Maria Eduarda Góis – Cidade do Vaticano
Na realidade contemporânea, provamos uma verdadeira revolução causada pela internet e as novas tecnologias: meios que possibilitam o alcance rápido, e até instantâneo, de todo e qualquer tipo de informação. É impossível, hoje, pensar as ações humanas desconectadas do ambiente digital. A tecnologia tornou-se uma extensão de nossas vidas.
Visto que a sociabilidade não é algo acrescido ao ser humano, mas uma exigência intrínseca, houve um rompimento das barreiras do real, do contato pessoal, para dar espaço a um mundo novo, o virtual. Com isso, a comunidade humana encontra-se interligada através das “mídias sociais”.
O meio digital modificou, com radicalidade, os relacionamentos e proporcionou novas formas de pensar, sentir e agir. Além de trazer diversos benefícios, como a proximidade e as novas possibilidades de aprendizado.
Porém, é necessário cuidado e conhecimento sobre essa realidade, para que saibamos agir e nos comportar diante dela; saibamos encontrar a verdade em meio a tanta poluição e superficialidade.
Dentro do ser humano existe um grande anseio pela felicidade, algo natural e divino. Este desejo, como ensina o Catecismo da Igreja Católica (CIC 1718), foi Deus mesmo quem colocou, com a finalidade de nos atrair para Ele: o único que pode nos saciar.
Fernando Nunes, especialista em gestão de design e sócio fundador da Adora Comunicação Católica, explica que dentro das mídias sociais presenciamos essa busca pela felicidade, porém de uma forma distorcida. A necessidade de demonstrá-la é quase que obrigatória, e em muitos casos não se expõe a verdade. Vive-se no âmbito digital um personagem, que está sujeito até mesmo aos extremos de adoecer em busca de afirmações e reconhecimentos, calculados pelos ‘likes’.
‘’No ambiente virtual, a imagem comunica muito e é mais aceita que os textos: pela agilidade em que apresenta o conteúdo. O grande perigo é o fato de que são produzidas em busca de curtidas, com o propósito de apresentar uma falsa felicidade, um ‘mundo perfeito’, inexistente. Como exemplo, podemos citar o fato de que as publicações que normalmente fazem sucesso são fotos de lugares paradisíacos, momentos incríveis e diversos conteúdos que estampam uma alegria momentânea, ilusória”, ressaltou Fernando, que além de designer é professor de fotografia.
Para ele , o grande desafio do comunicador católico é inserir neste ‘mundo perfeito’ um caminho que não produz o prazer imediato, mas revela uma felicidade além dos likes. ‘’Temos por vocação o anúncio da verdadeira felicidade que é Cristo: a felicidade que não passa’’.
O anúncio da verdade no tempo quaresmal
‘O comunicador comprometido com a verdade precisa sempre fazer um simples questionamento: ‘o conteúdo que produzo e publico nas mídias tem atraído as pessoas para Jesus? Porém, esse questionamento deve ser ainda mais frequente no tempo quaresmal’’, destacou o gestor.
Nas celebrações e acontecimentos da Quaresma, encontramos o verdadeiro sentido de toda a nossa comunicação. Não comunicamos uma mensagem qualquer, mas uma felicidade que não passa e que é uma pessoa: Jesus Cristo.
Na Quaresma, vivemos um aprofundamento espiritual dedicado à conversão pessoal, por meio de práticas como o jejum, esmola e a intensificação da oração. Sabemos que isso é algo a ser vivido durante todo o ano litúrgico, mas nesse tempo de forma mais intensa.
Assim, na Quaresma a responsabilidade de conduzir as pessoas a um encontro pessoal com Aquele que é a verdadeira felicidade é ainda maior. O propósito deve ser levar as pessoas, por meio das mídias, ao verdadeiro significado de cada celebração, e consequentemente, ao sentido de toda a nossa fé.
Fernando afirma que presencia muitos casos em que as mídias sociais de comunidades ou paróquias se transformam em uma grande coluna social. É muito importante divulgar os eventos e acontecimentos paroquiais, entretanto o foco deste movimento deve ser um só: chamar mais pessoas para perto de Deus e revelar as maravilhas por Ele realizadas.
‘’Devemos pensar em publicações que não tenham como finalidade expor quem esteve no evento ou a grande quantidade de pessoas, mas mostrar aquilo que está por trás, que nos move e nos une; evidenciar momentos de fraternidade e comunhão. É preciso refletir ‘qual a finalidade desta publicação? Autopromover-me, através das minhas fotos? Mostrar quem estava presente? Ou expressar a beleza da fé?’”, destacou o professor.
Três dicas sobre o que comunicar durante a Quaresma
Trabalhando com comunicação católica há quase dez anos, Fernando divide algumas dicas de temas que acredita serem mais importantes, para a evangelização durante a Quaresma.
Horários de confissão
A Quaresma é tempo de conversão e nada melhor do que começar com o sacramento da confissão, no qual podemos nos reconciliar com Deus. Publique nas redes sociais os horários de confissão que sua paróquia disponibiliza, ou se você não é engajado com alguma paróquia, publique os da paróquia mais próxima e incentive as pessoas a buscarem o sacramento.
Dicas de penitência e sugestões de espiritualidade
Muitas pessoas ficam inseguras sobre quais penitências realizar neste tempo. Por isso, você pode oferecer orientações e sugestões pelas redes sociais, como por exemplo não comer doces, não comer carne vermelha, rezar o Rosário, criar um plano de oração e cumpri-lo fielmente e praticar o perdão.
Publique também dicas sobre espiritualidade, para que a comunidade possa ir se aprofundando nas práticas e conhecendo o significado de cada uma delas.
Como rezar o Rosário? Qual o significado da Via-Sacra? Por que ir à missa também durante a semana?
Práticas interiores e exteriores
Encoraje as pessoas a viverem esse tempo de graça. Publique sobre as virtudes, vida de santos, passagens evangélicas e mostre a importância de uma vida interior, do silêncio, para que o Senhor possa falar.
Divulgue os horários das missas, adorações e a programação proposta por sua paróquia.
Além disso, os atos de caridade são uma característica muito forte de nossa Igreja; não faltam maneiras de ajudar os mais necessitados e de realizar atos concretos. Você pode criar uma campanha de arrecadação ou incentivar visitas aos enfermos. Com certeza, isso trará um grande enriquecimento espiritual para aqueles que praticarem.
O cuidado com a imagem
Fernando conclui recordando que a imagem é tão importante quanto os conteúdos escritos, as formações; pensar no conjunto é essencial.
A fotografia é a porta de entrada da informação. Na maior parte das vezes, a legenda só é lida se a imagem chama a atenção do leitor. Diante disso, é essencial utilizar fotos de qualidade nas publicações e que condizem com a mensagem que deseja transmitir.
‘’O ideal é que a paróquia produza suas próprias imagens, isso vai dar mais credibilidade e proximidade para aqueles que a seguem nas redes sociais, mas muitas vezes não há uma equipe de fotógrafos. Nesse caso indico o banco de imagens Fotografia Religiosa (fotografiareligiosa.com.br)’’.