O mês de março nos traz as comemorações da eleição e início do Pontificado do Papa Francisco. Na semana passada, pudemos assistir em nosso Auditório do Edifício João Paulo II ao lançamento do filme sobre sua vida: “Papa Francisco, Conquistando Corações”. Um filme hispano-argentino que está iniciando sua exibição no Brasil nesta semana. Além de uma série televisiva, também os jornais e revistas se interessam por esses momentos e, por isso, nesses próximos dias 13 e 19 farão suas reportagens e artigos sobre o fenômeno “Papa Francisco” que, além de chefe da Igreja Católica, tornou-se o grande líder mundial do momento.
Somos convidados a refletir um pouco mais detidamente a respeito dos quatro anos de pontificado do Papa Francisco, que estamos comemorando. Logo me veio à mente uma desafiadora questão: qual o segredo da liderança mundialmente reconhecida do Pontífice argentino?
Utilizo os dados e também como resposta à pergunta o livro de autoria de Jeffrey A. Krames: “Liderar com humildad: 12 leciones de liderazgo del Papa Francisco”. (Buenos Aires: V&R, 2014). Tal obra, que vale a pena ser lida na íntegra, a meu ver projeta luz ao pontificado de Bergoglio e leva-nos à profunda reflexão em nossos próprios campos de ação.
Pois bem, já se vão quatro anos que, para a surpresa da grande maioria, inclusive de órgãos de imprensa com suas listas de papáveis (papabili), era anunciado um nome um tanto fora de cogitação no balcão da Praça São Pedro, após a tradicional fumaça branca: Jorge Mario Bergoglio que, dali em diante, assume o nome de Francisco. Nome de Papa também inédito na bimilenar da História da Igreja, mas que bem revela o seu “programa de pontificado”: ser um reformador da “Casa de Deus” sem dela sair, assim como há muitos séculos fez seu inspirador homônimo, Francisco de Assis, grande santo da Igreja e querido também por muitos não católicos e até mesmo não crentes.
No entanto, o que me proponho a refletir, como afirmava de início, é sobre a liderança operante de Francisco, que Krames assim interpreta: “Que tem este líder para atrair a atenção de tanta gente? Talvez a humildade que desprende tanto em seu modo de viver, como na maneira que conduz seu rebanho. Quiçá é a genuína preocupação que ele mostra pelos demais, muito além de sua inserção no estrato social. Talvez é a forma com que abraça a sinceridade e a austeridade… É tudo isso e muito mais. Este Papa se mostra como um dirigente que compreende que os líderes conduzem pessoas, não instituições. Lamentavelmente, pouca gente entende que este é um entorno cada vez mais impessoal e de alta tecnologia”. (p. 24 – tradução livre).
Evidentemente, que citar todos os grandes feitos do Papa Bergoglio demandaria grande espaço, e outros meios de informação já o fizeram com precisão, de modo que me limito a lembrar apenas de alguns dados: canonizou 833 santos(as), entre processos comuns e “equipolentes”, ou seja, quando a fama de santidade vem de longos anos, mas não há um reconhecimento formal ou oficial da Igreja; declarou beatos(as) outras 974 pessoas superando, assim, São João Paulo II nesse quesito. Fez doze viagens em território italiano e 17 internacionais por 24 países, incluindo o Brasil nos dias 22 a 29 de julho de 2013, ocasião em que esteve aqui na nossa querida Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), e também visitou a cidade de Aparecida, em São Paulo, – a capital nacional da fé. Sou-lhe imensamente grato por esse gesto de deferência para com o povo brasileiro. Até hoje a nossa cidade não se esquece daquele momento de renovação espiritual e de testemunho da catolicidade em terras cariocas.
Até aqui, proferiu 787 discursos e 215 homilias; escreveu duas encíclicas: a Lumen Fidei, de 29/06/2013, e a Laudato Si, publicada em 18/06/2015; duas exortações pós-sinodais: a Evangelium Gaudium, de 24/11/2013, e a Amoris Laetitia, de 08/04/2016. Assinou também 16 Constituições Apostólicas, 99 Cartas, 38 Cartas Apostólicas, 18 Motu Proprios (documento de livre iniciativa), recebeu milhares de peregrinos em 168 audiências gerais, e presidiu 367 celebrações na Casa Santa Marta, no Vaticano. Realizou o Ano Extraordinário da Misericórdia em 2016. Combateu e combate com veemência os abusos de menores, de modo especial por parte de maus clérigos, publicando, inclusive, o Motu proprio “Como uma mãe amorosa”, no qual alerta que os bispos ou superiores religiosos maiores que acobertarem casos de abusos graves responderão na seara administrativa, podendo ser até removidos para sempre da função que ocupam. Tal medida traz, sem dúvida, maior segurança e confiança ao Povo de Deus.
