Roberta Barbi – Cidade do Vaticano
No domingo, 2 de junho, o Papa Francisco beatificará no Campo da Liberdade, em Blaj, durante a Divina Liturgia, os bispos greco-católicos mártires: Vasile Aftenie (1899-1950), bispo titular de Ulpiana e bispo auxiliar da Arquieparquia de Alba Iulia e Făgăraș; Valeriu Traian Frenţiu (1875-1952), bispo de Oradea; Ioan Suciu (1907-1953), administrador apostólico da Arquieparquia de Alba Iulia e Făgăraș; Tit Liviu Chinezu (1904-1955) bispo auxiliar da Arquieparquia de Alba Iulia e Făgăraș; Ioan Bălan (1880-1959), bispo de Lugoj; Alexandru Rosu (1884-1963), bispo de Maramureș e Iuliu Hossu (1885-1970), bispo de Cluj Gherla.
O Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Angelo Becciu, falou ao Vatican News sobre o contexto histórico dos martírios e do modelo que estes mártires representam para a Igreja.
Eminência, falamos várias vezes sobre mártires, figuras que iluminam o caminho da nossa Igreja. Mas os sete bispos romenos, que serão beatificados pelo Papa Francisco durante sua Viagem Apostólica à Romênia, de alguma forma são diferentes. A perseguição que sofreram foi diferente: além do ódio à fé católica, havia mais um elemento: o ódio pela comunhão com a Sé de Pedro …
R. – Devemos colocar no contexto histórico, isto é, no período em que essas perseguições ocorreram. Recordemos que a Romênia estava nas mãos de um governo comunista, “telecomandado” por Moscou, por Stalin, que havia declarado a perseguição, havia declarado guerra aos cristãos e, sobretudo, contra os católicos. Por que especialmente aos católicos? Porque os católicos estavam ligados ao Papa e o Papa era visto como um representante do imperialismo, como uma potência estrangeira que estava se intrometendo nos assuntos da nação. Era importante para eles cortar essa ligação com Roma. Esses bispos não quiseram aceitar tal disposição e permaneceram fidelíssimos a Roma. Diante dessa resistência, o governo suprimiu igrejas, mosteiros … Foi uma verdadeira perseguição.
Assim, esses sete bispos da Igreja Greco-católica romena erão Beatos, mas sabemos que mais de dois milhões foram os perseguidos pelo regime, por motivos religiosos. E entre eles também alguns mártires já beatificados, pertencentes à Igreja latina …
R. – O marxismo, o comunismo, respondia ao postulado de Marx, a saber, que a religião é o ópio do povo; a religião impedia o desenvolvimento do homem, da sociedade, impedia a criação do “novo homem”, como o chamavam naqueles dias. Assim, se havia um inimigo a ser erradicado, este era precisamente constituído pelos crentes, especialmente católicos, porque antes de tudo eram um número bastante elevado, mas depois, eram unidos e leais à Igreja de Roma, eram fiéis ao Papa. Assim, foram milhões – a Romênia foi o país em que se manifestou uma terrível perseguição e com tantas vítimas – os greco-católicos são os católicos de rito oriental, porém ligados a Roma, em comunhão com Roma.
Na viagem precedente de um Pontífice à Romênia – falo de João Paulo II que lá esteve em maio de 1999 – o Santo Padre recordou o sacrifício de sangue desses sete bispos, definindo-os como “semente de novos cristãos”. Passaram-se vinte anos desde então: na sua opinião, essa semente deu seus frutos?
Entre os novos beatos, destaca-se a figura de Iluiu Hossu, criado cardeal “in pectore” em 1969 por Paulo VI, também para tirá-lo do país e da situação de prisão em que se encontrava. Como um verdadeiro pastor, porém, ele decidiu permanecer em sua terra. No fundo não deixa de ser um gesto heroico….
R. – Certamente, é heroico. Antes de tudo, expliquemos o que quer dizer elevá-lo ao cardinalato, chamando-o de cardeal ‘in pectore’. Quando o Papa tem a intenção de nomear, de criar um cardeal, se ele vê que o ambiente, as circunstâncias não permitem publicar seu nome, o nome é mantido no ‘pectore’, em seu coração, o nome, mas ele já é criado cardeal e na primeiro ocasião, torna público. Foi isso o que aconteceu com nosso irmão, com esse cardeal: faço você saber que o estou nomeando cardeal. Se quiseres, venha. Assim, se vieres a Roma, é claro que vou publicá-lo, caso contrário, vou mantê-lo em meu coração. E em vez disso, sentiu um amor verdadeiro por seu país, por seu rebanho, dizendo: “Eu não abandono o meu rebanho. Eu quero estar com o meu rebanho e dar a vida por minhas ovelhas”. O bom pastor.
Na história dos sete mártires, há um ponto, na verdade, um lugar em comum: a prisão de Sighet, que hoje é um memorial pelas vítimas do comunismo. Ali todos foram trancados e torturados, mas com a sua força e a sua fidelidade, podemos dizer que de alguma forma transformaram um lugar de horror em um lugar de santidade?
R. – Sim, é interessante recordar o que foi esta prisão. Era uma prisão desde 1800, mas para crimes comuns. Depois, durante o comunismo, foi transformada em um local de detenção para opositores, em todos os níveis: intelectuais, políticos e religiosos, incluindo alguns desses bispos. É claro que onde há morte ocorrida por amor pelos próprios ideais, eles se tornam luz para os outros. Assim, também esses nossos bispos que viveram nesta prisão, tornam-se agora uma ocasião de comemoração e um farol que ilumina com sua luz. Naquela época, pensava-se que tudo havia acabado, ao invés disso, agora eles são propostos como modelo de vida para o mundo inteiro, para toda a Igreja. Estamos sempre lá, na lógica da semente que morre e depois se transforma em vida. É a lógica do mistério pascal: Jesus derrotado, depois ressuscitado, torna-se salvação para toda a humanidade. Assim, estes nossos mártires, esses nossos bispos: pensava-se que, eliminando-os, a Igreja seria suprimida e ao invés disso agora, em uma grande cerimônia presidida pelo Santo Padre, são propostos à veneração dos fiéis da Romênia e – espera-se – com a canonização – da Igreja universal.