As férias escolares neste ano em nossa região carioca acontecem em data diferente. Aqui na cidade do Rio de Janeiro, as férias escolares de inverno não acontecerão, como ocorre sempre, no mês de julho, pois, pelo fato de termos neste ano os Jogos Olímpicos, elas serão em agosto. Sabemos que esse tempo é importante na vida dos alunos, professores e de todos os profissionais ligados à educação.
O ano letivo varia de acordo com as estações do ano. As férias maiores normalmente ocorrem no tempo do verão. Por isso o tempo escolar conta diferente de acordo com o hemisfério do planeta que habitamos. Mas, junto com a constatação da nova data das férias escolares de inverno (mais curta) deste ano, nos ajuda a refletir sobre a importância do tempo de descanso, a importância do lazer, e nos ajuda a viver mais “humanamente”.
A interrupção das aulas em férias de inverno e de verão ajuda a que descansemos das tensões para produzirmos melhor no tempo seguinte. Sabemos que o calendário escolar é muito corrido, com muitas atividades e avaliações. Assim, durante o processo, vários alunos vão se cansando e perdendo o rendimento, e aí entra a necessidade de parar um pouco para tomar mais ânimo e gás para encerrar a continuação do ano letivo.
Isso nos faz pensar na importância das férias do trabalho, no descanso semanal, no ano sabático e no tempo do jubileu!
Na Sagrada Escritura, no Antigo Testamento, vemos que o próprio Deus criou todas as coisas em seis dias e no sétimo descansou. “Guarde o sétimo dia como dia de santo descanso. É ordem minha. Trabalhe nos outros seis dias, mas o sétimo dia é dia de descanso do Senhor seu Deus. Nenhum trabalho será feito nesse dia, nem por você, nem por ninguém da sua casa, filhos, filhas, criados, criadas, bois, burros ou qualquer outro animal. Nem mesmo os estrangeiros que estejam morando com você. Todos têm de obedecer a este mandamento. Todos devem descansar nesse dia, sejam empregados ou patrões. Por que você fica obrigado a guardar o dia de descanso? Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar, e tudo que neles há, e descansou no sétimo. Por isso Eu separo o dia de descanso e lhe dou uma bênção toda especial”. (Êxodo 20,8-11).
Os judeus entendiam o sétimo dia, o shabat, não como a cessação de toda a atividade, mas como um tempo criativo, não como simplesmente descanso físico, e sim como tempo dedicado a Presença do Criador do próprio tempo, chamado Eternidade. O shabat é um período de reflexão, pensamento, observação, olhar as coisas sob outra perspectiva e dimensão. Avaliar o que sou e o que eu posso ser. Criar uma nova condição para o equilíbrio mental, físico e espiritual. Revisão da alma, oxigenação, se comprometer melhor com a visão que Deus nos deu. Coragem para perceber o novo. O que caracteriza um período sabático é o afastamento da rotina para rever rumos.
No Novo Testamento, temos o domingo como dia do Senhor e dia de descanso. O Senhor ressuscitou no primeiro dia da Semana e daí para frente os cristãos se reúnem nesse dia para celebrarem a presença do Ressuscitado na comunidade e celebrar o Santo Sacrifício da Missa. Esse descanso dominical passou para a cultura ocidental. O dia do Senhor e dia do descanso na sociedade civil tem uma importância e um significado que ultrapassam o horizonte propriamente cristão. O repouso é coisa “sagrada”, constituindo a condição necessária para o homem se subtrair ao ciclo, por vezes excessivamente absorvente, dos afazeres terrenos e retomar consciência de que tudo é obra de Deus. O domingo é o modelo natural para se compreender e celebrar aquelas solenidades do Ano Litúrgico, cujo valor espiritual para a existência cristã é tão importante. O domingo ritma o compromisso eclesial e espiritual de cada cristão, fazendo com que este se aprofunde nos mistérios de Cristo.
O domingo, além de ser o primeiro dia, é o “oitavo dia”, ou seja, ele não só dá início ao tempo, mas também ao seu fim (escatologia). Assim, o domingo é o prenúncio daquilo que vai acontecer conosco. É o dia que anima e estimula os cristãos, como peregrinos neste mundo, a caminharem rumo à pátria celeste. A cada domingo que celebramos vivenciamos o Evento da Ressurreição. Por isso, o domingo possui para nós cristãos um grande significado, ou seja, a passagem da morte para a vida e de trevas para a luz. Para isto, São Basílio fala do domingo como “santo domingo, honrado pela ressurreição do Senhor, primícia de todos os dias”. (n.19). E Santo Agostinho refere-se ao domingo como “Sacramento da Páscoa” (n.19). O domingo possui este caráter de Páscoa semanal, pois, de domingo a domingo nos preparamos para o “Grande Domingo”, que será a parusia.
Temos estes dias na semana como dias de descanso, mas não são suficientes; daí temos, tanto no calendário escolar como trabalhista, as férias. As férias é um momento de repousarmos, de estar com a família e com os amigos. Divertir-se – o mesmo com relação às férias – é sair um pouco do habitual, do esforço ao qual estamos acostumados. De certa maneira, é retirarmo-nos de nós próprios. Mas a alegria, o sossego, a paz, a recuperação de energias não se conseguem fugindo do verdadeiro centro da nossa existência, que é como que o nosso centro de gravidade espiritual. Sair de Deus é violentar o mais profundo do núcleo pessoal e isto não pode proporcionar um verdadeiro descanso. Quando o Senhor diz vinde a mim vós que estais cansados (Mt 5, 5), entre outras coisas adverte-nos que fora d´Ele não existe verdadeiro descanso.
As férias são importantes para todos. Vemos que o próprio Deus “descansou” no sétimo dia. Se o próprio Deus descansou, nós também, que somos “pobres mortais”, necessitamos e merecemos umas férias. Mas, o importante é que as férias sejam momentos de encontrar com Deus, com a Mãe Igreja, conosco e com o próximo. Vivamos, como gesto concreto do Ano Santo Extraordinário, uma obra de misericórdia corporal e espiritual, em favor dos que mais necessitam. O Papa Francisco, que vive este tempo de férias de verão europeu, nos tem demonstrado que elas podem ser oportunidades de outro tipo de atividade mais livres, mas sempre centrada em nossa vida com Deus. Estar com os que precisam e que vivem em situação de dificuldade, material e espiritual, é descansar e encontrar respostas para muitas de nossas inquietações humanas.
Boas férias e sejamos autenticamente misericordiosos como o Pai!