A vida da Igreja começa no dia de Pentecostes. A ressurreição de Cristo foi proclamada pelo Anjo às mulheres e por elas aos apóstolos. Estes não acreditaram nelas. Tiveram medo porque não haviam compreendido o mistério de Jesus. Mesmo depois que Cristo, vencedor da morte se manifestou a eles, a dúvida persistia em suas mentes. Foi pela vinda do Espírito Santo que seus olhos se abriram. Naquele dia começaram a pregar o Evangelho, proclamando com toda convicção que Jesus estava vivo e se colocaram sob as luzes do Paráclito. A celebração dos mistérios da Igreja, ou seja, os sacramentos foram ministrados e a comunidade dos fiéis crescia dia a dia. É que a fé cristã não é, de plano, uma mensagem, mas um acontecimento. O fundamento da fé do cristão não é outro senão a Ressurreição e a glorificação de Cristo, o Redentor da humanidade, o Verbo Eterno encarnado. Isto envolve o significado da vida, do mundo e da existência de cada um. Trata-se do anúncio da verdade fundamental a transformar o modo de ser daquele que crê, envolvendo todos os seus pensamentos, palavras e ações. É exatamente esta a ação do Espírito Santo. Ele vem a cada coração para instalar neles a imagem de Jesus, o que Ele deve realmente representar para o batizado, levando-o a praticar tudo que o Mestre divino ensinou. No decurso da última Ceia Jesus asseverou:”Quando vier o Paráclito que eu vos enviarei de junto do Pai, o Espírito da Verdade que procede do Pai, ele dará testemunho de mim […] e vos conduzirá para a plenitude da verdade”. Foi o que se deu no dia de Pentecostes e continua a acontecer na vida da Igreja. Quando alguém é batizado e crismado, ele morre com Cristo e ressuscita com Ele para uma vida nova. De fato, pela unção ele participa do Espírito Santo, da vida mesma de Deus. Assim como Cristo é a Sabedoria e o Verbo de Deus, o Espírito Santo é a benignidade de Deus, a alegria, a vontade, o amor do Ser Supremo. O Pai se conhece desde toda eternidade e este conhecimento é uma Pessoa, o Filho, o Verbo eterno. O Pai ama o Filho, o Filho ama o Pai e este amor increado é a Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo. Ensina São Paulo: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que Ele no deu” (Rm 5,5) Este Espírito vem a nós com seus sete dons e implanta na alma a semente de seus doze frutos (Gl 5,25) que precisam então ser cultivados. Oferece a graça da salvação eterna, o que não é uma recompensa, mas um dom gratuito de Deus, dom supremo de sua dileção. É preciso, porém, viver em função destas graças e implorar sempre as luzes e forças do Espírito Santo. Deste modo, se realizará o plano de Deus sobre a humanidade, por que o Espírito Santo é a resposta a todas as preces, e a esperança de cada coração inteiramente realizada. O Espírito Santo leva à verdadeira concepção da misericórdia divina que consiste no desejo dele de se instalar dentro de cada coração, partilhar nossa experiência até o fim, até o dia venturoso da visão beatífica, para aqueles que já nesta terra participam de Sua vida divina. Através do Espírito Santo o Evangelho se tornou a história de nossa vida com Jesus. É que o Espírito Santo ilumina o caminho da existência do seguidor de Cristo, firmando esta luz a verdadeira fé, conservando a presença de Deus em cada ação humana. Como vivemos num exílio, longe da Casa do Pai, as dificuldades se multiplicam e o combate espiritual caracteriza esta trajetória. Dores, aflições não só de cada batizado, mas de toda a Igreja contra as forças do mal. Felicidade e paz completas apenas na eternidade. Até lá o Espírito Santo oferece ao cristão o dom de poder comunicar aos outros a energia do amor de um Deus que a todos considera como filhos e filhas. A graça celeste não só possibilita isto, mas induz a agir desta forma, irradiando a mensagem da salvação por toda parte pelas preces, palavras, gestos e modo de ser talhado pelo Evangelho. Não recebemos inutilmente o Espírito Santo. Não se trata de uma pura retórica. É uma realidade que torna o cristão um apóstolo. Este, contudo, recebe o influxo do Espírito Santo para poder transformar a sociedade em que vive. Tal é a vontade de Deus, pois se somos cristãos temos o mundo em nossas mãos. Cumpre, porém, compreender o mundo e ser verdadeiramente católico, isto é, vivendo um universalismo que não seja nivelador, mas que leve à unidade na diversidade das pessoas amadas e respeitadas.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.