Malatya (Agência Fides) – Bulent Aral, o último acusado pelo massacre de cristãos de Malatya, que ainda estava detido, foi libertado nos últimos dias. Enquanto isso, o processo que deve verificar se o acusado é culpado se prolonga, já que a próxima audiência deveria se realizar em 28 de junho. Em fins de maio, intensificaram-se as operações para ligar este episódio judiciário à evolução do “processo Ergenekon”, o chamado processo sobre o “Estado profundo” que pressiona desde 2008 setores militares acusados de fomentar um complô ultranacionalista contra o governo Erdogan. Na época, o processo Ergenekon foi conduzido também por ambientes judiciários próximos ao movimento Hizmat de Fetullah Gulen, pregador e especialista em política turca aliado, na época, de Erdogan, mas que sucessivamente entrou em rota de colisão com o homem forte da política turca, emigrou aos Estados Unidos e foi rotulado pelos círculos pró-governo como artífice de conspirações internacionais para lesar a liderança de Erdogan. O movimento Hizmat hoje é rotulado na Turquia como “organização terrorista” e também o processo pelo massacre de Malatya está condicionado pelas convulsões e guinadas no cenário e pelas alianças que caracterizam a enigmática praxe do sistema turco.
Resumindo: no momento atual, testemunhas avalizam a tese segundo a qual o processo pela tragédia dos cristãos foi manipulado por setores próximos de Fetullah Gulen que queriam utilizá-lo para condenar seus opositores.
Em 18 de abril de 2007, três cristãos evangélicos – os turcos Necati Aydin e Ugur Yuksel e o alemão Tilmann Geske – foram atados e degolados na sede da casa editora Zirve, aonde colaboravam. Ao redor dos homicídios, o inquérito identificou uma ampla rede de cumplicidades e de coberturas que envolviam membros de setores militares e forças de segurança considerados ligados às estruturas ocultas do “Estado profundo”, acusadas em seguida também no processo Ergenekon. Segundo as hipóteses consideradas pela acusação, o massacre foi perpetrado por estes atores, com a intenção específica de que a responsabilidade caísse em grupos islâmicos e, indiretamente, atingisse o governo islâmico de Erdogan. Depois, com a evolução do cenário político turco e a ruptura das relações entre Erdogan e a rede ligada a Fetullah Gulen, também o processo sobre o massacre de Malatya mudou bruscamente de direção, e ao redor do caso dos três cristãos mortos, multiplicaram-se operações de manipulação política. Em junho de 2014 foi libertado o general Hursit Tolon, suspeito de ser o mandante dos homicídios, enquanto nos últimos meses do mesmo ano, outros três detentos recém-libertados haviam iniciado a atribuir o tríplice homicídio a membros do movimento Hizmat de Fetullah Gulen. Enfim, outros três detentos foram libertados em 21 de janeiro de 2015 (veja Fides 27/1/2015). Depois da libertação, dos vinte homens presos inicialmente pelo massacre, o único ainda recluso era Bulent Aral, libertado nos dias passados.
Fonte: Agência Fides