Ricardo Gaiotti Silva é advogado, juiz eclesiástico no Tribunal Interdiocesano de Aparecida, mestrando em Filosofia do Direito pela PUC-SP e mestrando em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade de Salamanca – Espanha.
O cenário “bélico” que estava rodeando os noticiários do Brasil foi amenizado pelas Olimpíadas. Por outro lado, fomos bombardeados de informações como nomes de atletas, países e esportes desconhecidos, números e marcas que nunca tínhamos ouvido falar. Diante de tanta coisa que nos foi passada, podemos tirar inúmeras lições para o nosso dia a dia. De fato, há muitos bons frutos a colher, quer seja a partir da disciplina dos campeões, dos esforços dos derrotados e até mesmo da disputa sadia com os “inimigos”.
Lição de Fraternidade: como não se emocionar com a abertura dos jogos, sinal de união pacífica entre os povos, testemunho de que mesmo diante de nossas diferenças somos irmãos, filhos do mesmo “Pai”, tendo em vista que “Deus não faz distinção de pessoas” (At 10, 34). Sem dúvida, fica para nós a lição de que juntos podemos construir um mundo melhor, pois “a humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum” (Papa Francisco na Encíclica Laudato si’).
Lição de Perseverança: emocionante foi a conquista do ginasta brasileiro Diego Hypólito, que após dois fracassos em Olimpíadas anteriores conseguiu a tão sonhada medalha. Já com a medalha no peito, desabafou emocionado: “Nunca deixe que digam até onde vai o seu sonho. Se nós trabalharmos, temos a possibilidade de chegar em um resultado que sonhamos”. Diego foi um perseverante, não desistiu apesar das quedas. Diante deste exemplo, recordo-me uma frase de São Josemaria Escrivá: “A vida espiritual é um contínuo começar e recomeçar”. A nós fica a lição: não desistir diante das quedas.
Lição de Reconciliação: uma simples “selfie” entre duas ginastas coreanas – uma do norte outra do sul, cidadãs de países “inimigos” -, nos deu a lição de que, como disse São João Paulo II em sua mensagem para a celebração do XVI dia Mundial da Paz, “o diálogo para a paz é possível, pois os homens afinal são capazes de ultrapassar as divisões, os conflitos de interesses e mesmo as oposições que parecem radicais, se acreditarem na eficácia do diálogo”.
Outra bela lição nos deu o Papa Francisco em sua mensagem por ocasião dos Jogos Olímpicos. Exortou-nos o Santo Padre: “diante de um mundo que está sedento de paz, tolerância e reconciliação, faço votos de que o espírito dos Jogos Olímpicos possa inspirar a todos, participantes e espectadores, a combater o bom combate e a terminar juntos a corrida (cf. 2 Tm 4, 7-8), almejando alcançar como prêmio não uma medalha, mas algo muito mais valioso: a realização de uma civilização onde reine a solidariedade, fundada no reconhecimento de que todos somos membros de uma única família humana, independentemente das diferenças de cultura, cor da pele ou religião”.
Que possamos ser atingidos pelas “Lições” dos Jogos Olímpicos, e desta forma sermos motivados a viver de forma “virtuosa”, empenhados na construção de uma sociedade justa, fraterna, tolerante e pacífica. E os bons exemplos não param por aí: a partir de 7 de setembro presenciaremos as Paraolimpíadas: certamente teremos mais e mais boas histórias para nos inspirar na luta por um mundo melhor. Assim, que não apenas alguns afortunados sejam “medalhistas”, mas todos tenhamos a possibilidade de sermos vencedores.
Jornal “O São Paulo”, edição 3117, 31 de agosto a 7 de setembro de 2016.
Fonte: Núcleo Fé e Cultura