Cidade do Vaticano
Os cristãos no Sri Lanka estão em choque depois dos atentados ocorridos na Páscoa. Terça-feira foi Dia de Luto Nacional, com centenas de sepultamentos, muitos deles coletivos. As cenas de dor eram dramáticas.
Líderes das Igrejas cristãs, famílias católicas e pessoas de várias religiões, saudaram seus entes queridos mortos nos ataques de 21 de abril. O arcebispo de Colombo, cardeal Albert Malcolm Ranjith, presidiu uma Missa em memória dos falecidos na Igreja de São Sebastião em Negombo, norte de Colombo, que foi um dos alvos das explosões no Domingo de Páscoa.
A série de oito explosões já provocou a morte de 359 e deixou mais de 500 feridas, muitas em estado grave.
Autoria assumida pelo Estado Islâmico
A polícia afirmou tratar-se da pior onda de violência que atingiu a ilha desde o final da devastadora guerra civil em 2009. O cardeal Ranjit exortou os cidadãos do Sri Lanka a não “fazerem justiça com as próprias mãos”. O autoproclamado Estado Islâmico assumiu na terça-feira a autoria dos atentados.
O primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe disse que “até agora os nomes que surgiram são locais”, mas os investigadores devem verificar se os terroristas têm “conexões no exterior”. A polícia está investigando para ver se kamikazes estavam envolvidos em todas as explosões. Ruwan Wijewardene, ministro da Defesa do Sri Lanka, disse que o Departamento de Investigação Criminal do país está trabalhando com a polícia e o exército para investigar os ataques.
Serviços de Inteligência haviam alertado sobre possíveis ataques
De acordo com o chefe de polícia do Sri Lanka, Pujuth Jayasundara, uma agência de inteligência estrangeira havia alertado que o NTJ (National Thowheeth Jama’ath) estava planejando ataques suicidas contra igrejas importantes, bem como a alta comissão indiana em Colombo.
O NTJ é um grupo muçulmano radical no Sri Lanka que estava ligado à destruição de estátuas budistas no ano passado. O primeiro-ministro Ranil Wickremesing reconheceu que “as informações sobre os ataques existiam”, e que será aberta uma investigação para saber “porque não foram tomadas precauções adequadas”.
Triste, trágico, chocante, diz cardeal Ranjit
“Condenamos, com todas as forças, esse ato que causou tanta morte e sofrimento”, disse à Agência Fides. O cardeal também convidou as pessoas a doarem sangue para ajudar os feridos e rezar pela rápida recuperação dos feridos. “É tão triste, tão trágico e chocante. O ataque covarde foi dirigido principalmente contra os cristãos, nas igrejas, e depois contra os hotéis. Estamos tristes por todos aqueles que perderam a vida nesta violência. Nossas orações vão para cada um deles”, afirmou o cardeal.
Os cingaleses representam a maioria dos mortos ou feridos, embora funcionários do governo tenham dito que também há cerca de 35 estrangeiros entre as vítimas, britânicos, estadunidenses, turcos, indianos, chineses, dinamarqueses, holandeses, portugueses e japoneses. “Enquanto nove estrangeiros foram declarados desaparecidos, há 25 corpos não identificados que se acredita serem estrangeiros”, disse o chanceler do Sri Lanka.
Temor de violência entre as comunidades
Uma das explosões atingiu o Santuário Católico de Santo Antônio, uma igreja católica na área de Kochcikade, em Colombo, um ponto de referência turístico. Uma segunda explosão atingiu a igreja de São Sebastião durante a Missa de Páscoa, matando muitas pessoas. As fotos do local mostravam corpos no chão, sangue nos bancos da igreja e o teto destruído.
Imediatamente após as primeiras duas explosões, a polícia confirmou que a Igreja de Sião, na cidade de Batticaloa, costa leste, também havia sido atingida, junto com três hotéis de luxo na capital: o Grand Cinnamon, o Shangri-La e o Kingsbury. No final da tarde, duas pessoas morreram em um hotel no sul de Colombo, e um homem-bomba matou três policiais quando invadiram uma casa no subúrbio ao norte da cidade.
