Se recitarmos o Terço da Divina Misericórdia, é concedida a Misericórdia infinita?
Caro Padre Angelo,
A questão está ligada ao meu trabalho de psicóloga no âmbito de cuidados paliativos (no hospital). Diariamente encontro pessoas em situação muito grave, quase morrendo; nas condições em que se encontram, por motivos óbvios, não posso exercitar a minha profissão no sentido “clássico” do termo. Precisei revisar completamente a minha maneira de viver o trabalho. Às vezes rezo junto ao doente e noto que este gesto traz muito alívio. Até mesmo nos casos onde as pessoas ainda se encontravam em condições de uma conversa, ao falar de várias coisas, declaravam-se não praticantes, ou não interessadas na oração. Mas de repente noto que rezar uma “Ave Maria” próximo ao paciente traz um efeito benéfico.
Minha pergunta é a seguinte:
– Existe uma oração específica para rezar junto a um doente no leito de morte?
– Jesus disse que rezar o Terço da Divina Misericórdia próximo a uma pessoa no leito de morte leva a ela a Misericórdia infinita; isso acontece também quando o terço é rezado próximo de uma pessoa que acabou de falecer?
– Além disso, pergunto-me sempre como me colocar diante dos colegas médicos, enfermeiros e assistentes. Noto que existe um grande fechamento sobre este tema. O senhor acha que estou pecando mantendo esta minha atitude como um ato privado?
Resposta do Sacerdote
Caríssima,
1. Estou feliz por sua surpresa do valor da oração próximo a um doente e sobretudo a uma pessoa que está no leito de morte. Certamente a psicologia serve para conhecer melhor os pacientes e também seus parentes. Certamente serve também para tantas outras coisas. Mas o valor da oração é insubstituível. Não se trata, de fato, simplesmente de proferir qualquer fórmula, mas de levar a presença de Deus e de Nossa Senhora ao nosso lado e dentro de nós.
2. Algumas semanas atrás fui chamado para estar com uma pessoa que se encontrava no leito de morte. Ela estava sedada, não falava mais, não abria os olhos, não movia nenhum membro. Era de noite e me disseram que não passaria daquela noite. Um parente me disse que seria bom que eu fosse dar a bênção. Durante a bênção a doente abriu os olhos, coisa que não fazia há quatro dias, e fechou logo depois. Não vi porque estava lendo a fórmula e uma passagem do Evangelho. Foram os parentes que me disseram, espantados e maravilhados. Eu disse: “Rezemos juntos”. Naquele momento, rezamos o “Pai Nosso”, uma “Ave Maria” e um “Glória ao Pai”. Depois, voltando-me a pessoa, disse: “Agora te dou o perdão dos pecados”, e recitei a fórmula da absolvição. Desta vez, ao fim da absolvição, a pessoa não apenas abriu os olhos por alguns segundos, mas levantou o braço para fazer sobre si o sinal da cruz. Imagine a surpresa e a consolação, parecia que não esperava outra coisa. Isto significa que ouvia tudo, mesmo se era incapaz de falar.
3. Outro motivo mais teológico me lembra o valor da oração próximo da pessoa no leito de morte. Diz o Concílio de Trento: “O nosso clementíssimo Redentor, o qual queria que fosse sempre concedido a seus servos remédios salutares contra todos os assaltos de todos os inimigos, como dispôs as ajudas eficazes nos outros sacramentos com os quais os cristãos enquanto vivos pudessem se garantir contra os mais graves maus espirituais, assim com o sacramento da Extrema Unção quis munir o fim da vida com uma forte defesa. Embora, de fato, o nosso adversário busque pegar cada ocasião para devorar as nossas almas de qualquer modo em toda a vida (cf 1Pt 5,8), não há tempo, porém, que ele empregue com maior veemência toda a sua astúcia para nos perder completamente e nos distanciar também, se possível, da confiança na divina misericórdia, de quando ele vê que é eminente o fim da vida” (DS 1694). Vê-se bem como a oração é útil no leito de morte para levar aquela calma que o nosso adversário busca tirar. Como se pode ver, não existe apenas o alívio psicológico, mas algo além que age em maior profundidade. O alívio psicológico é uma manifestação.
4. Não tem nada melhor do que rezar a oração que nos ensinou Jesus, o “Pai Nosso”, que nunca se reza – diz São Tomás – sem receber algum benefício. Depois tem a “Ave Maria”. Santa Tereda D’Ávila apareceu uma vez a uma monja e a mesma a perguntou se ela gostaria de voltar por um momento à Terra. A Santa respondeu que desejaria voltar apenas para poder adquirir os méritos que se recebe ao rezar uma “Ave Maria”. Além disso, nessa oração é mencionada a mansão dos mortos: “Rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte”. O “Glória ao Pai” é a oração que tem a força de distanciar os demônios.
5. Sobre o Terço da Misericórdia: sabemos quanto o Senhor, por meio de Santa Faustina Kowalska, recomendou a oração para aqueles que estão no leito de morte. Pode-se rezar até o último suspiro. Se já passaram algumas horas da morte, pode-se rezar em sufrágio, mas não para pedir a presença do Senhor como mediador de salvação, porque o juízo da alma já aconteceu. Se não é possível estar presente, pode-se rezar este terço também a distância.
6. O seu ato de rezar pelo doente no momento em que você está ali como psicóloga deveria permanecer como um fato privado. Porém, nada veta que, como qualquer outra pessoa, você possa rezar também com os parentes, se existir a disposição dos mesmos.
Agradeço seu testemunho
Deus te abençoe
Padre Angelo
Fonte: Aleteia