o destino humano segundo o plano de Deus, ressaltando a imortalidade que é a recompensa final dos justos. A segunda seção (6-10) é um elogio a Sabedoria, que culmina na prece de Salomão por possuí-la (cap 9). No cap 10, a Sabedoria é apresentada como mestra da história. A terceira seção (11-19) é uma meditação sobre o êxodo do Egito, ou melhor, uma grande alegoria. Mostrando que em tudo Deus deu vantagem aos israelitas sobre os egípcios, o autor polemiza contra os cultos idolátricos no tempo do helenismo e do Império Romano.

             Portanto, a primeira leitura nos mostra a soberania e a majestade de Deus, pois, “A tua força é princípio da tua justiça, e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente” (Sb 12, 16). Nesta primeira leitura vemos que Deus diante do julgamento age com justiça: “Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas e a quem devas mostrar que teu julgamento não foi injusto” (Sb 12, 13).

             A segunda leitura (Rm 8,26-27): “o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26). Este trecho da carta aos Romanos, mostra-nos que o Espírito Santo é que olha e vela por cada um de nós. E este Espírito que age em nós e intercede por todos os Santos.

             No Evangelho (cf. Mt 13, 24-43) apresenta três parábolas sobre o Reino de Deus. Elas iluminam uma questão que nos colocamos muitas vezes: por que o bem e o mal se apresentam juntos? Por que é que Deus permite que haja a imperfeição, o mal, o pecado, mesmo nas Comunidades mais perfeitas? Com todos os meios deixados por Cristo para se atingir a perfeição, por que tantos maus discípulos? Estas questões certamente eram colocadas no tempo em que foi escrito o Evangelho. A parábola do trigo e do joio mostra-se o grande respeito que Deus manifesta pela liberdade das pessoas. Deus semeia o bem no campo do mundo. Mas não força ninguém a receber o presente. Deixa conviver o mal com o bem. Este fenômeno verifica-se não só dentro da Comunidade. Existe também dentro de cada pessoa. Importa que cultivemos com paciência o bem. Ele não se impõe. É como o grão de mostarda. Pequenino, vai se desenvolvendo e aparece como arbusto vistoso. O bem é comparado ainda ao fermento que, invisível, acaba transformando toda a massa. Assim é o Reino de Deus. Não se impõe de fora, mas age a partir de dentro, pela ação do Espírito Santo. Deste modo de agir de Deus a Comunidade eclesial tem muito a aprender. É preciso valorizar a semente de trigo presente no coração de cada pessoa; cultivá-la com paciência e profundo respeito. Respeitar o processo de amadurecimento de cada pessoa, usando de paciência. Acreditar na possibilidade de arrependimento e de conversão. Dar tempo para que as pessoas se arrependam. A mística do Reino de Deus exige perseverança no bem e profundo respeito diante de cada pessoa.

             A parábola constitui, pois, um chamado à vigilância, a não deixar passar em vão a hora da graça e a estar preparados para a ceifa, porque tal como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo”. Então, “todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal, serão lançados na fornalha de fogo, enquanto os justos brilharão como o sol no Reino de Seu Pai” (Mt 13, 40-43). Contudo, somos chamados a entregar a nossa vida nas mãos de Deus e é claro, ser fermento na massa. Ser fermento significa: colocar Deus em primeiro lugar e ter sempre um olhar de amor e de caridade com aqueles que mais necessitam.

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