Os mestres da espiritualidade são unânimes em ensinar que o egoísmo é fonte de muitos pecados e o inimigo do amor a Deus e ao próximo. Trata-se do amor próprio excessivo. O próprio Cristo preceituou que se deve amar os outros como se ama a si mesmo Mt 22,39, ou seja, fazer ao outro o que cada um faria a si e desejar-lhe o que cada um almeja para si. O egoísta, porém, só leva em consideração suas opiniões pessoais, seus interesses e necessidades, desprezando os outros. É um exclusivismo que faz o indivíduo referir tudo a si mesmo. Isto gera o detestável orgulho, uma deletéria presunção e causa desuniões. Daí enraíza o estado de egocentrismo com todas as suas outras terríveis consequências como o ciúme e a intolerância. É “o eu como centro” de tudo, foco de todas as atenções. A egolatria torna impossível qualquer empatia, isto é, impede a sintonia com o outro. Leva muitas vezes também ao narcisismo que se transforma em patologia, ou seja, a pessoa pode passar do estado normal para o doentio, entrando em conflito com ideias culturais e éticas, dificultando suas relações normais no meio social. Tudo isto é um empecilho para a prática da virtude da caridade. Donde a injustiça nos julgamentos, a crítica perversa, a parcialidade nas palavras e no modo de ser, a hostilidade, o rancor. O egoísmo infecciona as afeições e torna o convívio insuportável, pois o egocêntrico é incapaz de compreender o ponto de vista alheio e disto pode resultar o isolamento e o medo, uma vez que não é capaz de irradiar simpatia. Cumpre, portanto, superar o egoísmo Em primeiro lugar, se dispor a receber uma luz sobrenatural para saber discernir com sabedoria o relacionamento com os outros, não se julgado melhor do que eles. Deste modo, se evitam as ilusões criadas pelo egoísmo. É preciso, também, saber sacrificar os interesses próprios aos alheios sob a luminosidade do amor mútuo. É necessário eliminar as inclinações e aversões naturais, o que é possível com a graça divina, que ajuda a afastar os ressentimentos e todo tipo de malignidade. Com a proteção de Deus impera então a generosidade, a brandura. Aos poucos, com a superação do egocentrismo, se abre o caminho para a participação dos frutos do próprio trabalho e das próprias experiências espirituais. O cristão se torna agente da concórdia no lar, no trabalho, nos lugares de diversão, enfim, por toda parte. Passa a imperar a compreensão e se verifica uma maneira de ser mais consequente com o amor mútuo. Vencido o egoísmo, o fiel não enquadra os outros nos seus moldes mentais, impondo seu julgamento, tantas vezes precipitado. Desaparecem as objurgações e o cristão procura nunca cair na defensiva. Analisa o que os outros dizem a seu respeito e, se eles têm razão, procura se corrigir se não tem fundamento suas assertivas não discutam, mas, humildemente, esquecem inclusive qualquer modalidade de possível ofensa Andrea Meeatali, ensina que ao vencer o egoísmo o discípulo de Cristo se torna disponível. Isto porque, não vê o outro como objeto opositor, sim como verdadeiro sujeito digno de respeito. Lembra este professor de ciências da educação, que “o outro é um Tu, isto é, uma presença unido aos outros pela esperança comum, pela fidelidade à pessoa absoluta, Deus”. De fato, quanto menor o egoísmo, maior o altruísmo e o bom entendimento dentro de uma comunidade. Raia a benevolência, a solidariedade, acentuando o vínculo fraterno por força do respeito à personalidade dos outros. Trata-se da capacidade de captar os aspectos positivos que há nas pessoas com as quais se convive, abolindo-se a malevolência que induz a ressaltar os defeitos alheios e impede uma maneira cristã de ajudar os outros a se corrigirem. Com todas estas considerações se entende melhor o que escreveu São Paulo aos Coríntios: “A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é ciumenta, não é orgulhosa, não é indecorosa; não é interesseira, não se irrita, não guarda rancor; não folga com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, sofre, a caridade não acaba jamais. (I Cor. 13,4-8). O egoísta jamais atinge este fastígio da perfeição cristã, porque somente os grandes corações têm a dita de conhecer a ventura de possuir a bondade. Com efeito, para quem não é egoísta a felicidade alheira, a alegria dos outros causam deliciosa satisfação. Em síntese, se pode afirmar que o egoísta se torna vítima de suas fragilidades e vulnerabilidades, dado que vive enclausurado em si mesmo. Não aceita as críticas construtivas do próximo. Julga-se merecedor de tudo e, por isto, despreza o outro. Ao se julgar dono da verdade não enxerga nunca seus defeitos. A crítica é uma de suas peculiaridades mais detestáveis. Por lhe faltar humildade o egoísta supervaloriza seus sucessos e cai numa lamentável ilusão. Eis por que vencer o amor próprio excessivo é sempre um belo ideal a ser colimado. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos