“Em que ele mudou em relação a quando estava entre nós? Não saberia dizer. Digamos que talvez fosse mais magro; aqui com vocês se come bem”. Foi o que respondeu em uma entrevista ao L’Osservatore Romano, em tom de brincadeira, o Presidente do Instituto do Diálogo Inter-religioso de Buenos Aires, Omar Abboud, ao comentar a sua amizade com Jorge Mario Bergoglio. O ‘amigo muçulmano’ do Papa Francisco, acompanhou-o durante a visita à Terra Santa, juntamente com o Rabino Skorka.
Libanês por parte de pai e sírio por parte de mãe, seus avós chegaram à Argentina nos anos trinta, em busca de melhores condições de vida. Abboud recorda ter conhecido o Arcebispo de Buenos Aires em 2002, no dia 25 de maio, por ocasião do Te Deum na Catedral, num período difícil após o 11 de setembro. “Fazer aparecer a voz da maioria silenciosa dos islâmicos que desejam somente viver e trabalhar em paz”, motivou a criação do Instituto do Diálogo Inter-religioso de Buenos Aires, focado na “educação”.
“Bergoglio – observou Abboud – sempre denunciou com palavras muito claras e duras todo tipo de terrorismo”. “É um homem de grande cultura, com uma capacidade de análise de situações sociais não comuns. Sempre me tocou desde quando o conheço – explicou – o fato de que não é ligado à política, mas interessado em chamar a atenção da política para temas como a pobreza e a exclusão. As suas, são sempre homilias, nunca comícios. Entende o povo e não perde a ocasião para assinalar ao poder temporal os seus erros”.
Para o líder islâmico, “foi e o é até agora um enriquecimento muito grande ser seu amigo. O olhar para os pobres, a quem vê a dignidade reduzida, modificada ou negada, tratada como lixo, a sua coerência, a coerência entre aquilo que diz e aquilo que vive surpreende o mundo, mas não a nós argentinos, que o conhecemos há tempos. Ele sempre nos abriu as portas da catedral, mas nunca misturando os ritos, sempre respeitando a singularidade e a história de cada um de nós, a nossa diferente identidade religiosa com os fatos, não somente com palavras”.
O convite para acompanhar o Papa na peregrinação à Terra Santa chegou “de uma maneira totalmente inesperada no final de fevereiro quando Bergoglio recebeu na Casa Santa Marta uma delegação inter-religiosa argentina composta por 45 pessoas (15 judeus, 15 muçulmanos, 15 católicos)”. “Para mim foi uma honra inesperada, afirmou. Ninguém está pronto para ser convidado para participar de um evento com estas características, de alcance mundial. Penso que seja um sinal da importância que o Papa dá, na sua visão, ao diálogo inter-religioso como instrumento para construir a paz”, observou Abboud.
“Bergoglio – recordou ele – sempre teve um interesse sincero pelas tradições religiosas que são minoria na Argentina. Foi o ator principal na construção de locais de diálogo com outras religiões. A relação, quer com judeus que com muçulmanos da Argentina, sempre foi respeitosa e cordial”.
Em relação a uma solução para o conflito no Oriente Médio, Abboud afirma que é “muito importante que exista também uma diplomacia espiritual. Neste sentido, a viagem do Papa à Terra Santa superou todas as expectativas”.
Fonte: Rádio Vaticano
Local: Cidade do Vaticano