O valor do ser humano

    Uma leitura superficial da Bíblia pode levar a uma visão errônea da pessoa humana. O homem e a mulher, realmente, nascem com o pecado original, inclinados para o mal. Entretanto, quando se penetra fundo nos desígnios de Deus, pelas Sagradas Escrituras, se pode perceber a suma dignidade daqueles que foram criados à imagem e semelhança divina, possuidores de uma alma espiritual, destinados à vida eterna, remidos que foram pelo sangue precioso do Filho de Deus. Este se encarnou para a todos redimir. O homem e a mulher dotados de inteligência possuem a faculdade de conhecer seu Criador, fonte inexaurível de todo o bem. A Ele, pela vontade iluminada pela fé, podem se unir de uma maneira inefável. Recebida no batismo a graça santificante, passam a ser o templo vivo do Espírito Santo, participantes da mesma vida divina. Podem aspirar então a estar mais intensamente sempre na presença do Ser soberano, infinito, único capaz de oferecer a verdadeira felicidade. Pulsa o coração humano com desejos recrescentes que somente no Senhor Todo-poderoso encontram resposta, jamais deparada longe dele. A alma, que é espiritual e imortal, tende para Aquele que existe desde toda eternidade e só nele encontra solução para todos os problemas inerentes à caminhada neste mundo, Adite-se, porém, que, quando alguém entra dentro de si mesmo e percebe o anseio por uma ventura sem fim, intui claramente que há condições para se chegar a tal beatitude. Com efeito, o reto uso da liberdade, tendo como referencial o Decálogo, é imprescindível para se estar unido a Deus. Este precisa ser servido e amado sobre todas as coisas para que se possa gozar, já neste mundo, de paz e total imperturbabilidade. Por tudo isto, fica clara a importância do ser humano que tem possibilidade de alçar voos para a mais alta espiritualidade, se desprendendo das ilusões terrenas, não se deixando aprisionar na materialidade. A graça divina leva à vitória sobre as insinuações do espírito do mal. Então aquele que corresponde às inspirações que lhe vêm do céu nunca se deixa escravizar pelas paixões que degradam quem é chamado a possuir Deus neste mundo e por toda a eternidade. O cristão é um cidadão da pátria celeste e deve corresponder a sua sublime vocação. Ao meditar nos sofrimentos do Redentor, Deus e homem verdadeiro, é capaz de captar o quanto é terrível o pecado cuja reparação exigiu o sacrifício de Bem-amado do Pai. Além disto, em consequência, se percebe o valor incomensurável de uma alma. Ela mereceu que o Filho de Deus se humilhasse, se sacrificasse para a fazer eternamente feliz. Daí a luta constante contra o mal para não tornar inútil a dolorosa paixão e morte de Jesus. A perversidade dos ímpios é, portanto, de uma gravidade sem limites. O preço da salvação pago pelo divino Salvador da humanidade deve levar a todo aquele que reflete a valorizar o tesouro inestimável de uma redenção que conduz à glória eterna. O mau uso da liberdade leva por isto mesmo a horripilas consequências. Entretanto, o verdadeiro cristão confiado na graça divina nada terá a temer e marcha, perseverantemente, para a casa do Pai. Ai o aguarda a bem-aventurança eterna. A grandeza do ser humano é manifestada em inúmeras páginas da Bíblia. O salmo 138, por exemplo, Davi assim se dirige a Deus: “Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe. Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso. Pelas vossas obras tão extraordinárias, conheceis até o fundo a minha alma (Sl 138, 13-14). São João deste modo se expressou: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho único para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Pois Deu não enviou o seu Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele (Jo 3, 16-18). Donde o clamor de São Leão Magno: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias da tua vida passada. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Não te esqueças de que foste libertado do poder das trevas e transferido para a luz e para o Reino de Deus”. É sempre necessário pensar em todas estas verdades.

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