Havia temores de que os ataques pudessem desencadear nova violência entre comunidades, com a polícia relatando uma bomba de coquetel Molotov em uma mesquita no noroeste da cidade no final da tarde e ataques incendiários contra duas lojas de propriedade de muçulmanos no oeste.
O governo do Sri Lanka impôs um toque de recolher nacional após as explosões que causaram mais de 500 feridos. O toque de recolher foi suspenso na segunda-feira, mas escolas e universidades foram fechadas na segunda e na terça-feira. Soldados armados com armas automáticas vigiam os grandes hotéis e presidem o World Trade Center no distrito comercial. Também chegou a notícia de que uma bomba caseira foi descoberta e desativada no principal aeroporto de Colombo.
O acesso às mídias sociais, como Facebook e WhatsApp, também foram bloqeuados para limitar a “desinformação” que está se espalhando pelo país.
Solidariedade das Conferências Episcopais da Ásia
Enquanto isso, o presidente da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC), cardeal Carlos Maung Bo, arcebispo de Yangon, Mianmar, enviou uma carta de solidariedade e condolências ao cardeal Ranjith após os ataques que abalaram a nação insular.
Na carta, enviada à Agência Fides, o Cardeal Bo escreveu: “Permita-me expressar minha sincera angústia por essa tragédia que colocou à dura prova milhões de vidas humanas inocentes, no dia em que celebramos em todo o mundo a vitória da vida e do bem sobre a morte”.
O cardeal de Mianmar ofereceu seu apoio fraterno dizendo: “Enquanto ofereço minhas humildes orações por todas as vítimas dessa violência sem sentido, também rezo por doadores, voluntários e equipes de socorro”. “Devemos implorar ao misericordioso Senhor ressuscitado, o Príncipe da esperança e da paz, que fortaleça todas as pessoas de boa vontade para que possam contribuir para estabilizar a situação de medo e suspeita que surgiu após as explosões”, enfatizou o Cardeal.
O líder das 19 Conferências Episcopais da Ásia concluiu sua carta afirmando: “Também estendo as orações dos irmãos Bispos e fiéis de todos os países membros da FABC”.
Violência étnica e religiosa havia poupado cristãos até agora
O budismo Theravada é a religião majoritária no Sri Lanka, que representa cerca de 70,2% da população, segundo o censo mais recente. É a religião da maioria cingalesa no Sri Lanka. Hinduístas e muçulmanos constituem 12,6% e 9,7% da população, respectivamente. O Sri Lanka também tem cerca de 1,5 milhões de cristãos. Segundo o censo de 2012, a grande maioria deles são católicos romanos.
A pequena minoria cristã do Sri Lanka – cerca de 7% da população de 21 milhões – foi vítima de episódios esporádicos de violência no passado, mas nunca com um efeito tão brutal, disse Maline Fernando, uma leiga católica à Agência Fides.
De fato, nos anos que se seguiram ao fim da guerra civil do Sri Lanka, que terminou em 2009, houve algumas violências esporádicas, com membros da comunidade budista atacando mesquitas e a propriedade de cidadãos muçulmanos: isso levou ao estado de emergência declarado em março de 2018.
A violência étnica e religiosa tem atormentado o Sri Lanka há décadas, com um conflito de 37 anos com os rebeldes tâmil, seguido por um ressurgimento nos últimos anos em confrontos entre a maioria budista e os muçulmanos. A comunidade cristã permaneceu relativamente incólume até o momento.
Condenação de qualquer tipo de violência
“Condenamos esses atos violentos. Violência de qualquer tipo – incluindo discurso de ódio e atitudes discriminatórias – não é aceitável. Isso não deve encontrar lugar em nosso mundo hoje. Pedimos a todos que mantenham a paz e a harmonia e assegurem que tais atos não sejam repetidos em nenhum lugar e nem contra ninguém. Nesta Semana de Páscoa nós rezamos pela cura e que a justiça, a verdade, o amor e a paz possam reinar nos corações e nas mentes de todos os homens e mulheres “, disse à Fides Jeevani Pereiera, um jovem cristão do Sri Lanka. “Violência dessa natureza nunca foi vista antes. Todos estão em estado de medo e choque”, acrescentou.