O povo judeu sentia-se muito orgulhoso do seu passado. Em suas Escrituras Sagradas, encontrava o testemunho dos antigos profetas e das leis que havia recebido das mãos de Moisés. Eles eram o povo escolhido de Deus. Fora do povo judeu, não era possível encontrar a salvação. Os demais, aqueles que não eram judeus, eram pagãos, ignorantes. E, se algum desses desejasse integrar-se ao povo eleito, deveria passar por um longo processo. E, no final, sempre seria um judeu de segunda classe. Assim era nos tempos de Jesus.
Por isso, a afirmação de Jesus na parte final do Evangelho, surpreendeu os judeus que o ouviam. As palavras de Jesus ultrapassaram o limite do que poderiam admitir. Era inconcebível que um rabi, um mestre da lei, assegurasse que “nem mesmo em Israel tinha encontrado tanta fé como neste homem”. Como Jesus podia dizer que alguém – ainda que fosse muito amigo do povo judeu – pudesse ter mais fé do que os próprios judeus? É preciso repetir: isso era impensável e ia além daquilo que poderia ser admitido.
Também na Igreja, colocamos, muitas vezes, barreiras entre nós, que estamos dentro e os que estão fora, entre os que vão à missa e aqueles que não vão: entre os que cumprem e aqueles que não o fazem. No passado, chegamos a afirmar que “fora da Igreja, não há salvação”, e assim condenávamos implicitamente milhões de homens e mulheres que jamais tiveram nem sequer a possibilidade material de conhecer Jesus e a Igreja.
A realidade é muito diferente. A mensagem de Jesus é universal. Não conhece fronteiras de nenhum tipo, nem de nações, nem de culturas: nem de sexo, nem de raça. Nem mesmo a recepção da mensagem exige que a pessoa tenha um histórico limpo de pó e palha. A palavra de Jesus é dirigida a todos e nos convida à conversão e ao acolhimento do Reino de Deus, o Reino de seu Pai. Somos convocados a fazer parte de sua família, a compartilhar da mesa dos filhos e filhas, sem distinções, sem classes, sem privilégios.
Aqueles que recebem tal mensagem, venham de onde vierem, são parte do Reino. Aqueles que trabalham com sinceridade pela justiça e pela igualdade são filhos e filhas de Deus. Ainda que não tenham sido batizados, ainda que não sejam oficialmente dos nossos. O Reino encontra-se além de nossas leis, tradições e costumes. O Reino cresce dentro das pessoas de uma maneira misteriosa. Às vezes o vemos, noutras, não., Mas, quando vemos as obras ( fé, o compromisso pela paz e a justiça, o amor por todos…),então, sabemos que estes e estas são filhos de Deus, cidadãos do Reino, nossos irmãos e irmãs. Ainda que não estejam presentes à Missa.