Quando o ser humano procura estar unido a Deus, implicitamente ele adere à obra admirável do Criador. Com efeito, ensina a Bíblia que “narram os céus a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Sl 18, 2); e ainda “é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor” (Sab 13, 5). A natureza patenteia Deus aos homens, pois Ele criou o ser racional capaz de conhecê-lo e de contemplar na natureza os sinais da Sua existência. O Catecismo da Igreja Católica (§ 31 a 35) diz que o homem traz em si o desejo de buscar a Deus. É um desejo inscrito pelo próprio Criador. Não importa o quanto queiramos fugir, sempre somos atraídos para Ele. É o que explicou magistralmente Santo Agostinho: “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti.” (Conf. 1, 1). O Bispo de Hipona ainda explicou: “Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar interroga a beleza do ar que se dilata e difunde, interroga a beleza do céu (…) interroga todas estas realidades. Todas te respondem: Estás a ver como somos belas. A beleza delas é o seu testemunho de louvor. Essas belezas sujeitas à mudança, quem as fez senão o Belo, que não está sujeite à mudança?” ( Sermão 241. Apud CIC 32). É que as maravilhas que há na natureza mostram às inteligências em busca da felicidade a infinita sabedoria do Ser Supremo que as criou porque o “bem é de si difusivo”, segundo Santo Tomás de Aquino. O Ser Infinito não deve ser entendido como quem ultrapassa as criaturas criadas à sua imagem e semelhança, mas o Bem Supremo que as cumula e se oferece para enchê-las sempre mais de dons. Donde o segredo de uma vida feliz é estar unido a esse Bem Eteno com o coração continuamente agradecido, confiando a Ele o futuro. Ai o segredo de uma realização pessoal, assegurando um progresso contínuo, reparando as naturais debilidades humanas do passado. Ao lastimar as faltas ocorridas, gozando o bem já recebido, abre-se para quem crê a perspectiva para a esperança, firmada na certeza de que Deus é misericordioso, “Deus é amor”, como bem O definiu São João (1 Jo 1,4) . Nele o ilimitado dos apelos humanos e a insaciabilidade de seus anelos encontra a solução de todos os problemas naturais a seres contingentes, limitados. A indiferença humana ou a desatenção perante a realidade divina fragilizam, a mediocridade religiosa aniquila, mas o imergir no oceano de bondade que é Deus engrandece imensamente o homem. Isso por que a religiosidade profunda lança na Realidade Eterna e o faz participante da mesma natureza divina através da graça santificante recebida no Batismo. Feliz o que tem o olhar para Aquele que verdadeiramente não muda e que, além vida terrestre, oferece uma eternidade bem-aventurada, no incomparável repouso da visão beatífica. São Paulo deixou claro que agora conhecemos a Deus e as coisas divinas pelo seu reflexo, através das criaturas por dedução analógica de uma imagem imperfeita, mas no céu, conheceremos com visão intuitiva, nítida e plena porque veremos Deus face a face (1Cor 132,12). Eis a razão pela qual cumpre evitar todo o risco de se entregar aos fins terrenos, esquecendo os bens sobrenaturais. Lembra o livro Imitação de Cristo que ainda que possuísse todos os bens criados, o homem não poderia ser feliz e estar contente, porque só em Deus, Criador de tudo, consiste sua bem-aventurança e felicidade; não qual a entendem e louvam os amadores do mundo, mas como a esperam os bons servos de Cristo, e, às vezes, antegozam as pessoas espirituais e limpos de coração, já aqui na terra «cuja conversação está nos céus». Fichte, filósofo alemão, teve razão ao dizer que «Desde que o homem caia em si e a si mesmo pergunte se é feliz, logo ecoa no seu íntimo uma voz muito clara dizendo: Ó não! De forma alguma! Ainda continuas tão vazio e indigente como a princípio! — Convencido disto, julga ter errado tão somente na escolha do objeto e logo se atira a outro. Mas também este o deixa insatisfeito como o primeiro. Jamais achará contentamento em coisa alguma que exista debaixo do sol e da lua”. De fato, só em Deus o ser humano encontra a resposta a suas indagações. A felicidade íntima do homem é proporcional, porém, à largura e profundidade da sua fé. Alegria e paz é o que Deus deseja para todos, mas é preciso estar em sintonia permanente com Ele Encontro pessoal com Aquele que quer fazer cada um participar de sua própria vida.