Pensando na vida da Família de nossos dias, realizou dois Sínodos, um ordinário e outro extraordinário, e redigiu dois Motu Proprios, em 15 de agosto de 2015, com a reforma do processo canônico para as causas de nulidade do matrimônio: Mitis et misericors Iesus, no Código Canônico das Igrejas Orientais; e Mitis Iudex Dominus Iesus, no Código de Direito Canônico da Igreja Latina, a fim de ajudar a não poucos casais cujo casamento, apesar de todas as aparências de validade, nunca existiu.
Não posso deixar de mencionar a criação de 44 cardeais eleitores e de alguns não eleitores de diversos países, demonstrando, desse modo, a catolicidade ou a totalidade abrangente da Igreja, aberta a todos os homens e mulheres de boa vontade. Dentre os cardeais criados por Francisco se inclui – por imerecidos méritos próprios, mas pela graça de Deus – este irmão que está à frente da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, buscando caminhar ao lado do Santo Padre no projeto de uma Igreja pobre para os pobres. Igreja que não exclui, mas procura trazer para si todos os desejosos de abraçarem o amor de Deus em suas vidas.
O Papa Francisco está criando pontes! Neste propósito ele convocou o Ano Santo Extraordinário da Misericórdia. Constantemente, o Papa tem dado testemunho de que a esperança cria pontes e não muros. O próprio Papa sintetiza o seu agir como Bispo de Roma na sua tradicional catequese: “…. a esperança cristã não pode renunciar à caridade genuína e concreta. Na Carta aos Romanos, o próprio Apóstolo das Nações afirma com o coração na mão: ‘Nós, que somos os fortes – que temos fé, esperança, ou que não temos muitas dificuldades – devemos suportar as fraquezas dos que são frágeis, e não agir à nossa maneira’(15,1). Suportar as debilidades do próximo. Depois, este testemunho não permanece fechado nos confins da comunidade cristã: ressoa em todo o seu vigor também fora, no contexto social e civil, como apelo a não criar muros, mas pontes; a não pagar o mal com o mal, a vencer o mal com o bem, a ofensa com o perdão – o cristão nunca pode dizer: vais pagar, nunca; este não é um gesto cristão; a ofensa vence-se com o perdão – a viver em paz com todos. Assim é a Igreja! E é isto que faz a esperança cristã, quando assume os lineamentos fortes, e ao mesmo tempo ternos, do amor. O amor é forte e terno. É bonito!” (Cf. L’Osservatore Romano, quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017, número 6, página 16).
Além disso, chamou um grupo de Cardeais para a reforma da Cúria Romana e tomou muitas medidas administrativas com relação ao IOR, e também na nova disposição dos dicastérios da cúria romana. Grandes e importantes mudanças que vão ocorrendo nessa dinâmica. Enfim, são tantas atividades e mudanças que vieram para ficar e marcam seu pontificado. Nesta semana que antecede seus aniversários, participou do retiro anual da Quaresma com a Cúria Romana, agora sendo realizado fora do Vaticano.
Grande destaque merece sua liderança mundial com relação aos refugiados, à fome e à procura da paz. São temas que retornam sempre em suas exortações. A sua proximidade e preocupação com os pobres têm sido demonstradas não só com palavras, mas com muitos gestos concretos seja pessoalmente pelo Papa, seja pelos seus emissários, para estarem presentes junto aos excluídos e marginalizados.
É um pastor preocupado com seu povo e para que seu povo seja bem assistido e respeitado. É o pastor que vai em busca da ovelha perdida e quer acolher a todos. É aquele que dialoga com quem está longe e procura construir pontes para o presente e para o futuro.
A Igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro, pelo seu Arcebispo Metropolitano, com os seus Bispos Auxiliares e Eméritos, o Presbitério, os Diáconos, os Religiosos e Religiosas, as forças vivas da ação evangelizadora e todo o povo de Deus, que aqui caminha como Igreja peregrina, quer se unir espiritualmente oferecendo nesta semana do aniversário de seu pontificado coroas espirituais de orações nas suas intenções, para que o seu Pontificado continue sendo a graça da santificação do povo de Deus que peregrina na Urbe e no Orbe.
Parabéns, Papa Francisco, pelos quatro anos à frente da Barca de Pedro, ouvindo-nos como irmãos no Batismo, no Sacerdócio e no Episcopado e orientando-nos como um pai amoroso que nos ensina não só por sábias e precisas palavras, mas também pelo luminoso exemplo de seus pequenos gestos, repletos de grande humildade.
Obrigado! Muito obrigado pelo seu testemunho! De nossa parte continuamos rezando, sempre e diariamente, pelo seu ministério e pela sua pessoa, pela sua vida!