Aventura da vida cristã

    A vida humana é uma verdadeira aventura. Aventura é ficar à disposição e se preparar para o que der e vier. Os cristãos, seguidores de Jesus de Nazaré, são convidados a mergulhar no mistério de Cristo, a viver a fé em comunidades, no intuito de participar da sonhada Páscoa definitiva, maior das aventuras, e o sucesso das aventuras transforma as pessoas em bem-aventuradas. O convite do Papa Francisco, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro (17/07/2016), para a recitação da Oração do Ângelus, veio a calhar muito bem no desafio da aventura cristã, chamando-as a redescobrir a hospitalidade como uma virtude verdadeiramente humana e cristã, uma virtude em que no mundo de hoje corre-se o risco de negligenciá-la.
    No Evangelho de Marta e Maria, Jesus não censura o trabalho de Marta. Não poderia ir contra, diante do contexto didático do serviço, do ensinamento e do exemplo generoso da acolhida. O grande desafio e aventura, no ensinamento de Jesus a Marta e aos cristãos, é no sentido de que o Evangelho os converta, a ponto de revisar sua postura de trabalhar, afastando-se e distanciando-os dos sinais de exaspero, estresse e nervosismo, na aventura do dia a dia. A vida eterna, promessa de Jesus, é um presente do Pai para todas as pessoas que nele acreditam e por ele são capazes de se aventurar, na entrega da própria vida, compreendida como mistério de amor, dom e graça de Deus, mas que precisa, a todo custo, ser buscada, ser conquistada.
    Recordo-me da aventura do Padre Antônio Vieira, que soube, como sacerdote virtuoso e intelectual da melhor estirpe, aventurar-se, de tal modo que jamais podemos nos esquecer da grandeza e da beleza dos inúmeros sermões, dentre os quais os mais célebres: O sermão do quinto domingo da quaresma, O sermão da sexagésima, O sermão do bom ladrão, O sermão de Santo Antônio aos peixes, etc.
    Somos convidados a olhar para uma personalidade talentosa, maior riqueza intelectual do século XVII; inigualável foi no seu conhecimento; quão grandiosa foi sua alma e seu coração. Ao contrário dos que falam demais, Padre Antônio Vieira muito bem falou na esfera profética, não ficando indiferente, sempre que a circunstância lhe exigisse um posicionamento profético, sincero e concreto em favor dos mais desafortunados da vida, especialmente os indígenas e os negros.
    Que Deus nos dê a mesma graça, tendo Padre Antônio Vieira como referencial e exemplo, de sempre contemplar a grandeza da bondade e da misericórdia divina, servindo-nos uns aos outros, dentro das nossas possibilidades, do mais alto rigor da razão, numa enorme vontade de também contribuir para que a criatura humana seja cada vez mais aberta e voltada à beleza, a qual transcende e eleva-nos, como na assertiva de Santo Agostinho: “Oh, beleza sempre antiga e sempre nova, quão tardiamente te amei!”.

     

     

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