Se os escândalos do clero são alimentados pela imaturidade psicológica, o que pode alimentar os candidatos ideais ao sacerdócio?
Quais são as qualidades de um bom sacerdote? Como a comunidade católica pode encontrar os jovens que possuem essas qualidades? A experiência das últimas décadas mostra que as opiniões dos psicólogos e mesmo as do próprio clero nem sempre se mostram as mais adequadas. Por que não ir à fonte: as percepções dos próprios pais?
A fim de encontrar verdadeiros especialistas, procurei a família Azah, oriunda de Gana. Seu filho, nascido em 1968, tornou-se um sacerdote muito amado tanto em Gana quanto nos Estados Unidos. Veja a seguir o que a família me disse.
“Desde a infância, identificamos que o nosso filho Perry iria se tornar especial na família, por causa do estilo de vida dele. Na maioria das vezes, era ele quem puxava as devoções familiares. Ele chegou a ser líder de alguns grupos devocionais na igreja do nosso povoado. Ele é humilde, respeitoso, amoroso, tem um grande coração, é honesto, gentil com os outros, está sempre pronto para ajudar quem precisa. Ele ajuda os idosos e as viúvas na comunidade e sempre tenta exercer bem a liderança. Ele só tinha cinco anos quando entrou na escola, apesar de que os professores o achavam muito pequeno. Mas ele mostrou que eles estavam errados, tirando ótimas notas”.
É uma imagem impressionante: o filho do casal Azah comandava as devoções familiares com alegria, solenidade e fé, desde pequeno. Esses aspectos da santidade são frequentemente precursores de uma vocação ao sacerdócio.
Na história da Igreja, a curiosidade intelectual e o estudo também são, frequentemente, vinculados a uma inclinação ao sacerdócio. Apesar de lutar contra a doença e as dificuldades da guerra e da Inquisição, Santo Inácio de Loyola “mergulhou nos livros” durante dez anos, conquistando três diplomas na década de 1530. Rigor intelectual não só em assuntos de teologia e filosofia, mas também em temas “mundanos” como economia, astronomia e medicina, têm sido uma marca registrada da ordem que ele fundou, os jesuítas, há 500 anos.
Tempos atrás, eu estive na biblioteca do quarto andar do Palácio Apostólico. “O que será que o papa lê?”, me perguntava eu, examinando os livros dispostos numa estante. Lá estavam os escritos de 37 santos diferentes, os Doutores da Igreja. Este seria um grande currículo para quem ansiasse pelo sacerdócio.
A coragem e a recusa a ser influenciado pelos outros também pode ser uma virtude quando a lealdade está presente. Santa Catarina de Sena mostrava essas características num tempo de perseguição e de complexidade política. Como escritora, uma mulher cristã no Sudão pode demonstrar uma fortaleza similar.
Mas um padre também tem que ter compaixão e empatia. Entre os santos, o fundador dos redentoristas, Santo Afonso Maria de Ligório, era conhecido pela grande habilidade em ouvir as pessoas que iam se confessar, bem como em incentivar a mudança de coração com doçura em vez de fúria. O Cura d’Ars, São João Maria Vianney, possuía as mesmas qualidades e promoveu a conversão de toda uma aldeia na França.
Maturidade psicossocial ou psicológica são qualidades vagamente definidas, mas importantes para qualquer sacerdote. A maturidade psicológica implicaria ter um forte sistema de apoio da família e dos amigos. A capacidade de lidar com a solidão é essencial. Saber desenvolver relações construtivas e emocionais profundas com homens e mulheres é, talvez, o mais sólido indicador de maturidade psicológica. Esse indicador pode estar presente já no ensino médio, assim como pode, em contrapartida, estar ausente em muitos adultos.
É claro que ser capaz de lidar com a própria sexualidade dentro da tradição bimilenar da Igreja é um requisito fundamental para os futuros sacerdotes. O livro “The New Men” [Os homens novos] conta que o cardeal Dolan, de Nova Iorque, quando era diretor do Colégio Norte-Americano de Roma nos anos 1990, usava um método extremamente direto e simples para determinar a importância deste aspecto.
Muito antes da ordenação, Dolan reunia os seminaristas e perguntava: “Vocês têm alguma questão pendente quanto à masturbação? Vocês leem algum tipo de pornografia, por mínimo que seja? No seu relacionamento com as mulheres ou com os homens, existe algum componente sexual? Se algum de vocês responder ‘sim’ a qualquer uma destas perguntas, pode sair agora e ninguém aqui vai diminuí-lo de forma alguma”. Dolan definia as expectativas para o presente e para o futuro de forma simples, clara e responsável.
Voltando aos nossos especialistas, os pais, eu aprendi bastante com os Azah sobre o papel fundamental da família na formação de um bom padre: “Nós achamos que uma boa e sólida base familiar é pré-requisito para todas as vocações na vida”.
E o sacerdócio não é exceção. Pais unidos, que levam a sério os seus compromissos de fé, acabam incutindo essa fé nos filhos, que aprendem dos pais enquanto vão crescendo.
Podemos aconselhar todos os pais a desempenharem as suas funções com responsabilidade, não se afastando dos seus papéis nem deixando os filhos desassistidos, principalmente na infância. Afinal, quando os filhos são bem formados e recebem as ferramentas necessárias para a vida em uma sólida base cristã, eles se tornarão adultos bem-sucedidos; e, principalmente, poderão se tornar padres maravilhosos na Igreja de Deus.
Fonte: Aleteia
Local: São Paulo