O acontecimento maior da nossa fé tem seu eixo na liturgia da Semana Santa, ocasião em que os cristãos meditam e entram em cheio na paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, no que diz Antoine de Saint-Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos”, que só se vê bem com o coração, manifestado no despojamento e no aniquilamento do Servo de Javé, rei humilde e obediente (cf. Is 52, 13-53), até a morte e morte na cruz. O Papa Francisco falou no início destes dias sagrados e nos eventos que ocorreram nos dois últimos dias da vida de Jesus, suplicando aos que o escutavam e nós cristãos: “pensem muito sobre a quem se assemelham mais, àqueles que ajudaram Jesus ou àqueles que o condenaram, traíram ou eram indiferentes ao seu destino”.
O nosso Deus é essencialmente bom e terno, ao passar da morte para a vida, afirmando-nos que a tristeza e desânimo são coisas do passado. A esperança e o otimismo, proclamada pelo Sumo Pontífice, no domingo de Ramos de 2013, foi na intenção de contagiar nossa existência, na certeza de que Jesus vencedor da morte quis se estabelecer para sempre no meio da sua gente querida. “Por que estais procurando entre os mortos àquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” (Lc 24, 5-6).
Páscoa é ir ao encontro da vida, distanciando-se da morte, evidenciada na vitória e no milagre da vida a partir do duro contexto da morte. A Igreja sempre dar uma grande importância à simbologia do fogo, na luz do Círio Pascal, luz que nasce das trevas, sinal do Senhor ressuscitado, da vitória diante da angústia da morte. O fogo como sinal da presença de Deus no decorrer da história. A luz é a própria vida, pela presença do Cristo Jesus, trazendo vida à criatura humana, no “duelo forte e mais forte, na vida que vence a morte”.
Não podemos jamais esquecer a água como símbolo da vida, porque dela as pessoas renascem no batismo para a vida do mundo (cf. Jo 3, 1-7), levando-nos a compreender que a vida é duradoura e que participamos do ponto mais elevado, não da vida de um herói, mas fomos mergulhados na vida do próprio Filho de Deus, razão pela qual vivemos, constantemente convidados a sonhar com a glória futura, na feliz afirmação do refrão do Salmo responsorial: “Este dia que Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos”.
A esperança é a grande oportunidade para a criatura humana assumir uma vida nova, uma vida diferente. Na Igreja, “memória”, “presença” e “profecia” são trinômio que só se compreende a partir da Páscoa, tendo o Senhor ressuscitado como o centro, o qual nos encoraja e nos enche de alegria e uma vez conquistada, jamais podemos perdê-la, tendo diante dos olhos, mente e coração o pensamento de Miguel Cervantes: “Quem perde seus bens, perde muito; quem perde um amigo, perde mais; mas quem perde a coragem, perde tudo”.
A Páscoa deve ser um processo que se realiza e acontece através do compromisso ético, na ação pastoral, no trabalho, no convívio social e nas mais diferenciadas atividades das pessoas de fé e que acreditam no futuro da humanidade e que “O Cristo, Nossa Páscoa”, com toda sua força, renova e fecunda a face da terra. A liturgia da Páscoa (Vigília Pascal), no dizer de Santo Agostinho, é a “Mãe de todas as celebrações” que, com seus ritos antigos, com toda sua beleza, sua profundidade poética e, ao mesmo tempo profética, deve nos estimular e desafiar. Ficarmos só no rito, seria muito triste ao coração de Deus.
A Páscoa deve ser um grito, um clamor, um anúncio e a proclamação, numa só fé, da busca de um mundo novo que tem seu início na esperança e no amor de Deus, exigindo da pessoa humana realização da vida. Quando teremos uma Igreja verdadeiramente marcada pela esperança, com um rosto pascal? Somos desafiados a construir esta Igreja, associados ao Papa Francisco, pela força e graça, que nasce da Páscoa. Assim seja!